Mesmo sem a autorização explícita do Ir.
Wanderson, e também sem as imagens que ilustram a partilha que enviou aos Coirmãos,
publico estas primeiras notas de im missionário disponível, generoso e bem
humorado.
“... E
AGORA, JOSÉ?..” #partiu em Missão
Ir.
Wanderson Nogueira Alves, msf
Após
emitir meu sim definitivo com os Votos Perpétuos, um breve período de
peregrinação por algumas de nossas casas MSF, visitar minha família e
participar da ordenação presbiteral de um co-irmão, termino um ciclo de re-júbilos
e inicio uma nova etapa de vida: Missionário
da Sagrada Família em missão além-fronteiras!! #amazonas
“Eis-me aqui, Senhor!”
Itamarati,
cidadezinha localizada ao sudoeste de Manaus - capital do Amazonas - é o último
município da Prelazia de Tefé. Tem em torno de 8.000 habitantes (cf. censo IBGE,
2010), numa área de unidade territorial de 25.767 km2. Chegando de
avião, o outro único meio de acesso à cidade é por via fluvial, através do Rio
Juruá.
Sobre
a cidade e o povo daqui não tenho muito a dizer, pois acabei de chegar. Estou
mais à escuta e em aprendizado do que qualquer outra coisa. Chego com os pés “descalços”,
ansioso por escutar a voz do Cristo que clama por aqui e no empenho para, sem
manias e caprichos, perceber o clamor e louvor de Deus nas terras amazônicas.
“... Tu vens, tu vens: eu já escuto (e sinto) os seus sinais...”
Assim
que cheguei percebi logo uma sangrenta e calorosa acolhida: os “piuns”. Com
aquele jeitinho simples e pequeno, mal os enxergando, eles foram logo se
aproximando. De um jeito manso e silencioso foram se achegando e sem pestanejar
me beijaram, me abraçaram e me fizeram sentir o quanto eu era esperado! “É sangue
bom!”, deviam dizer entre sí... E, após muitos beijos, tapas e abraços, estava
eu lá acolhido e já me familiarizando com o jeito da cidadezinha e comecei a levar
em meu corpo as marcas e insígnias dos piuns... Pontos que não vou esquecer
jamais: obrigado, piuns... Com vocês já comecei a me sentir cria da casa, um
itamaratiense, pois fui selado com suas marquinhas desde o início... Desde a
cabeça aos pés...
Depois
dos piúns, chegaram os humanos para me saudar: Pe. Chiquinho e o povo de
Itamarati. De moto e de carro, logo fui acolhido e levado para a Casa Paroquial,
nossa casa, iniciando as atividades com um belo e suculento almoço de peixe
nativo para começar com o pé direito.
Nesse
dia que cheguei, tive a surpresa de encontrar três membros do projeto “Missão e
Saúde”, mais o Pe. Olavo, concluindo as tarefas que não conseguiram finalizar
no mês de janeiro. Três profissionais da Saúde muito competentes e carismáticos
que proporcionaram um pouco de bem-estar para o povo da cidade. Fiquei contente
em conhecê-los e espero que possam voltar mais vezes, pois, pelo que falam por
aqui, fizeram um trabalho muito bonito e necessário para o povo. O povo ganhou
materialmente muita coisa e eles, espiritualmente, ganharam muito mais!
Terminamos o dia com um belo trapiche assado na casa das lideranças da
comunidade.
Meu
segundo dia foi de limpezas: Para deixar o quarto com a minha cara – bem
limpinho! – fiz a faxina geral: bate tapete, sabão no banheiro, expulsão das
aranhas e suas teias, troca de cama, colchões, lavagem de roupa... Ufa!
Terminando o dia só me restaria cair na rede e capotar de sono, mas não... Um
“bendito de meu Pai” apareceu com uma irrecusável proposta sinal de wi-fi
grátis... Opa! Essa eu não posso perder... Meu cansaço foi dar uma volta bem
longe e logo me aprontei para descer na praça com o Pe. Chiquinho e pegar essa
raspinha de tacho que muito nos interessa.
