Pe. Ceolin: também um militante
social
O Pe.
Ceolin nós o recordamos principalmente pela sua proverbial humanidade, pela sua
ilimitada capacidade de compreensão e pelo seu zelo pastoral. Ninguém que o
procurasse em busca orientação psicológioca, vocacional ou espiritual, por
maior que fosse a crise, jamais voltava sem uma palavra serena e segura e sem
uma orientação sábia e madura. E mesmo que isso lhe custasse muito, pelo apreço
que cultivava pelas pessoas e pela estima que nutria pela vida cristã,
religiosa e ministerial.
Mas não é
sobre isso que quero deter-me aqui, até porque já o fiz em outros momentos. Aqui
eu gostaria de compartilhar um outro aspecto da sua rica personalidade,
dimensão que talvez tenha sido um pouco menosprezada, dada a relevância e a
proeminência da dimensão humana e espiritual que sempre foi enfatizada: trata-se
da abertura ecumênica e do engajamento social.
Do ponto
de vista doutrinal, ousaria dizer que para o Pe. Ceolin o ecumenismo não era
algo tranquilo e natural. Formado que foi numa perspectiva pré-conciliar,
catolicona e desconfiada em relação às demais confissões cristãs, em muitos
momentos manifestava uma certa reticência na relação positiva com elas.
Entretanto, nos últimos anos, o Pe. Ceolin se esforçou para desenvolver uma
relação construtiva com as Igrejas cristãs de Santo Ângelo. As atividades da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos
(e do informal Conselho Municipal de
Igrejas Cristãs) estavam cuidadosamente registrados na sua agenda. E a
presença e o testemunho da pastora da IECLB de Santo Ângelo nos seus funerais
confirmam isso.
O
engajamento social do Pe. Ceolin é um aspecto mais saliente e conhecido. Não
esqueço suas homilias inflamadas no ano de 1983, quando foi nosso Mestre e
Pároco em Caibi, assim como, naquele tempo e mais tarde, seu apoio aos
movimentos e iniciativas populares e de classe, dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais ao Movimento dos Agricultores Sem Terra. Mas ele teve a coragem de ir
mais fundo e hipotecar seu nome e sua história, ao participar ativamente de
manifestações populares, inclusive tomando a frente, como nalguns casos de
interrupção de rodovias estaduais e federais. Nisso também ele foi mestre e
formador, convocando os formandos a tomar posição junto às classes populares e
aos setores que militavam por mudanças sociais, econômicas e políticas.
Merece
menção também o breve e fecundo período em que o Pe. Ceolin fez parte, no
início dos anos ‘90 – ao lado do Ir. Irio, do Ir. Moacir e do Fr. Julio – da
Comunidade de Inserção São José Operário, no Bairro Nova Gleba, em Porto
Alegre. Este testemunho adquire maior relevância se considerarmos que o Pe.
Ceolin apenas havia superado uma profunda crise existencial e vocacional, que
já era um venerável coirmão com mais de sessenta anos convivendo com três
jovens, e que a inserção em meios populares não era uma opção compartilhada com
tranquilidade por boa parte dos membros da Província. E isso sem falar no
desaprendizado e aprendizado que isso implicava.
Mas seu
engajamento e compromisso social se materializou também ao assumir, no final
dos anos ’90 e início do novo milênio, a missão de Conselheiro Municipal de Saúde de Passo Fundo. Inserido a bem
articulado no Bairro Lucas de Araújo, o Pe. Ceolin foi escolhido como um dos
representantes dos usuários do sistema de saúde no Conselho Municipal de Saúde,
e isso numa cidade com mais de duzentos mil habitantes e que se orgulha de ser
o maior centro médico-hospitalar do interior do Rio Grande do Sul. Me admiro
ainda hoje que ele, ao lado das atividades na formação e na pastoral paroquial,
tenha se dado ao trabalho de assumir uma missão assim exigente do ponto de
vista técnico e social.
Valeria a
pena recolher mais informações, que poderiam oferecer detalhes que
enriqueceriam este pálido retrato desse importante religioso e missionário que
tivemos a graça de conhecer e ter entre nós. Fica o desafio...
Itacir
Brassiani msf
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