sábado, 27 de abril de 2013

Solidariedade com a República Centro-africana


"Minha própria vinha eu não posso cuidar…"

“Sou morena, mas sou formosa, mulheres de Jerusalém!...  Não me olheis com desdém por eu ser morena... Meus irmãos irritaram-se comigo e me puseram de guardiã das vinhas, mas minha própria vinha eu não pude guardar...” (Ct 1,5-6).

Estas frases do poema bíblico conhecido como Cântico dos Cânticos foi o fio de inspiração para o encontro de oração organizado mensalmente pelos Promotores de Justiça, Paz e Integridade da Criação (PJPIC), na Igreja São Marcelo, em Roma, na última sexta-feira (26.04.2013).  A realidade concreta proposta como matéria de oração foi a vida do povo da República Centro-africana.

O que está acontececendo na República Centro-africana?

A República Centro-africana tem uma população de quase quatro milhões e meio de habitantes e está localizada no centro geográfico do continente africano. É um país rico em recursos naturais (especialmente ouro, urânio e diamante), mas é um dos mais pobres do continente. A maioria da população é cristã de várias confissões (80%) e no norte predomina a presença muçulmana.

A República Centro-africana conquistou sua independência política da França em 1960. Mas, como aconteceu com a maioria das ex-colônias, a influência francesa permaneceu muito forte nas décadas seguintes. Em 2003 chegou ao poder o presidente François Bozizé. Em 2007 as forças rebeldes que combatiam o governo central de Bangui, antes dispersas, se aliaram e se concentraram na região norte do país. Isso representou um ato de rebelião contra o presidente Bozizé, acusado de não respeitar o acordo de paz assinado com as forças rebeldes.

No mês de dezembro de 2012 as milícias rebeldes começaram a avançar em direção à capital e conquistaram algumas cidades estratégicas para o comércio do ouro e do diamante. Em março de 2013 as forças rebeldes entraram na capital e depuseram o presidente Bozizé, que fugiu do país. O roubo e a criminalidade em geral tomou conta do país e provocou caos por todo lado. Mais de trinta e sete mil cidadãos tiveram que se refugiar nos países vizinhos.

A tristeza e a dor da África negra

John Baur comenta: “A mulher negra do Cântico dos Cânticos grita de alegria. Mas também grita de angústia quando perde o esposo. Nos últimos anos, parece que o rosto alegre do povo africano foi se transformando no rosto triste da mulher negra que chora tantos filhos/as vítimas da injustiça, da exploração e da opressão, filhos/as mortos pela fome ou pelas guerras fratricidas. Mas o Cântico termina com a fé invencível da esposa: ‘O amor é mais forte que a morte!’”

Enquanto nós vivemos a alegria do tempo pascal, celebração da vitória da vida sobre o poder da injustiça e da morte, o povo centro-africano é assaltado, violentado, abandonado e arrasapo. Até parece que o sangue deles importa pouco ou vale menos; o que vale mesmo são suas riquezas naturais.  A África inteira foi transformada num teatro de guerra, num continente consumidor de armas, para o lucro de quem as fabrica e comercializa.

A indiferença mata!

Rezar pelo povo da República Centro-africana pode parecer pouco. Mas calar e fazer de conta que não está acontecendo nada é pior ainda.  Num mundo no qual circulam diariamente milhões de informações, o silêncio e a inércia diante daquilo que acontece com os povos africanos é um pecado mais que mortal. Que nossas comunidades cristãs e nossas celebrações sejam caixas de ressonância do clamor dos povos negros e laboratórios onde se desenvolvam iniciativas solidárias e libertadoras.

Itacir Brassiani msf

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