Aqui
de fato uma coisa que é bem deficitária é a comunicação. Existe algo, mas muito
precário. Duas operadoras de celular dividem a mesma antena para atender a
população, mas somente podemos contar com uma parte dos serviços: ligação e
sms. Internet 3g ou 4g não vão nem na metade do “gê” que dirá “três gês”... Eu
brinco aqui dizendo que a “três gê” não chega nem nos “dois bê”... Cômico,
porém trágico. Temos telefone fixo sim, mas no mesmo patamar: só ligação... Nem
a velha internet discada tem vez aqui. Dessa forma, as atualizações de
facebook, leitura de e-mails e facilidades de Whatsapp só em momentos esporádicos,
se não houver chuva, claro.
Chuva
é algo que aqui estamos tendo todos os dias, o que deixa o clima bastante
agradável, porém para as pessoas que moram próximas do rio não me parece muito
propícia. Com as cheias dos rios, muitas comunidades do interior não podem ser
atendidas porque não se consegue chegar até elas ou porque muitos têm que se
mudar para casa de parentes, pois a água invade e torna a vida praticamente
impossível: sem água potável, alimentos e terreno para o cultivo de plantação e
criação de animais.
Uma
coisa que me chamou a atenção são as estações do ano: Inverno e Verão. A
Primavera e o Outono são especiarias que não passam por aqui... Agora, por
exemplo, estamos no inverno, porque estamos na época de chuvas e cheias de
rios. Da pracinha principal que temos aqui perto de casa vejo o rio e a balsa
do porto. Dizem que quando é verão, não se vê nem o rio nem a balsa...
(caramba!) estou ligeiramente curioso, mas também com medo, pois vejo muito
bonito o rio aqui quase na minha altura e, imaginar que estou num elevado e que
o rio estará lá em baixo ainda nem consigo imaginar. E o verão é o período da
seca, quando não há chuva, o rio baixa e surge uma praia. Até na placa da praça
diz: ORLA... Vamos ver daqui a alguns meses essa praia que tanto falam...
“...No terceiro dia ele desatou as malas...”
Bom,
agora sim! Quarto limpo, desinfetado, ambientado na cidade e localizado no
mapa, finalmente desfiz minhas malas... Não era muita coisa: uma mochila e duas
sacolas... Por medo não ter como arcar com excesso de peso no aeroporto resolvi
trazer o mínimo e necessário. Praticamente a roupa do corpo e alguns objetos de
mão. Coisas que não me dariam muito trabalho para locomoção e adaptação. Foi
assim que eu vim e assim que vou viver. O essencial que deveria estar aqui, que
sou eu, já está! O resto vem por acréscimo. No final do dia fui à pracinha,
onde assisti a um bonito show de música ao vivo, com a praça lotada de gente.
“...Já era sábado e colocou as mãos na massa...”
Na
verdade, mãos na sopa. No meu primeiro sábado aqui em Itamarati, logo de manhã
cedinho fui com o Joaquim (o “Severino” da paróquia) participar da Celebração
da Vida da Pastoral da Criança na comunidade São José. Com aproximadamente 100
crianças nós pesamos, conversamos, rezamos e tomamos uma deliciosa sopa para
esse momento bonito de vida e comunhão das famílias em prol da vida em
abundância das crianças. Gostei muito de me reaproximar de uma atividade
pastoral que foi minha escola de pastoral lá em Minas Gerais.
No
final do dia presidi minha primeira Celebração da Palavra na Comunidade São
Francisco e participei do encontro da PJ... Diverti-me muito!
“...O dia do Senhor...”
Com
o Domingo finalizo minha partilha: Feliz com a vitória do meu Vascão sobre o
Botafogo e feliz com a participação lotada da Comunidade Paroquial neste
domingo do Bom Pastor, quando fui apresentado à comunidade e provisionado
Ministro da Palavra e da Eucaristia nesta paróquia onde vou partilhar a vida
com o Padre Francisco Carnaúba.
Faço
votos de que a caminhada daqui seja profícua: que tenhamos a coragem necessária
para mudar aquelas coisas que somos capazes e a humildade suficiente de
resignificar o que não pudermos. Por fim, conto com vossas orações pelo Pe.
Chiquinho e por mim. Confiamos nossas vidas à mãe da Salette, nossa patrona,
que nos ajude a viver a missão com amor e carinho, fazendo tudo o que o seu Filho,
o Bom Pastor, nos disser. Amém, aleluia!
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