UM GRITO INCÔMODO
Jesus sai de Jericó a caminho de Jerusalém. Vai
acompanhado pelos seus discípulos e por outras pessoas. De repente, escutam
gritos. É um mendigo cego que, da beira
do caminho, se dirige a Jesus: “Filho de David, tem compaixão de mim!”
A cegueira impede-o
de desfrutar a vida como as demais pessoas. Ele nunca poderá peregrinar até
Jerusalém. Além disso, fechar-lhe-iam as
portas do templo: os cegos não podiam entrar no recinto sagrado. Excluído da vida, marginalizado pelo povo,
esquecido pelos representantes de Deus, só lhe resta pedir compaixão a Jesus.
Os discípulos e seguidores irritam-se. Aqueles gritos interrompem a marcha
tranquila em direção a Jerusalém, e não permitem que eles escutem em paz as
palavras de Jesus. Aquele pobre os incomoda. Há que silenciar os seus
gritos. Por isso muitos o repreendiam para que se calasse.
A reação de Jesus é
muito diferente. Ele não consegue seguir o seu
caminho ignorando o sofrimento daquele homem. Detém-se, faz com que todo o
grupo pare, e pede-lhes que chamem o cego. Os
seus seguidores não podem seguir o caminho dele sem escutar o clamor das
pessoas que sofrem.
A razão é simples, e é dita por Jesus de mil
maneiras, em parábolas, exortações e ditados soltos: o centro do olhar e do coração de Deus são as pessoas que sofrem. Por isso Ele os acolhe e os defende,
preferencialmente. A sua vida é, acima de tudo, para as pessoas maltratados
pela vida ou pelas injustiças, as pessoas condenadas a viver sem esperança.
Os gritos dos
cidadãos que vivem mal sempre nos incomodam.
Pode irritar-nos encontrá-los continuamente nas páginas do Evangelho. Mas não nos é permitido mutilar a mensagem
e o testemunho de Jesus. Não há Igreja sem escutar os que sofrem.
Eles estão no nosso
caminho. Podemos encontrá-los em qualquer momento, muito perto de nós ou um
pouco mais longe. Pedem ajuda e compaixão. A única postura cristã é aquela de Jesus
perante o cego: “Que queres que faça por ti?” Esta deveria ser a atitude da Igreja perante aqueles que sofrem: que
queres que faça por ti?
José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez
Nenhum comentário:
Postar um comentário