sexta-feira, 22 de maio de 2015

Semana de Oração pela Unidade Cristã (6)

REFLEXÕES BÍBLICAS E ORAÇÕES (6)


Testemunho: A água que eu lhe darei se tornará nele uma fonte  que jorrará para a vida eterna (João 4,14)
Textos: Ex 2,15-22; Salmo 91; 1João 4,16-21; Jo 4,11-15 
Comentário
O diálogo que começa com Jesus pedindo água se torna um diálogo em que Jesus promete água. Mais adiante, nesse mesmo Evangelho, Jesus vai pedir água outra vez. “Tenho sede” – diz ele na cruz - e a partir da cruz, Jesus se torna a prometida fonte de água que escorre do seu lado ferido. Recebemos essa água, essa vida que vem de Jesus, no batismo, e se torna uma água, uma vida que jorra para dentro de nós para ser oferecida e partilhada com outros.
Eis aqui o testemunho de uma mulher brasileira que bebeu dessa água e em quem essa água se tornou uma fonte:
A irmã Romi, uma enfermeira de Campo Grande, era uma pastora na tradição pentecostal. Numa noite de domingo, sozinha numa cabana, na vizinhança de Romi, uma menina indígena de dezesseis anos, chamada Semei, deu à luz um bebê, um menino. Ela foi encontrada caída no chão e sangrando. A irmã Romi a levou ao hospital. Questionamentos foram feitos: onde estava a família de Semei? A família foi encontrada mas lá não queriam saber de nada. Semei e seu bebê não tinham um lar para onde ir.  A irmã Romi os levou para a sua própria modesta casa. Ela não conhecia Semei e o preconceito em relação aos indígenas era forte em Campo Grande. Semei continuou a ter problemas de saúde, mas a  grande generosidade da irmã Romi despertou mais generosidade nos vizinhos. Uma outra mãe de parto recente, uma católica chamada Verônica, amamentou o bebê de Semei, que estava incapacitada para dar conta disso. Semei deu a seu filho o nome de Lucas Natanael e dentro de algum tempo eles puderam se mudar da cidade para uma fazenda, mas ela não esqueceu a bondade da irmã Romi e de seus vizinhos.
A água que Jesus dá, a água que a irmã Romi recebeu no batismo, tornou-se nela uma fonte de água e uma oferta de vida para Semei e seu filho. A partir de seu testemunho, essa mesma água batismal se tornou uma fonte na vida  dos vizinhos de Romi. A água do batismo jorrando na vida se torna um testemunho ecumênico do amor cristão em ação, uma amostra antecipada da vida eterna que Jesus promete. Gestos concretos como esse, praticados por pessoas comuns,  são o que nós precisamos para crescer em companheirismo. Eles nos dão testemunho do evangelho e da relevância das relações ecumênicas.
Questões
1.    Como você interpreta as palavras de Jesus quando ele diz que através dele podemos nos tornar “uma fonte de água jorrando para a vida eterna”?
2.    Onde você vê pessoas cristãs sendo fontes de água viva para você e para outros?
3.    Quais são as situações na vida pública em que as Igrejas deveriam falar a uma só voz para serem fontes de água viva?
Oração
Triuno Deus, seguindo o exemplo de Jesus, torna-nos testemunhas do teu amor. Dá-nos o dom de sermos instrumentos de justiça, paz e solidariedade. Que o teu Espírito nos leve a ações concretas que conduzem à unidade. Que as paredes sejam transformadas em pontes. Assim te pedimos em nome de Jesus Cristo na unidade do Espírito Santo. Amém.

Que o Espirito Santo nos guie! (6)

Vento de insubmissão


Quem pode me dizer de onde vem este intocável Sopro de vida
que suscita a palavra dos humilhados
e que nem reis, nem exércitos e nem ditadores podem calar?

Quem pode me dizer de onde vem este Sopro de contestação,
este Vento de insubmissão que às vezes sacode a consciência das nações,
escapa à análise dos politólogos, desconhece as previsões dos futurólogos,
contradiz os especialistas em sondagens e ironiza suas sutis percentagens,
este Vento de liberdade não se deixa jamais planificar?

