Na câmara de torturas, foi interrogado pelo enviado do
rei. “Quem são os teus cúmplices?”, perguntou o enviado. E Tupac Amaru respondeu: “Aqui não há outro cúmplice além de você e
de mim. Você, por ser opressor, e eu, por ser libertador, merecemos a morte”.
Foi condenado a morrer esquartejado. Foi atado a
quatro cavalos, braços e pernas em cruz, e não se partiu. As esporas rasgavam
os ventres dos cavalos, que puxavam em vão, e ele não se partiu. Foi preciso
recorrer ao machado do verdugo.
Era um meio-dia de sol ferroz (24.09.1572), tempo de
longa seca no vale do Cuzco, mas o céu ficou negro de repente e se rompeu e
despejou uma chuva dessas que afogam o mundo.
Também foram esquartejados os outros chefes e chefas
rebeldes, Micaela Bastidas, Tupac Catari, Bartolina Sisa, Gregoria Apaza... E
seus pedaços foram passeados pelos povoados sublevados, e foram queimados, e
suas cinzas atiradas ao ar, “para que deles não reste memória”.
(Eduardo Galeano, Espelhos, L&PM, 2008, p. 162)
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