Vida Religiosa Consagrada: conversão e expectativa!
As
comunidades cristãs católicas dedicam a terceira semana do mês de agosto à oração
e reflexão sobre a vocação à vida religiosa consagrada. Esta forma de vida
reúne homens e mulheres que, mantendo sua condição leiga, se consagram a Deus e
vivem como eremitas ou em comunidades, tentando levar a sério o Evangelho de
Jesus Cristo e, assim, ser sinais eloquentes de alguns aspectos essenciais do
seguimento de Jesus Cristo, com o qual todos os cristãos estão comprometidos.
Ainda
hoje há quem pergunte se a vida religiosa consagrada é uma espécie de
sacrifício para reparar ou pagar os males praticados pela humanidade, se ela
seria o oferecimento de algumas vidas puras a Deus para reparar os muitos males
praticados pela maioria do povo. Parece que essa ideia, que vigorou em algumas
espiritualidades medievais, ainda não desapareceu totalmente da mente de alguns
setores sociais e eclesiais.
O
sentido fundamental da vida religiosa consagrada não está na penitência ou na
reparação, mas na conversão.
Quem se consagra a Deus torna público seu compromisso com a conversão
permanente e sempre mais profunda ao Evangelho de Jesus Cristo e se alista na
construção efetiva do Projeto de Deus, que é vida plena para todos. Não se
trata de uma simples conversão de costumes, mas de um projeto radical de vida.
A
maioria dos fundadores entendeu sua vocação nesta perspectiva. Por isso, as
pessoas consagradas precisam se perguntar se suas opções, atitudes e
compromissos práticos, pessoais ou comunitários, narram de modo claro e convincente sua conversão ao reino de
Deus, se demonstram que elas estão percorrendo um caminho diverso daquele da competição predatória proposta pela
cultura neoliberal que predomina hoje.
Mas
a vida religiosa tem também um sentido de expectativa e preparação. Com a própria vida, as pessoas
consagradas e suas comunidades proclamam a transitoriedade de todas as
conquistas e realizações históricas e convocam os homens e mulheres a criarem
as condições necessárias para acolher Jesus Cristo e ensaiar um mundo no qual
caibam todos os seres humanos e a convivência pacífica e solidária seja
possível.
Ao
seguimento histórico de Jesus Cristo e à conversão ao seu Evangelho correspondem
uma abertura e uma expectativa radical daquilo que ainda é objeto de desejo e
de esperança. A vida religiosa está orientada ao fim deste mundo e ao
"outro mundo possível". É em
relação a esse horizonte sonhado, proclamado e cantado que as pessoas
consagradas desejam plasmar sua própria vida e anunciar sua mensagem. Vivendo
assim, recordam vivamente aquilo que desejam todos as pessoas que aderem a
Cristo.
Levar
a sério esta dimensão escatológica da vida religiosa consagrada e assumi-la no
coração da própria existência significa viver em tensão permanente para um
futuro ainda não realizado, viver de esperança e sem contar com sólidas
seguranças, assumir a provisoriedade e a incompletude de qualquer comunidade e
de todas as lutas e conquistas. Em outros termos, significa viver como
peregrinos de esperança, sem cair na tentação de sentar sobre os louros e
glórias de um passado, frequentemente idealizado.
Dom Itacir Brassiani msf
Bispo Diocesano de Santa Cruz do Sul
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