Quem pode me dizer de onde vem este Vento tão discreto e suave
que ninguém vê se levantar e que, repentino como um tsunami,
revela as entranhas da nossa humanidade,
recusando o destino cego e a escura fatalidade?

Quem pode me dizer de onde vem este Vento que sopra nas grotas da esperança de um mundo sem esperanças,
este Vento de revolta dos desprezados e dos oprimidos,
exército de homens e de mulheres sem hierarquias e sem poderes,
que grita que a pessoa humana é mais que mão-de-obra que pode vendida e comprada nos mercados?

(Michel Hubaut, Prières à l’Esprit Saint, Desclée de Brouwer, 1997, p. 21-22).

Testemunho missionario

Mesmo sem a autorização explícita do Ir. Wanderson, e também sem as imagens que ilustram a partilha que enviou aos Coirmãos, publico estas primeiras notas de im missionário disponível, generoso e bem humorado.

“... E AGORA, JOSÉ?..”  #partiu em Missão
Ir. Wanderson Nogueira Alves, msf
Após emitir meu sim definitivo com os Votos Perpétuos, um breve período de peregrinação por algumas de nossas casas MSF, visitar minha família e participar da ordenação presbiteral de um co-irmão, termino um ciclo de re-júbilos e inicio uma nova etapa de vida: Missionário da Sagrada Família em missão além-fronteiras!! #amazonas
“Eis-me aqui, Senhor!”   
Itamarati, cidadezinha localizada ao sudoeste de Manaus - capital do Amazonas - é o último município da Prelazia de Tefé. Tem em torno de 8.000 habitantes (cf. censo IBGE, 2010), numa área de unidade territorial de 25.767 km2. Chegando de avião, o outro único meio de acesso à cidade é por via fluvial, através do Rio Juruá.
Sobre a cidade e o povo daqui não tenho muito a dizer, pois acabei de chegar. Estou mais à escuta e em aprendizado do que qualquer outra coisa. Chego com os pés “descalços”, ansioso por escutar a voz do Cristo que clama por aqui e no empenho para, sem manias e caprichos, perceber o clamor e louvor de Deus nas terras amazônicas.
“... Tu vens, tu vens: eu já escuto (e sinto) os seus sinais...”
Assim que cheguei percebi logo uma sangrenta e calorosa acolhida: os “piuns”. Com aquele jeitinho simples e pequeno, mal os enxergando, eles foram logo se aproximando. De um jeito manso e silencioso foram se achegando e sem pestanejar me beijaram, me abraçaram e me fizeram sentir o quanto eu era esperado! “É sangue bom!”, deviam dizer entre sí... E, após muitos beijos, tapas e abraços, estava eu lá acolhido e já me familiarizando com o jeito da cidadezinha e comecei a levar em meu corpo as marcas e insígnias dos piuns... Pontos que não vou esquecer jamais: obrigado, piuns... Com vocês já comecei a me sentir cria da casa, um itamaratiense, pois fui selado com suas marquinhas desde o início... Desde a cabeça aos pés...
Depois dos piúns, chegaram os humanos para me saudar: Pe. Chiquinho e o povo de Itamarati. De moto e de carro, logo fui acolhido e levado para a Casa Paroquial, nossa casa, iniciando as atividades com um belo e suculento almoço de peixe nativo para começar com o pé direito.
Nesse dia que cheguei, tive a surpresa de encontrar três membros do projeto “Missão e Saúde”, mais o Pe. Olavo, concluindo as tarefas que não conseguiram finalizar no mês de janeiro. Três profissionais da Saúde muito competentes e carismáticos que proporcionaram um pouco de bem-estar para o povo da cidade. Fiquei contente em conhecê-los e espero que possam voltar mais vezes, pois, pelo que falam por aqui, fizeram um trabalho muito bonito e necessário para o povo. O povo ganhou materialmente muita coisa e eles, espiritualmente, ganharam muito mais! Terminamos o dia com um belo trapiche assado na casa das lideranças da comunidade.
Meu segundo dia foi de limpezas: Para deixar o quarto com a minha cara – bem limpinho! – fiz a faxina geral: bate tapete, sabão no banheiro, expulsão das aranhas e suas teias, troca de cama, colchões, lavagem de roupa... Ufa! Terminando o dia só me restaria cair na rede e capotar de sono, mas não... Um “bendito de meu Pai” apareceu com uma irrecusável proposta sinal de wi-fi grátis... Opa! Essa eu não posso perder... Meu cansaço foi dar uma volta bem longe e logo me aprontei para descer na praça com o Pe. Chiquinho e pegar essa raspinha de tacho que muito nos interessa.
