sábado, 27 de setembro de 2025

Lázaro e o rico

FAZER-NOS PRÓXIMOS

O pobre Lázaro está ali mesmo, morrendo de fome à sua porta, mas o rico evita qualquer contato e continua a viver esplendidamente, alheio ao seu sofrimento. Não atravessa essa porta que o aproximaria do mendigo. No final, descobre horrorizado que um imenso abismo se abriu entre eles. Esta parábola é a crítica mais implacável de Jesus à indiferença ao sofrimento do irmão.

Ao nosso lado estão cada vez mais imigrantes. Não são personagens de uma parábola. São homens e mulheres de carne e osso. Estão aqui com as suas angústias, necessidades e esperanças. Servem nas nossas casas, caminham pelas nossas ruas. Estamos prendendo a acolhê-los ou continuamos a viver o nosso pequeno bem-estar, indiferentes ao sofrimento daqueles que nos são estranhos? Esta indiferença só se dissolve dando passos que nos aproximem deles.

Podemos começar por aproveitar qualquer ocasião para lidar com algum deles de uma forma amigável e descontraída, e conhecer de perto o seu mundo de problemas e aspirações. Como é fácil descobrir que somos todos filhos e filhas da mesma Terra e do mesmo Deus...

É elementar não rir de seus costumes ou zombar de suas crenças. Pertencem às profundezas do seu ser. Muitos deles têm um sentido da vida, da solidariedade, da festa ou acolhimento que nos surpreenderia.

Devemos evitar qualquer linguagem discriminatória para não menosprezar qualquer cor, raça, crença ou cultura. Torna-nos mais humanos experimentar vitalmente a riqueza da diversidade. Chegou o momento de aprender a viver no mundo como a aldeia global ou a casa comum de todos.

Eles têm defeitos, porque são como nós. Temos de exigir que respeitem a nossa cultura, mas temos de reconhecer os seus direitos à legalidade, ao trabalho, à habitação ou ao reagrupamento familiar. E mesmo antes disso, lutar para quebrar esse abismo que hoje separa os ricos dos pobres.

Cada vez mais estrangeiros vão viver conosco. É uma oportunidade para aprendermos a ser mais tolerantes, mais justos e, em última análise, mais humanos.

 

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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