Leigas e leigos católicos: uma maioria sem
expressão?
As
comunidades católicas dedicam a quarta semana do mês de agosto à reflexão sobre
a vocação e a missão dos leigos e leigas na Igreja e no mundo. Os vários
séculos do controle da Igreja concentradas pelas mãos do clero (e dos
religiosos) produziu um laicato obediente, silencioso, passivo e eclesialmente inexpressivo.
E acabamos acostumados com isso: o clero gera a Igreja e a governa, ensina e
fala em nome dela, e, finalmente, decide por ela.
Mas
seria este o único modo possível de organização e funcionamento da Igreja? Como
não lembrar aqui a inovação surpreendente e auspiciosa operada pelos apóstolos
no início do cristianismo? Todos os membros da Igreja, reunidos no Espírito,
tomavam juntos as decisões mais importantes. E a consciência de que não havia
diferença entre judeus e pagãos, homens e mulheres, senhores ou escravos, fazia
da fraternidade a ‘diferença’ cristã.
Citando
o Papa Francisco, o recente Sínodo dos Bispos afirmou que a sinodalidade é o
quadro interpretativo mais adequado para compreender o ministério hierárquico
(cf. § 33). Creio que a natureza sinodal
da Igreja, que coloca nesta perspectiva o mandato que Cristo confia a todos os
fiéis, é também a perspectiva mais adequada e promissora para compreender a
identidade e a missão dos leigos e leigas na Igreja e no mundo.
O
ponto de partida dessa compreensão é a dignidade do Povo de Deus, do qual todos
os fiéis são membros. “Não há nada mais elevado do que esta dignidade, igualmente
dada a cada pessoa”. Não há nada maior que a alegria de ser povo. Pelo batismo,
somos revestidos de Cristo e enxertados nele. Na identidade e na missão de
cristãos está contida a graça que está na base da nossa vida e nos faz caminhar
juntos como irmãos e irmãs” (cf. § 21).
Na
perspectiva do Sínodo, “todos os Batizados recebem dons para partilhar, cada um
segundo a sua vocação e a sua condição de vida”. As diversas vocações eclesiais
são “expressões múltiplas e articuladas do único chamamento batismal à
santidade e à missão”. A variedade dos carismas suscitada pelo Espírito Santo
tem como objetivo a unidade da Igreja e a missão nos diversos tempos, lugares e
culturas (cf. § 57).
Por
isso, os leigos e leigas pedem à hierarquia que não os deixe sozinhos, que sua
atuação no mundo cultural, social e político seja reconhecida pelo que é: “ação
da Igreja com base no Evangelho, e não uma opção privada”, e que sejam efetivamente
apoiados e reconhecidos. Isso pede que as comunidades e a hierarquia se
coloquem ao serviço da missão que eles realizam na sociedade, na vida familiar
e profissional, e não o inverso (cf. § 59).
O
reconhecimento e a participação das mulheres na Igreja é um desafio especial. O
Sínodo afirma que “não há razões que impeçam as mulheres de assumir funções de
liderança na Igreja”, pois “não se pode impedir o que vem do Espírito Santo”.
Por isso, a questão do acesso das mulheres ao ministério diaconal não está fechada.
É preciso continuar o discernimento a este respeito (cf. § 60). O Sínodo “deixa
a bola picando” na área das dioceses!
É
preciso remover os obstáculos que dificultam a plena participação dos leigos na
vida e missão da Igreja, assegurando: participação ampla em todas as fases dos
processos de decisão; mais acesso a cargos de direção nas instituições
eclesiásticas; aumento do número de leigos no ofício de juízes nos processos
canônicos; reconhecimento da dignidade dos funcionários da Igreja e suas
instituições e respeito dos seus legítimos direitos (cf. § 77).
Dom Itacir Brassiani msf
Bispo Diocesano de Santa Cruz do Sul
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