Aqui de fato uma coisa que é bem deficitária é a comunicação. Existe algo, mas muito precário. Duas operadoras de celular dividem a mesma antena para atender a população, mas somente podemos contar com uma parte dos serviços: ligação e sms. Internet 3g ou 4g não vão nem na metade do “gê” que dirá “três gês”... Eu brinco aqui dizendo que a “três gê” não chega nem nos “dois bê”... Cômico, porém trágico. Temos telefone fixo sim, mas no mesmo patamar: só ligação... Nem a velha internet discada tem vez aqui. Dessa forma, as atualizações de facebook, leitura de e-mails e facilidades de Whatsapp só em momentos esporádicos, se não houver chuva, claro.
Chuva é algo que aqui estamos tendo todos os dias, o que deixa o clima bastante agradável, porém para as pessoas que moram próximas do rio não me parece muito propícia. Com as cheias dos rios, muitas comunidades do interior não podem ser atendidas porque não se consegue chegar até elas ou porque muitos têm que se mudar para casa de parentes, pois a água invade e torna a vida praticamente impossível: sem água potável, alimentos e terreno para o cultivo de plantação e criação de animais.
Uma coisa que me chamou a atenção são as estações do ano: Inverno e Verão. A Primavera e o Outono são especiarias que não passam por aqui... Agora, por exemplo, estamos no inverno, porque estamos na época de chuvas e cheias de rios. Da pracinha principal que temos aqui perto de casa vejo o rio e a balsa do porto. Dizem que quando é verão, não se vê nem o rio nem a balsa... (caramba!) estou ligeiramente curioso, mas também com medo, pois vejo muito bonito o rio aqui quase na minha altura e, imaginar que estou num elevado e que o rio estará lá em baixo ainda nem consigo imaginar. E o verão é o período da seca, quando não há chuva, o rio baixa e surge uma praia. Até na placa da praça diz: ORLA... Vamos ver daqui a alguns meses essa praia que tanto falam...
“...No terceiro dia ele desatou as malas...”
Bom, agora sim! Quarto limpo, desinfetado, ambientado na cidade e localizado no mapa, finalmente desfiz minhas malas... Não era muita coisa: uma mochila e duas sacolas... Por medo não ter como arcar com excesso de peso no aeroporto resolvi trazer o mínimo e necessário. Praticamente a roupa do corpo e alguns objetos de mão. Coisas que não me dariam muito trabalho para locomoção e adaptação. Foi assim que eu vim e assim que vou viver. O essencial que deveria estar aqui, que sou eu, já está! O resto vem por acréscimo. No final do dia fui à pracinha, onde assisti a um bonito show de música ao vivo, com a praça lotada de gente.
“...Já era sábado e colocou as mãos na massa...”
Na verdade, mãos na sopa. No meu primeiro sábado aqui em Itamarati, logo de manhã cedinho fui com o Joaquim (o “Severino” da paróquia) participar da Celebração da Vida da Pastoral da Criança na comunidade São José. Com aproximadamente 100 crianças nós pesamos, conversamos, rezamos e tomamos uma deliciosa sopa para esse momento bonito de vida e comunhão das famílias em prol da vida em abundância das crianças. Gostei muito de me reaproximar de uma atividade pastoral que foi minha escola de pastoral lá em Minas Gerais.
No final do dia presidi minha primeira Celebração da Palavra na Comunidade São Francisco e participei do encontro da PJ... Diverti-me muito!
“...O dia do Senhor...”
Com o Domingo finalizo minha partilha: Feliz com a vitória do meu Vascão sobre o Botafogo e feliz com a participação lotada da Comunidade Paroquial neste domingo do Bom Pastor, quando fui apresentado à comunidade e provisionado Ministro da Palavra e da Eucaristia nesta paróquia onde vou partilhar a vida com o Padre Francisco Carnaúba.

