A intolerância não fica bem para um amigo de Jesus
852 | 30 de setembro de 2025 | Lucas 9,51-56
O breve texto do evangelho
de hoje é uma espécie de dobradiça que une as duas partes do Evangelho segundo
Lucas. Ele nos diz que “estava chegando o momento de Jesus ser elevado” (na cruz)
e que, percebendo isso, ele “tomou a firme decisão de partir para Jerusalém”. A
primeira parte apresenta o anúncio do reino de Deus e a formação dos
discípulos, e a segunda, o desfecho da sua missão, em Jerusalém.
Lucas usa palavras que
revelam uma decisão tanto brusca quanto solene por parte de Jesus. “Subir” a
Jerusalém, “ser elevado” na cruz, “descer aos infernos” e “ser elevado ao céu”
são expressões que apontam para o único e mesmo projeto predominante na
caminhada de Jesus. A decisão firme (“rosto retesado”) denota a percepção e
consciência de Jesus sobre os conflitos e as tensões que o esperavam.
Tendo tomado esta decisão em
plena consciência, e tendo que atravessar a Samaria, Jesus envia seus
discípulos à frente para preparar sua passagem. Desta vez, eles não são
encarregados de anunciar nada, mas recebem a responsabilidade de organizar a
hospedagem da caravana. Como havia previsto, a acolhida e a hospedagem foi negada
quando os samaritanos souberam que Jesus estava se dirigindo a Jerusalém. Eles
eram desprezados pelos judeus, e pensaram que, por estar peregrinando a
Jerusalém, ele fizesse parte do grupo dos judeus ortodoxos.
Lucas quer chamar a nossa
atenção para a atitude dos discípulos, e não para a rejeição por parte dos
samaritanos. A reação de Tiago e João (que haviam participado com Pedro da cena
da transfiguração) é uma reedição daquela atitude que esboçaram diante de uma
pessoa que expulsava demônios em nome de Jesus, mas não os seguia. Em ambas as situações,
a atitude condenada é a intolerância.
O
desejo de fazer descer fogo do céu e destruir os samaritanos, já discriminados historicamente
e tão desprezados pelos judeus, é uma reação ilustrativa de quem ainda não entendeu
o caminho de Jesus, e espera dele apenas triunfo e glória. É uma visão fanática
e uma atitude integrista, como está em moda de novo hoje, e não apenas no
Brasil. Jesus repreende Tiago e João, e todos os que esperam dele apenas triunfo
e glória. Ele não nos chama e envia para antecipar o castigo, mas para preparar
espaços para acolhê-lo. Diante da rejeição, não cabe a violência.
Sugestões para a
meditação
§ Contemple
com a razão e com o coração a cena, e perceba a firmeza estampada no semblante
de Jesus
§ Observe
também os sinais de intolerância e raiva chispando nos olhos de João e Tiago, e
dos demais discípulos
§ Será que também
nós ainda vemos e esperamos em Jesus apenas glória e triunfo, e desejamos fugir
do rebaixamento e da cruz?
§ Em que medida também nós pensamos que somos enviados para julgar e
punir, e não para preparar espaços para Jesus
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