quinta-feira, 21 de outubro de 2021

O Evangelho dominical (Pagola) - 24.10.2021

UM GRITO INCÔMODO

Jesus sai de Jericó a caminho de Jerusalém. Vai acompanhado pelos seus discípulos e por outras pessoas. De repente, escutam gritos. É um mendigo cego que, da beira do caminho, se dirige a Jesus: “Filho de David, tem compaixão de mim!”

A cegueira impede-o de desfrutar a vida como as demais pessoas. Ele nunca poderá peregrinar até Jerusalém. Além disso, fechar-lhe-iam as portas do templo: os cegos não podiam entrar no recinto sagrado. Excluído da vida, marginalizado pelo povo, esquecido pelos representantes de Deus, só lhe resta pedir compaixão a Jesus.

Os discípulos e seguidores irritam-se. Aqueles gritos interrompem a marcha tranquila em direção a Jerusalém, e não permitem que eles escutem em paz as palavras de Jesus. Aquele pobre os incomoda. Há que silenciar os seus gritos. Por isso muitos o repreendiam para que se calasse.

A reação de Jesus é muito diferente. Ele não consegue seguir o seu caminho ignorando o sofrimento daquele homem. Detém-se, faz com que todo o grupo pare, e pede-lhes que chamem o cego. Os seus seguidores não podem seguir o caminho dele sem escutar o clamor das pessoas que sofrem.

A razão é simples, e é dita por Jesus de mil maneiras, em parábolas, exortações e ditados soltos: o centro do olhar e do coração de Deus são as pessoas que sofrem. Por isso Ele os acolhe e os defende, preferencialmente. A sua vida é, acima de tudo, para as pessoas maltratados pela vida ou pelas injustiças, as pessoas condenadas a viver sem esperança.

Os gritos dos cidadãos que vivem mal sempre nos incomodam. Pode irritar-nos encontrá-los continuamente nas páginas do Evangelho. Mas não nos é permitido mutilar a mensagem e o testemunho de Jesus. Não há Igreja sem escutar os que sofrem.

Eles estão no nosso caminho. Podemos encontrá-los em qualquer momento, muito perto de nós ou um pouco mais longe. Pedem ajuda e compaixão. A única postura cristã é aquela de Jesus perante o cego: “Que queres que faça por ti?” Esta deveria ser a atitude da Igreja perante aqueles que sofrem: que queres que faça por ti?

José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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