Faço votos de que a caminhada daqui seja profícua: que tenhamos a coragem necessária para mudar aquelas coisas que somos capazes e a humildade suficiente de resignificar o que não pudermos. Por fim, conto com vossas orações pelo Pe. Chiquinho e por mim. Confiamos nossas vidas à mãe da Salette, nossa patrona, que nos ajude a viver a missão com amor e carinho, fazendo tudo o que o seu Filho, o Bom Pastor, nos disser. Amém, aleluia!

SOLENIDADE DE PENTECOSTES (ANO B – 24.05.2015)

Envia-nos teu Espírito de indignação profética!

A festa de Pentecostes é a culminância da caminhada pascal.  Como a comunidade apostólica, pedimos que o Espírito realize em nós a obra do Pai e do Filho, nos dê respiro e vida, nos ensine a testemunhar e anunciar o Reino de Deus na língua das diversas culturas, derrube os muros que nossos medos e prepotências ergueram, desperte a imaginação e a indignação proféticas, abra as portas das Igrejas e as coloque em ritmo de missão. Pois é o Espírito de Deus quem cria os vínculos entre as criaturas, suscita e sustenta os processos de libertação e garante a liberdade e a criatividade.
Escrevendo à comunidade cristã de Corinto, Paulo sublinha: há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; diferença de funções mas o Senhor é o mesmo; multiplicidade de ações, mas um só Deus. Por isso, não há como sustentar a supremacia do clero sobre os demais fiéis, dos católicos sobre os evangélicos. Mas, no bojo da ventania que vem do Espírito de Jesus, caem também os muros que separam religiões pretensamente verdadeiras das assim chamadas simples crenças, como também as escadas que elevam as religiões que se auto-definem verdadeiras e rotulam as demais como falsas.
Uma dos traços da experiência Espírito que ficou gravada na mente dos apóstolos é o ruído de um vento forte e a imagem de línguas de fogo que repousam sobre a comunidade reunida. Vento forte e línguas de fogo remetem a um dinamismo incontrolável, a uma força que move e leva adiante, a uma palavra forte e mobilizadora. São imagens que lembram o furacão da profecia, a eloquência de homens e mulheres que falam, gritam e agem em nome de Deus. Aquele punhado de gente reunida em Jerusalém passa a falar intrepidamente e a enfrentar autoridades e sistemas constituídos...
É claro que a vida no Espírito se expressa na oração, na adoração, no canto, consolação e alegria, mas não se resume nisso. Jesus Cristo é o homem do Espírito, e sua proposta não é a de um guru do bem-estar individual. Ele é modelo e caminho de uma vida descentrada de si, de uma atuação absolutamente voltada às necessidades e à dignidade dos outros, de uma inserção questionadora e transformadora no palco da história. A obra do Espírito Santo no mundo não se mostra nos templos monumentais ou nas instituições sólidas, mas em homens e mulheres novos, livres e solidários.
O Espírito é o sopro de Deus que faz novas todas as coisas, renova a face da terra. Mas ele costuma começar renovando radicalmente as pessoas que seguem Jesus Cristo, despindo-as da roupagem da indiferença, purificando-as da impureza da dominação, desautorizando aquela “velha opinião formada sobre tudo”, dispersando o pó que se acumulou sobre as doutrinas e leis, abrindo as janelas fechadas pelo medo, fazendo-as renascer no ventre da liberdade e da gratuidade. Assim aconteceu com Jesus, assim são chamados a ser aqueles que nele acreditam e receberam seu divino Sopro.
Por isso, o envio do Espírito Santo é também o lançamento missionário da comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus. “Como o Pai me enviou, eu também envio vocês!” Ele nos envia com a missão de tirar o pecado do mundo e arcar com seu custo, como ele mesmo o fez, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Tirar o pecado do mundo (no singular!) significa, hoje, entre outras coisas, combater sem tréguas o vírus do ódio. Como não se preocupar com o fomento interesseiro do ódio a toda iniciativa que possa mudar minimamente a estrutura classista e excludente da sociedade brasileira?
Quem recebe o Espírito de Jesus e por ele se deixa guiar perde para sempre a tranquilidade daqueles que se escondem atrás dos muros dos condomínios fechados e dos ritos que anestesiam e aprosionam as consciências. O Espírito fere de morte todas as formas de indiferença! Quem hospeda o Espírito e nele renasce acaba a quilômetros de distância do imobilismo omisso pregado em cultos frequentados por multidões sedentas de prosperidade e de cura e se engaja, com humildade e firmeza, no caminho ecumênico, respeitando as diferenças e sonhando com o dia em que todos seremos um.
A ti, Deus pai e mãe, voltamos nossos olhos e nossas mãos para pedir, com todas as forças do nosso ser: envia sobre nós e sobre a Igreja teu divino Sopro! Sem ele, a missão não passa de conquista; a igreja atua como mera sociedade de classes; o Evangelho se reduz a lei implacável; a moral infantiliza e aprisiona; o ministério se reveste de poder e tirania; a liturgia vira arqueologia e fuga do compromisso. Envia teu Espirito para revitalizar os ossos ressequidos, sacudir as democracias vazias e questionar os sistemas totalitários, mesmo quando se apresentam como religião. Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 2,1-11 * Salmo 103 (104) * 1ª Carta aos Coríntios 12,3-7.12-13 * João 20,19-23)

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Semana de Oração pela Unidade Cristã (5)

REFLEXÕES BÍBLICAS E ORAÇÕES (5)


Aúncio: Tu não tens sequer um balde e o poço é profundo... (João 4,11)
Textos: Gn 46,1-7; Salmo 133; At 2,1-11; Jo 4,11 
Comentário
Jesus precisava de ajuda. Depois de uma longa caminhada, vem o cansaço. Exausto, exposto ao calor do meio dia, ele sente fome e sede. (Jo 4,6). Além disso, Jesus é um estrangeiro; é ele que está num território estrangeiro e o poço pertence ao povo da mulher. Jesus tem sede e, como diz a mulher samaritana, não tem balde para recolher a água. Ele precisa de água, ele precisa de ajuda: todos precisam de ajuda!
Muitos cristãos acreditam que somente eles têm todas as respostas e que não precisam da ajuda de ninguém. Perdemos muito quando mantemos essa perspectiva. Nenhum de nós pode chegar às profundezas do poço do divino e ainda assim a fé nos pede que nos aprofundemos no mistério. Não podemos fazer isso isoladamente. Precisamos da ajuda de nossos irmãos e irmãs em Cristo. Só assim poderemos mergulhar na profundidade do mistério de Deus.
Um ponto comum em nossa  fé, independentemente da Igreja a que pertencemos, é que Deus é um mistério além da nossa compreensão. A busca da unidade cristã nos leva ao reconhecimento de que nenhuma comunidade tem todos os meios de mergulhar nas águas profundas do divino. Precisamos de água, precisamos de ajuda: todos precisam de ajuda! Quanto mais crescermos na unidade, partilharmos nossos baldes e unirmos as partes de nossas cordas, mais profundamente mergulharemos no poço do divino.
A tradição indígena brasileira nos ensina a aprender com a sabedoria dos mais velhos e, ao mesmo tempo, com a curiosidade e a inocência das crianças. Quando estamos prontos para aceitar que realmente precisamos uns dos outros, nos tornamos como crianças, abertos para aprender. E é assim que o Reino de Deus se abre para nós (Mt 18,3). Precisamos fazer como Jesus fez. Precisamos tomar a iniciativa de entrar numa terra estrangeira, onde nos tornamos estrangeiros, e cultivar o desejo de aprender com o que é diferente.
Questões
1.    Você se lembra de situações em que sua Igreja tenha ajudado outra Igreja ou tenha sido ajudada por outra Igreja?
2.    Há reservas por parte da sua Igreja em aceitar ajuda de outra Igreja? Como isso pode ser superado?
Oração

Deus, fonte da água viva, ajuda-nos a entender que, quanto mais unirmos as partes de nossas cordas, mais profundamente nossos baldes chegarão até tuas divinas águas! Desperta-nos para a verdade de que os dons do outro são uma expressão do teu indefinível mistério. E faze-nos sentar juntos à beira do poço para beber da tua água, que nos reúne em unidade e paz. Isso te pedimos em nome de teu Filho Jesus Cristo, que pediu à mulher samaritana que lhe desse água para a sua sede. Amém.

Que o Espirito Santo nos guie! (5)

Quem és e de onde vens?


As forças podem cruelmente e definitivamente
aprisionar corpos e amardaçar a palavra,
ressequir os corações e enfeitiçar os espíritos,
mas nenhum poder jamais conseguirá abafar ou sufocar
o Sopro do Espírito que inspira nossa Liberdade.

Quem és tu e de onde vens?
Tu que fazes do ser humano um eterno nômade
em busca de um Além às vezes entrevisto,
de uma outra margem ou de um paraíso perdido,
de um porto ou de um amor imortal...

De onde vens e quem és?
Tu, sem quem o ser humano não seria mais que uma coisa frágil e irrelevante,
e sua história seria uma mera sucessão de instantes incoerentes,
e a nossa terra seria um minúsculo pião girando sem rumo na galáxia...

De onde vens tu e quem és?
Um epifenômeno de uma efêmera consciência humana,
uma faísca fugaz da alma do universso, uma energia cósmica,
uma força criadora imanente, sem rosto e sem nome,
ou uma Pessoa viva, eterna fonte e eterno dom de um Deus transcendente?

Mas talvez prefiras dizer quem és e revelar-nos tua misteriosa indentidade
na fecundidade da vida, nas palavras e gestos de Jesus Cristo,
na silenciosa beleza da criação ou no coração do ser humano,
secreto júbilo que se descobre amado por um Deus Pai
e capaz de entrar em comunhão com seus irmãos e irmãs...

(Michel Hubaut, Prières à l’Esprit Saint, Desclée de Brouwer, 1997, p. 23-24).

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Semana de Oração pela Unidade Cristã (4)

REFLEXÕES BÍBLICAS E ORAÇÕES (4)


Renúncia 1: A mulher então abandonou o cântarto (João 4,28)
Textos: Gn 11,31-12,34; Salmo 23; Atos 10,9-20; Jo 4,25-28

Comentário
O encontro entre Jesus e a mulher samaritana mostra que o diálogo com o diferente, o estranho, o que não é familiar pode ser promotor de vida. Se a mulher tivesse seguido as regras da sua cultura, ela teria ido embora quando viu Jesus se aproximando do poço. Naquele dia, por alguma razão, ela não seguiu as regras estabelecidas. Tanto ela como Jesus quebraram os padrões convencionais de comportamento. Através dessa ruptura eles nos mostraram de novo que é possível construir novos relacionamentos.
Assim como Jesus completa o trabalho do Pai, a mulher samaritana, por sua vez, deixa o jarro de água,  mostrando que já podia ir mais longe com sua vida; ela não estava confinada ao papel que a sociedade lhe impôs. No Evangelho de João ela é a primeira pessoa a proclamar Jesus como o Messias. Ir adiante é uma necessidade para aqueles que desejam crescer ficando mais fortes e mais sábios na sua fé.
O fato de ter a mulher samaritana deixado para trás seu cântaro de água é um sinal de que ela tinha encontrado um bem maior do que a água que tinha vindo buscar, e um lugar melhor para agir dentro da sua comunidade. Ela reconhece o dom maior que esse judeu estrangeiro, Jesus, lhe está oferecendo.
É difícil para nós considerar valioso, reconhecer como bom, ou mesmo santo, o que nos é desconhecido e o que pertence  outro. No entanto, reconhecer os dons do outro como bons e santos é um passo necessário para chegar à unidade visível que buscamos.
Questões
1.    O encontro com Jesus pede que deixemos para trás nossos “cântaros”. O que são para nós esses “cântaros”?
2.    Quais são as principais dificuldades que encontramos para fazer isso?
Oração
Amoroso Deus, ajuda-nos a aprender com Jesus e a samaritana que o encontro com o outro abre para nós novos horizontes de graça. Ajuda-nos a quebrar nossos limites e aceitar novos desafios.Ajuda-nos a superar o medo no seguimento do chamado de teu Filho. Em nome de Jesus Cristo, oramos. Amém.

Que o Espirito Santo nos guie! (4)

Peregrinos do infinito


Atraídos pelos apelos do Espírito, atravessemos a soleira do invisível, recusemos as fronteiras do impossível...
Sejamos peregrinos do Infinito.

Guiados pelo murmúrio do Espírito, atravessemos o limiar do silêncio, desçamos à cripta do coração, onde Deus se faz Brisa leve e discreta Sedução.

Iluminados pela luz do Espírito, atravessemos a soleira das aparências e descubramos o rosto escondido dos seres e das coisas e o delicado calor de uma Presença.

Seduzidos pela ternura do Espírito, atravessemos o limiar do tempo,
pressintamos o amor que tece nossa eternidade e a suave trama de cada Instante.

Habitados pela doçura do Espírito, atravessemos a soleira da eficiência, acolhamos com alegria os tesouros da sua gratuidade e os frutos da sua secreta Atividade.

Maravilhados pela largueza do Espírito, atravessemos o limiar da nossas intolerâncias, reconheçamos a rica diversidade de dons e capacidades e sejamos Peregrinos do Inifinito.

(Michel Hubaut, Prières à l’Esprit Saint, Desclée de Brouwer, 1997, p. 30-31).

Carta pastoral dos Bispos Anglicanos do Brasil

Contra a corrupção e contra a redução da maioridade penal:
Carta pastoral dos Bispos Anglicanos do Brasil

Em carta pastoral, a Câmara dos Bispos da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil denunciam  a corrupção nas diversas esferas da sociedade e se posicionam contra a redução da maioridade penal. De acordo com a carta, o atual  Congresso Nacional "foi eleito sob o patrocínio de fortes interesses e poderes econômicos, fortalecendo os setores mais conservadores e contrários as conquistas do povo trabalhador e dos direitos humanos".
“A religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo” ( Tiago 1:27)
Diante dos escândalos e processos amplamente divulgados pela grande mídia envolvendo vários focos de corrupção em diferentes níveis, nos dirigimos ao povo e ao clero da nossa Igreja e a toda sociedade brasileira, constatando nossa preocupante realidade:
a)       A corrupção é um mal histórico neste país, inclusive nos períodos de ditaduras cívicos-militares. Entendemos que é animador o enfrentamento a corrupção, quando preserva o sistema democrático, quando promove a reforma política com ampla participação popular, e quando envolve o compromisso com a mudança da cultura política e o fortalecimento da cidadania.
b)      A corrupção está presente tanto no âmbito público como privado, atingindo empresas nacionais e internacionais. É importante que tenhamos claro que o papel da mídia tem sido parcial deixando de ser esclarecedor, uma vez que expressa seus interesses e preferencias e não a real magnitude desde mal.
c)       O Congresso nacional foi eleito sob o patrocínio de fortes interesses e poderes econômicos, fortalecendo os setores mais conservador e contrários as conquistas do povo trabalhador e dos direitos humanos. Prova disso, é a resistência à reforma política e o fim do financiamento empresarial das campanhas eleitorais; a tentativa de ampliação do alcance da terceirização, a proposta de revisão do estatuto do desarmamento, e a demarcação das terras indígenas, entre outras agendas de supressão de direitos.
d)      Um ponto que tem merecido nossa especial atenção é a tentativa de reduzir a maioridade penal que, de forma nenhuma eliminará as causas nem aliviará o diagnóstico de violência em nosso país, conforme a juventude de nossa Igreja tão claramente manifestou.
e)       Por outro lado o governo federal, formado por alianças indefinidas, propõe um reajuste fiscal que penaliza apenas as pessoas trabalhadoras, colocando em risco os programas sociais que aponta para a superação das desigualdades e dificultam o já fragilizado acesso aos direitos fundamentais de saúde, educação, segurança, entre outros. Enquanto isso, os ricos continuam desfrutando da proteção tributária no contexto nacional.
Como bispos da IEAB, nos comprometemos a:
1)       Apoiar o movimento do Plebiscito pela Reforma Política;
2)       Continuar resistindo à proposta da redução da maioridade penal;
3)       Buscar formas de combater a corrupção, incentivando e promovendo a transparência e participação popular tanto na esfera pública quanto privada;
4)       Fortalecer os movimentos sociais e ecumênicos na defesa na justiça e da paz, e na afirmação dos Direitos Humanos e na integridade da criação.
Lembramos que as Marcas da Missão da Comunhão Anglicana devem ser nossos princípios na busca da transformação da sociedade a luz da dos valores do Reino de Deus:
a)       Testemunhar para todas as pessoas o amor de Cristo, que reconcilia, salva e perdoa;
b)      Construir comunidades de fé, que acolhem, celebram e transformam;
c)       Viver a solidariedade com as pessoas pobres e necessitadas;
d)      Desafiar a injustiça, a opressão e a violência, promovendo uma cultura de paz e reconciliação;
e)       Proteger, preservar e renovar a vida em nosso planeta.
Oremos por nosso país, seu povo e por um mundo melhor para todas as pessoas.

