quinta-feira, 11 de setembro de 2025

O cisco e a trave

O discípulo de Jesus não assume postura de juiz!

834 | 12 de setembro de 2025 | Lucas 6,39-42

Um pouco antes desta cena, Jesus deixara claro que a misericórdia do Pai, expressa concretamente na vida e ação de Jesus, é a referência e o dinamismo que orienta e move a ação dos cristãos. Nossa condição no mundo é semelhante àquela dos aprendizes, e não de juízes. Estamos na estrada, e não sentados no tribunal. Somos irmãos e irmãs, e não magistrados. Não pode haver crítica legítima sem autocrítica. É nosso amor aos mais vulneráveis que nos julgará no entardecer da vida.

No trecho de hoje, Jesus não se dirige aos fariseus ou doutores da lei, mas à comunidade de discípulos e discípulas. Para preveni-los do risco da crítica infundada e de assumirem a postura de superiores e juízes, Jesus recorre a dois provérbios ou sentenças: aquele do cego que se oferece nesciamente como guia; aquele do cisco no olho que impede de ver claramente a sujeira externa.

A advertência de Jesus é clara: todos nós podemos ser cegos e levar os outros a tropeçar e a cair; ninguém está em condições de julgar ninguém; não podemos criticar ninguém se não exercitarmos a autocrítica diante de Jesus e do seu Evangelho; em relação aos outros, somos irmãos, e não juízes. Quando esquecemos isso, acabamos por manifestar nossa petulância e hipocrisia, e mostrando que somos iguais aos criticáveis fariseus e doutores da lei. Não há lugar para a soberba e para tribunais penais no interior da comunidade cristã!

E a regra também é meridianamente clara: nossas relações devem pautar-se pelas relações de Jesus, único mestre e guia capaz de conduzir à vida e à verdade. Como discípulos do profeta de Nazaré, não somos maiores nem podemos ser diferentes do mestre. “Todo discípulo bem formado será como o mestre”. E Jesus não pautou sua vida pelo julgamento e pela condenação, mas pelo amor que liberta e edifica. É claro que isso não elimina a profecia, que nasce da paixão pela verdade. Aliás, a fraternidade, a acolhida e o respeito aos diferentes não é uma profecia eloquente?

Somente as pessoas que têm o olhar limpo e o coração puro (consciência dos próprios limites) estão em condições de ajudar e criticar os outros, e sempre como irmãos e irmãs. A misericórdia do Pai, que é bondoso tanto para com os bons como para os ingratos e maus, será sempre a nossa medida. Quem somos nós para colocarmo-nos acima dele? Quem teria competência e legitimidade para corrigir o próprio filho de Deus, ele que não foi enviado para julgar e condenar, mas para salvar?

 

Sugestões para a meditação

§ Retome cada palavra e cada comparação ou figura usada por Jesus e tente perceber o que significam para você

§ Você percebe, em você mesmo e na sua comunidade, sinais da tentação de ser como um cego que quer guiar cegos, corrigir os outros sem fazer autocrítica?

§ Como podemos conjugar a renúncia a julgar e condenar os outros com o dever de agir e falar com coragem profética diante das injustiças e mentiras que ferem nossos irmãos e irmãs?

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