João Batista precede Jesus também no martírio
820 | 29 de agosto de 2025 | Marcos 6,17-29
A presença de João Batista nos evangelhos evidencia seus
vínculos com Jesus Cristo. Além de preparar os caminhos para a missão de Jesus,
o profeta do deserto e do rio Jordão antecipa em si mesmo o desfecho da missão
de Jesus. Suas posições claras contra os desvios éticos do seu tempo, e a
coragem com que enfrenta os poderosos de plantão, valeram-lhe a perseguição, a
prisão e a decapitação.
No texto de hoje, o protagonista é Herodes. Ele é judeu,
mas, como todas as elites sociais e políticas, cumpre a Lei da sua religião
apenas quando lhe convém. Ele tem medo de Jesus, e pensava que ele é uma
espécie de reencarnação de João Batista, a quem havia mandado matar. O delito
de Herodes vai além do roubo da mulher do seu irmão e da conivência com a morte
de João Batista. A presença dos grandes da Galileia na sua festa de aniversário
revela a quem ele serve, e de quem depende.
Marcos nos apresenta uma caricatura deveras sarcástica de
Herodes e das elites que o apoiam. As festas que promoviam davam asas às
paixões incontroláveis e aos seus caprichos assassinos. Entre eles, como em
toda a realeza, o casamento tinha fortes conotações de aliança para adquirir
sustentação política. O juramento ou promessa de Herodes à filha da sua
concubina revela o modo escuso como as elites tomam suas decisões políticas:
matam para salvar a própria honra.
Diante de Herodes e seus bajuladores, João não se intimida,
nem se cala, mas não é um homem apenas preocupado com o culto ou com a
moralidade dos costumes. Uma leitura atenta dos evangelhos nos mostra um
profeta engajado num movimento de mudança, no corte raso das instituições que
encobrem ou sustentam injustiças e violências, e numa partilha radical. É nesse
horizonte que ele enfrenta Herodes.
Marcos situa
a narração do martírio de João Batista no capítulo 6 do seu evangelho, onde a
discussão é sobre a identidade de Jesus. Com isso, o evangelista evidencia o destino
de todo aquele que anuncia e testemunha uma nova ordem social e religiosa. E,
além de uma antecipação do destino de Jesus, o destino de João Batista soa aos
discípulos de todos os tempos e latitudes como um forte alerta. João Batista é
precursor de Jesus também no seu martírio.
Sugestões para a
meditação
§ Perceba a força
política, social e religiosa da atuação corajosa de João Batista, profeta da
Judeia que estende sua missão à Galileia
§ Como você e sua
comunidade cristã tem se posicionado diante de um governo belicista e contrário
aos avanços sociais no Brasil?
§ Como podemos
evitar polêmicas religiosas parciais e estéreis, mas sem abandonar a necessária
dimensão política da fé?
§ Você tem medo dos conflitos provocados pela atuação profética dos cristãos em nome do Evangelho? Por que?
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