REZAR JUNTOS E RIR EM COMUM
A cena está cheia de ternura. Chegam os
discípulos cansados do trabalho realizado. A atividade é tão intensa que já não
conseguiam arranjar tempo para comer. E então Jesus faz-lhes este convite: “Venham
para um lugar tranquilo descansar”.
Hoje nós esquecemos com demasiada
frequência que um grupo de seguidores de Jesus não é apenas uma comunidade de
oração, reflexão e trabalho, mas também uma comunidade de convivência.
Nem sempre foi assim. O texto que se
segue não é de nenhum teólogo progressista. Foi escrito lá pelo Século IV por
aquele grande bispo pouco suspeito de frivolidades que foi Santo Agostinho.
“Um grupo de cristãos é um grupo de
pessoas que rezam juntas, mas também conversam juntas. Riem-se em comum e
trocam favores. Brincam juntos, e juntos falam a sério. Por vezes discordam,
mas sem animosidade, como às vezes se está consigo próprio, usando esse
desacordo para reforçar sempre o acordo habitual. Aprendem algo uns com os
outros ou ensinam uns aos outros. Sentem falta, com pena, dos ausentes. Acolhem
com alegria os que chegam. Fazem manifestações deste ou daquele tipo: faíscas
do coração dos que se amam, expressas no rosto, na linguagem, nos olhos, em mil
gestos de ternura”.
Talvez o que mais nos surpreenda hoje
neste texto seja aquela faceta de cristãos que sabem rezar, mas também sabem
rir. Sabem como estar sérios e sabem brincar. A igreja atual quase sempre
parece grave e solene. Parece que como cristãos temos medo do riso, como se o
riso fosse um sinal de frivolidade ou irresponsabilidade.
Há, no entanto, um humor e um saber rir
que é sinal de maturidade e sabedoria. É o sorriso do crente que sabe
relativizar o que é relativo, sem necessidade de dramatizar os problemas. É um
sorriso que nasce da confiança última desse Deus que nos olha a todos/as com
piedade e ternura. Um sorriso que se distende, liberta e dá força para
continuar a caminhar. Este sorriso une. Os que se riem juntos, não se atacam nem
se magoam, porque o riso verdadeiramente humano nasce de um coração que sabe
compreender e amar.
José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez
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