Nada e ninguém consegue algemar o Evangelho de Cristo!
Escutemos e acolhamos
com reverência o testemunho de São Pedro e São Paulo, estes irmãos maiores, colunas
que sustentam as comunidades cristãs. Para chegar à vida real destes
personagens é preciso escutar as Escrituras. Se é verdade que Pedro é o
primeiro líder dos cristãos e Paulo é o apóstolo dos povos, também é certo que
ambos, cada um a seu modo e a seu tempo, foram discípulos de Jesus e passaram
por sucessivas crises e dificuldades, provaram a prisão e foram martirizados.
Esqueçamos por um
instante a cena contada por Mateus, e centremos nossa atenção no acontecimento
narrado nos Atos dos Apóstolos. Pedro, o primeiro Papa, foi presidiário! Para
que servem as chaves prometidas por Jesus Cristo se não ajudam a soltar as algemas
que o prendem ou abrir a porta da prisão, mantida sob rigorosa vigilância? Parece
que Pedro estava imerso na penumbra desta e outras perguntas quando uma luz
iluminou sua cela, uma mão tocou seu ombro e uma voz ordenou que se levantasse.
As algemas caíram, os guardas não viram nada, e a porta que separava a cela da
cidade se abriu sozinha.
Paulo, por sua vez, depois
de ter sido um fariseu zeloso e violento e de ter acumulado muitos méritos e honras
por causa disso, fez a experiência de ser conquistado por Jesus Cristo e,
diante do bem supremo desta acolhida gratuita e imerecida, considerou tudo o
mais como déficit na contabilidade da vida (cf. Fil 3,1-14) e se lançou
incansavelmente no anúncio desta boa notícia, especialmente às pessoas e
comunidades de origem pagã. O ardor que Paulo demonstrara pelo judaísmo se
transformou em zelo pela fé em Jesus Cristo.
Sua complexa
trajetória de vida atraiu contra Paulo a desconfiança dos próprios cristãos e o
ódio dos seus irmãos judeus. Depois de sucessivos enfrentamentos e
perseguições, ele também acabou na prisão. Sendo cidadão romano, exigiu o
direito de ser julgado pelo imperador, e foi conduzido a Roma. Entretanto,
ninguém conseguiu colocar sob algemas aquilo que o fazia livre: a Boa Notícia
de Jesus Cristo. “Por ele, eu tenho sofrido até ser acorrentado como um
malfeitor. Mas a Palavra de Deus não está acorrentada”, escreveu.
Pedro e Paulo são filhos,
irmãos e pais da fé numa Igreja que confirmou com a vida aquilo que anunciou
com as palavras. De um lado, Pedro, Paulo e os demais cristãos detidos mantêm
contato com as suas comunidades de base, inclusive através de cartas às suas
principais lideranças; de outro, as comunidades não ficam indiferentes, apesar
da crise de fé provocada por uma perseguição feita em nome de Deus e da
religião, assim como pelos riscos políticos e sociais que estas relações
implicam. O vínculo entre a comunidade e seus líderes presos se mostra de um
modo singelo e comovente no relato dos Atos dos Apóstolos, que a liturgia nos
propõe hoje (cf. 12,1-11).
As escrituras dizem
que “enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja orava continuamente por
ele.” É neste contexto que Pedro experimenta a presença fiel de Deus também na
prisão. Logo que é libertado do cárcere, vai à casa da mãe de João Marcos, onde
a comunidade cristã está reunida em oração. Quando Rosa, a mãe de Marcos, abre
a porta e vê que é Pedro, é tomada de tanta alegria que o deixa plantado do
lado de fora, e vai às pressas anunciar a boa notícia à comunidade reunida, a
qual pensa que Rosa está doida. Aberta a porta, Pedro entra, e conta, entusiasmado,
o que havia acontecido.
O que sustenta as
Igrejas e comunidades cristãs é o encontro com Deus em Jesus Cristo. O que o
evangelho de hoje nos propõe é substancialmente isso. Num lugar marcado pelo
domínio estrangeiro, Jesus interroga seus discípulos sobre o que pensam dele. E
Pedro é o primeiro dentre todos os discípulos a reconhecê-lo e proclamá-lo
Messias. Só quem está aberto e sintonizado com a lógica de Deus pode reconhecer
sua presença nas ações e palavras deste filho da humanidade, no irmão de todos
os seres humanos. Esta é a base sólida sobre a qual Jesus Cristo constrói a
comunidade cristã. É sobre esta fé, professada e vivida por Pedro, Paulo e uma
nuvem de testemunhas que os acompanham ou vêm depois, que a Igreja é
continuamente construída.
Queridos Pedro e Paulo, apóstolos e irmãos
na fé! Com vocês aprendemos que crer, confiar, partilhar e anunciar são os verbos
essenciais da gramática e na ação cristã. O/a verdadeiro/a discípulo/a é aquele/a
que conjuga estes verbos em todos os tempos, modos e pessoas. Ajudem-nos a
viver de tal modo que, chegando ao entardecer da existência, também nós
possamos dizer: “Chegou o tempo da minha partida. Combati o bom combate,
terminei a corrida, guardei a fé.” Suportando os sofrimentos e incertezas presentes,
jamais nos envergonhemos ou desanimemos, pois sabemos em quem acreditamos!
Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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