A Igreja é fiel a Jesus à medida em que vive em ritmo de missão!
Ainda está viva na
nossa memória a recepção pouco positiva que a comunidade de Nazaré dispensou a
Jesus. Por causa da sua origem humilde, o impacto provocado pela sua sabedoria
logo se transformou em escândalo. A encarnação humilde, porém, não é mero
acidente de percurso, mas o método missionário de Jesus! Ele envia os
discípulos recomendando despojamento e humildade, pedindo que tomem parte na
sua missão. A comunidade cristã é uma assembleia de pessoas chamadas e
enviadas, e Paulo diz que Deus nos escolheu antes da criação do mundo para
sermos santos e sem ambiguidades no amor.
Igreja significa
etimologicamente assembleia, ou
reunião. A Igreja é uma autêntica assembleia de Deus, convocada e reunida por
ele e em nome dele. Esta assembleia representa os “interesses” de Jesus no
mundo. A razão de ser da Igreja é deixar-se enviar, colocar-se a caminho,
assumir uma missão, continuar a própria missão iniciada por Jesus Cristo. Ela é
uma assembleia de pessoas enviadas, uma comunidade em missão. Isso significa
que a Igreja não é uma sociedade voltada para si mesma, autorreferencial, como
fala o Papa Francisco. A Igreja é uma espécie de movimento para fora, uma
comunidade ex-cêntrica.
Preparar-se e
capacitar-se para a missão recebida é sinal de responsabilidade pessoal e de
apreço pelos destinatários do serviço. No caso da missão que Jesus Cristo
confia à comunidade cristã, a preocupação exagerada com os meios e com os
recursos não deve travar as iniciativas nem adiar o enfrentamento das
urgências. O que é indispensável é o mergulho pessoal no Evangelho de Jesus
Cristo e a disposição de partilhar gratuitamente a liberdade e a dignidade que
de graça recebemos. Como Jesus, seus discípulos não devemos nos preocupar
demais com meios poderosos e técnicas especiais.
Não penso que a
preparação espiritual e intelectual não seja necessária, mas sublinho que não
devemos colocar aquilo que é secundário no lugar do que é essencial. Sem a
experiência de fé e da liberdade que despoja e simplifica, não há curso ou
instrumento multimídia que possa ajudar na missão. Sem a postura fraterna não
existe missão frutuosa. A vocação missionária não é uma profissão que traz
benefícios ou prosperidade mas uma força desestabilizadora e profética, o que a
faz nem sempre aceita e aplaudida.
Anunciar “Jesus te ama
e te salva” é bonito e verdadeiro, mas é pouco e insuficiente. É uma pena que
haja missionários/as que imaginam que é necessário defender Jesus diante de um
mundo indiferente ou resistente à religião, pois é o povo de Deus, e não Jesus,
que precisa de defensores! E há pregadores/as que esquecem que a missão tem uma
dimensão ativa, transformadora, libertadora: expulsar demônios, curar doentes,
etc. Isso não significa virar exorcista ou curandeiro, mas criar condições para
que as pessoas arrebentadas por dentro e por fora, menosprezadas e oprimidas,
recuperem plenas condições de vida.
Em cada situação
precisamos identificar quem são as pessoas e grupos aos quais são negadas as
possibilidades de uma vida plena, e agir em favor delas, levando em conta que,
por mais que as ações espetaculares de expulsar os demônios e curar os doentes
impressionem, a dimensão transformadora da missão cristã se mostra melhor
noutras iniciativas que dão menos ibope, como na corajosa ação da CPT, no
delicado trabalho do CIMI, na atividade da Pastoral da Criança, no trabalho da
Pastoral Carcerária, etc.
É uma verdade central
da nossa fé que, em Cristo, Deus nos abençoou abundantemente e nos escolheu
ainda antes de criar o mundo para sermos pessoas maduras e íntegras no amor.
Ele também abriu nossa mente à compreensão do mistério da sua santa vontade, adotou-nos
como filhos e filhas e nos introduziu na lista dos seus herdeiros/as. E isso
não é pouco, nem coisa abstrata ou para um futuro incerto. O que não podemos é
pensar que isso seja mérito ou privilégio. Somos filhos e filhas, e herdeiros e
herdeiras, porque ele é bom, nos ama e nos acolhe, sem levar em conta nossas
ambiguidades e limites.
Jesus Cristo, profeta de Nazaré e missionário do Pai!
Tu nos ensinas que a vontade mais genuína do teu e nosso Pai é que o amor e a
fidelidade se encontrem, a justiça e a paz se abracem, a fidelidade brote da
terra e a justiça se incline do céu. É isso que tu pedes que anunciemos e
realizemos enquanto Igreja discípula e missionária. Por isso, confiantes, te
pedimos pelos servidores e servidoras da Palavra, por aqueles/as cuja missão é,
na medida do possível, atrair as pessoas a ti: abençoa o trabalho deles/as, de
modo que realizando-o possam também eles ser atraídos/as a ti e confirmados/as
na alegria. Assim seja! Amém!
Itacir
Brassiani msf
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