Jo 15,9-17: Permanecei no meu amor
Desde o começo do evangelho de João
nos é dada uma chave de leitura muito importante para entendermos o texto. É
quando a Mãe de Jesus diz aos servidores: “Façam tudo o que ele vos disser!”
(Jo 2,5). Assim, ao longo do evangelho de João, Jesus vai fazendo longos
discursos em que vai repassando aos seguidores e seguidoras as suas propostas e
seus mandamentos. Neste capítulo 15 temos mais um destes discursos. Este inicia
com a parábola da videira (Jo 15,1-6). A parábola de abertura ressalta a
estreita ligação entre os ramos e o tronco. Quem estiver “unido ao tronco”,
produzirá frutos. Quem não estiver “unido ao tronco”, será cortando e jogado
fora. O que significa então “estar unido ao tronco”? E que frutos são estes? Segue então o discurso catequético de Jesus aos discípulos.
A ligação entre a pessoa e Jesus se
faz através da acolhida e da prática da sua Palavra. Esta prática cristã a
partir da Palavra de Jesus são os frutos que demonstram o discipulado e o
seguimento. Permanecer no amor de Jesus, acolhendo e obedecendo às suas
palavras, é estar no mesmo caminho de Jesus em sua relação com o Pai: “Assim
como eu venho cumprindo os mandamentos de meu Pai e me mantenho no seu amor”.
Esta adesão dos discípulos às palavras de Jesus não é forçada, como a antiga
Lei era imposta pelo sistema farisaico, mas na total liberdade. Esta liberdade
em acolher as palavras de Jesus e colocá-las em prática é demonstração da
verdadeira amizade.
Jesus se revela o verdadeiro amigo.
“Ninguém tem maior amor do que aquele que entrega sua vida por seus amigos.”
Amar é entregar-se. Esta entrega aos outros vai gerar a verdadeira alegria. A
vida em comunidade torna visível este sinal de amizade. Permanecer no amor é
perseverar na proposta comunitária. O amor se concretiza em atos e gestos. Amor
é serviço. Assim como a abertura e acolhimento das Palavras do Pai gera a
estreita união entre Pai e Filho, da mesma forma a comunidade cristã aberta e
acolhedora das palavras de Jesus deve unir-se em comunhão de amizade e de
serviço. Por isto mesmo este discurso é colocado pelo evangelista depois do
episódio do lava-pés e da Ceia comunitária (Jo 13,1-30). Lá Jesus tinha se
apresentado como “Mestre e Senhor” (Jo 13,13) lavando os pés de seus amigos e
amigas. Não existe amizade se na comunidade não houver humildade e serviço
mútuo.
Terminando estas palavras sobre amor,
serviço e amizade, Jesus repete novamente seu mandamento: “Que vos ameis uns
aos outros” (Jo 15,17). Este mandamento torna-se a condição para que alguém
permaneça “unido ao tronco” e produza frutos. O amor do Pai se manifestará nos
frutos que a comunidade (os ramos) apresentar em fidelidade aos mandamentos de
Jesus. Jesus ensina que a única maneira de permanecermos unidos e unidas a Deus
está em acolhermos seu mandamento de amor. Surge assim o verdadeiro rosto da
comunidade cristã: amigos e amigas, gente unida em Cristo, amando e servindo ao
ponto de entregar sua vida por amor. Vivendo assim a comunidade se tornará um
sinal de presença de Deus no meio do mundo. Este laço de amizade deve encorajar
os discípulos e discípulas de Jesus a enfrentar as incompreensões de um mundo
que rejeita esta proposta de amor com violência.
Francisco
Orofino
http://www.cebi.org.br/noticias.php?secaoId=1¬iciaId=5620
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