quinta-feira, 5 de março de 2020

O Evangelho dominical (Pagola) - 08.03.2020


OS MEDOS DA IGREJA

Provavelmente, o medo é o que mais paralisa os cristãos e dificulta seguir fielmente a Jesus Cristo. Na Igreja atual, há pecado e fraqueza, mas, há sobretudo, medo de correr riscos. Iniciamos o terceiro milênio sem audácia para renovar criativamente a vivencia da fé cristã. Não é difícil assinalar alguns desses medos.
Temos medo do novo, como se conservar o passado garantisse automaticamente a fidelidade ao Evangelho. É verdade que o Concílio Vaticano II afirmou deforma rotunda que na Igreja deve haver uma constante reforma, pois como instituição humana, necessita-a permanentemente. No entanto, não é menos verdade que o que move a Igreja nestes momentos não é tanto um espírito de renovação, mas um instinto de conservação.
Temos medo de assumir as tensões e conflitos que surgem com a busca de fidelidade ao Evangelho. Calamo-nos quando deveríamos falar; inibimo-nos quando deveríamos intervir. Proíbe-se o debate de questões importantes, para evitar situações que podem inquietar. Preferimos a adesão rotineira que não traz problemas nem desgosta a hierarquia.
Temos medo da investigação teológica criativa. Medo de rever ritos e linguagens litúrgicas que não favorecem hoje a celebração viva da fé. Medo de falar dos direitos humanos dentro da Igreja. Medo de reconhecer praticamente à mulher um lugar mais de acordo com o espírito de Jesus.
Temos medo de colocar a misericórdia acima de tudo, esquecendo que a Igreja não recebeu o ministério do julgamento e da condenação, mas o ministério da reconciliação. Há medo de acolher os pecadores como Jesus fez. Dificilmente se dirá hoje da Igreja que é amiga dos pecadores, como se dizia do Seu Mestre.
Segundo o relato evangélico, os discípulos caem por terra cheios de medo ao ouvir uma voz que lhes diz: «Este é o meu Filho amado ... escutai-O». É assustador ouvir apenas Jesus. É o próprio Jesus quem se aproxima, toca-lhes e diz: «Levantai-vos, não tenhais medo». Só o contato vivo com Cristo nos poderia libertar de tanto medo.
José Antônio Pagola
Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

Nenhum comentário: