O direito de comer está acima do direito de propriedade
828 | 06 de setembro de 2025 | Lucas 6,1-5
Na cena imediatamente anterior que meditamos ontem,
Jesus afirma que seus discípulos devem viver a alegre e boa novidade do Reino
de Deus, deixando de lado “velhas lições” e “velhos hábitos” rigorosos, que
levam a formar guetos de pessoas que se consideram perfeitas e superioras às
demais. Hoje, Jesus volta à questão: a pessoa e suas necessidades estão acima
de toda lei e do culto.
É sábado e, desta vez, Jesus não está na sinagoga,
mas se deslocando com seus discípulos pelos campos. Sentindo fome, eles colhem
e comem trigo de uma plantação que não lhes pertence. Os fariseus observam que
eles caminham e colhem num dia que não é permitido fazê-lo. E, além disso, percebem
que eles não respeitam o “sagrado direito” da propriedade privada. Não se trata
simplesmente de costumes religiosos, mas de leis econômicas que causam
insegurança alimentar.
Segundo a mentalidade dos fariseus, os discípulos
de Jesus cometem dois pecados: não respeitam as proibições da lei que impõe
repouso no sábado; roubam alimento da propriedade alheia. A segunda acusação não
aparece claramente, mas é aludida no fato citado por Jesus para sua própria
defesa: Davi e seus companheiros, estando com fome, se apossam e comem do pão
reservado aos sacerdotes. A vida tem prioridade, inclusive, sobre a “sagrada”
lei da propriedade privada!
Jesus responde à acusação dos fariseus com duas
críticas à postura deles: embora se apresentem como defensores da tradição e da
lei de Deus, eles desconhecem o sentido mais profundo das escrituras (“acaso
vós não lestes?”); eles resistem a reconhecer Jesus como o enviado autorizado e
Filho de Deus, que é o legislador e, por isso, está acima das leis (“o Filho do
Homem é Senhor também do sábado”).
Algumas leis e costumes,
por mais importantes que pareçam aos olhos de alguns, se contrapõem ao
Evangelho, são como tecido velho irrecuperável ou como barril danificado. Neste
momento da história do Brasil, com polarizações e mentiras que enganam e
embrutecem, há quem insista que a lei do equilíbrio fiscal é intocável. Se, por
causa disso, o povo não tem acesso à cultura, morre de fome ou por falta de
atendimento médico, isso pouco importa a eles.
Sugestões para a
meditação
§ Retome
a cena, inserindo-se na caminhada de Jesus com seus discípulos, sob o olhar
crítico dos fariseus
§ Procure
entender com exatidão a crítica que as lideranças religiosas (fariseus) fazem
aos discípulos e a Jesus
§ Como
você se sente diante da afirmação de Jesus, de que ele é senhor das leis e
instituições, e está acima delas?
§ Você
ainda defende, ao menos na prática, a prioridade das leis e costumes sobre as
necessidades e a dignidade das pessoas?
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