domingo, 15 de setembro de 2013

Pobre bispo do povo do mato

A impagável alegria do pastor missionário

Regressei ontem da visita pastoral  à paróquia de Yauareté, na divisa com a Colômbia. Devia falar em português e espanhol, porque os indios travessavam o rio Papuri, que divide os países, e vinham celebrar conosco. Alguns eram convidados para serem padrinhos pois pertencem às mesmas etnias.
O ano que estive na Bolívia me proporcionou o aprendizado do espanhol, além da convivência com os indígenas Inkas. Vou percebendo que Deus vinha me preparando há muito tempo para assumir esta árdua e gratificante missão.
Passei por cachoeiras assustadoras e perigosas. Para disfarçar o medo, e acima de tudo, manifestar total e irrestrita confiança no Pai,  fechava os olhos e rezava a Oração do Abandono. Passado o perigo, salmodiava: "Eu vos louvo, Senhor, porque da morte arrancaste a minha vida e não deixastes os meus pés escorregarem,  para que eu ande na presença do Senhor, na presença do Senhor na luz da vida" (Sl 55,14).
Viajei na companhia do Pe. Nilson, salesiano, pároco de Yauaretê, um casal da Pastoral da Criança e o Seu Paulino, o motorista do barco (ou prático como dizem aqui) da "voadeira" que conhece até onde estão escondidas as pedras traiçoeiras até debaixo das águas. Ele transmitia segurança e confiança a todos nós. Verdadeiro anjo da guarda.
Em algumas comunidades houve batismos, crismas, casamentos e 1ª  Eucaristia. Com o sacramento da reconciliação, eram cinco sacramentos. Numa comunidade houve seis, porque administrei também a unção dos  enfermos.
 A fé, a alegria e a felicidade, que via estampadas no rostos de todos, me emocionavam até às lágrimas. Depois das celebrações, que duravam horas, mas ninguém arredava pé,  havia festa e alegria com partilha de alimentos que todas as famílias levavam. Tudo regado com os gostosos sucos (aqui chamam de "vinho") de pupunha, de graviola, de cupuaçu, de bacaba, de abacaxi e de açaí. Foram dez dias sem telefone, sem Internet, sem notícias. Os índios mais pobres e isolados me ensinam a viver com muito pouco e a ser muito feliz.
Boa notícia é a chegada, nos próximos dias, de quatro médicos do Programa mais Médicos. Já que os médicos brasileiros, formados às custas das verbas públicas, preferem permanecer nos centros urbanos par enriquecer logo, vamos acolher agradecidos os médicos humanitários generosos que vem de outros países. Já estão em Manaus. Quando chegarem em São Gabriel da Cachoeira lhe darei mais notícias.  
Na próxima semana estarei em Manaus participando da Assembléia Pastoral do Regional Norte 1, que abrange as dioceses do Amazonas e Roraima. Abraço e beijo dominical no Amor misericordioso do Pai que nos acolhe sempre.
+ Edson Damian
Pobre bispo do povo do mato

(Bispo de São Gabriel da Cachoeira – AM)

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