Santa Maria, 14 de Maio de 2015

Dom Francisco Assis da Silva, Primaz, Santa Maria, RS
Dom Naudal Alves Gomes, Curitiba, PR
Dom Filadelfo Oliveira Neto, Rio de Janeiro, RJ
Dom Mauricio José Araujo de Andrade, Brasília, DF
Dom Saulo Mauricio de Barros, Belém, PA
Dom Renato da Cruz Raatz, Pelotas, RS
Dom Humberto Maiztegui, Porto Alegre, RS
Dom Flavio Irala, São Paulo, SP
Dom João Cancio Peixoto, Recife, PE 

http://www.cebi.org.br/noticias.php?secaoId=1&noticiaId=5661

O evangelho de Pentecostes

João 20,19-31: A Missão da comunidade
Olhar de perto as coisas da nossa vida
No texto de hoje, vamos meditar sobre a aparição de Jesus aos discípulos e sobre a missão que eles receberam. Os discípulos estavam reunidos com as portas fechadas porque tinham medo dos judeus. De repente, Jesus se coloca no meio deles e diz: “A paz esteja com vocês!” Ele mostra as mãos e o lado, e diz novamente: “A paz esteja com vocês! Como o Pai me enviou, eu envio vocês!” Em seguida, lhes comunica o Espírito para que possam perdoar e reconciliar, refazer os pedaços da vida e reconstruir as relações quebradas entre as pessoas. Relações quebradas por causa da injustiça e por tantos outros motivos. Jesus insiste na paz e o repete várias vezes! As pessoas que lutam pela paz são declaradas felizes e são chamadas filhos e filhas de Deus (Mt 5,9)!

1.     João 20,19-20: A experiência da ressurreição 
Jesus ressuscitado se faz presente na comunidade. As portas fechadas por causa do medo não podem impedir que ele esteja no meio dos que nele acreditam. Até hoje é assim! Quando estamos reunidos, mesmo com todas as portas fechadas, Jesus está no meio de nós. E até hoje, a primeira palavra de Jesus é e sempre será: “A Paz esteja com vocês!” Ele mostrou os sinais da paixão nas mãos e no lado. O ressuscitado é o crucificado! As marcas da paixão estão hoje no sofrimento do povo, na fome, nas marcas de tortura, de injustiça, no desamor. É nas pessoas que reagem, lutam pela vida e não se deixam abater que Jesus ressuscita e se faz presente no meio de nós.

2.     João 20,21: O envio: “Como o Pai me enviou, eu envio vocês!” 
É deste Jesus que recebemos a missão, a mesma que ele mesmo recebeu do Pai. E ele repete: “A paz esteja com vocês!” Esta dupla repetição acentua a importância da Paz. Construir a paz faz parte da missão. Paz, significa muito mais do que só ausência de guerra. Significa construir uma convivência humana harmoniosa, em que as pessoas possam ser elas mesmas, tendo todos o necessário para viver, convivendo felizes e em paz.

3.     João 20,22: Jesus comunica o dom do Espírito 
Jesus soprou e disse: Recebei o Espírito Santo. É só mesmo com a ajuda do Espírito de Jesus que nós seremos capazes de realizar a missão que ele nos dá.

4.     João 20,23: Jesus comunica o poder de perdoar os pecados 
O ponto central da missão de paz está na reconciliação, na tentativa de superar as barreiras que nos separam: “Aqueles a quem vocês perdoarem os pecados serão perdoados e aqueles a quem retiverdes serão retidos!” Este poder de perdoar é dado à comunidade (Jo 20,23; Mt 18,18). Aqui se percebe a enorme responsabilidade da comunidade. Uma comunidade sem perdão e sem reconciliação já não é comunidade cristã.
Mercedes Lopes, carlos Mesters, Francisco Orofino

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