Advento:
colocar-se a caminho e fecundar o cotidiano.
Maria, a mãe de Jesus, nos recorda que sem gravidez não ha nascimento!
Advento, Natal tempos litúrgicos à sombra de gravidez, de nascimentos. Os
evangelhos da infância são páginas de mulheres e crianças. E essa é uma
grande novidade! Nas pequenas coisas, nos pequenos há o mistério da Boa
Notícia. Mulher e criança são o cotidiano, nos relembram uma realidade ausente
da economia, da política, da religião. Cueiros pra lavar, papas para preparar,
joelhos machucados... A cotidianidade monótona, mas é aí que está presente o
mistério que nos faz borbulhar de alegria (cf. Lc 1,39-56).
Entrar na casa, saudar, abraçar... Duas mulheres se encontram: uma
anciã, outra jovem. A mesma experiência: esperam um filho em situação incomum.
A anciã talvez precise de ajuda por causa de sua gravidez de risco. A jovem
necessita ser acolhida, busca conselhos, pois espera um filho e não é casada,
teve que sair às pressas de sua aldeia. O encontro não precisa de palavras para
expressar dúvidas, temores, angústias, medos, esperas, esperanças... A anciã
acolhe, a jovem serve. Na casa, o cotidiano da vida, o inesperado da
vida. É na cotidineidade da vida, que acontece o novo.
Bendita mãe, bendito filho! Bendizer, ben-dizer, dizer-o-bem. Então,
Advento significa se colocar a caminho para bem-dizer as pessoas, a sociedade, o
universo. Maria é bendita porque carrega o fruto bendito: dirá e fará o
bem em sua vida. Dizer-o-bem da vida é dar à vida um sentido novo, um novo
rumo. Às vezes dizemos que vivemos um tempo maldito, em um mundo
maldito. Mal-dizer é dizer e fazer o mal. Uma vida que somente tem a dizer o
mal, perdeu o sentido, o rumo, a direção... Maria carrega o fruto bendito
porque Jesus reorienta sua vida, lhe dá um novo sentido, uma nova direção.
Bendita, bendito!... A Boa Notícia está presente na mulher, na
criança. A mulher oferece seu ventre para engravidar a vida, o cumprimento das
promessas, a novidade de vida. Bendita a casa que se faz ventre e engravida a
novidade da vida! Bendita aquela que acreditou! Benditas, benditos aqueles e
aquelas que acreditam que o impossível é possível! Crer é diferente de ter
fé. Fé fala de ideias, doutrinas, dogmas. Crer é um verbo é um agir.
Crer que as mudanças estão acontecendo no cotidiano, na escolha dos estilos de
vida que podem transformar esta vida maldita em via bendita.
Frente à realidade nos sentimos imponentes. Nos sentimos pequenos,
inúteis, assim como Maria e Isabel deviam se sentir. Mas elas acreditaram que,
delas, mulheres a quem a sociedade não dava valor, e em seus filhos ainda para
nascer, as promessas do Senhor teriam que se cumprir. Tiveram olhos para
reconhecer na banalidade e na monotonia cotidiana, em sua situação inusitada,
nos seus pequenos gestos de mulheres, a presença do Senhor que transformava sua
vida, a vida do povo, a história.
Aprendamos com estas duas mulheres a viver o Advento de modo cristão.
Maria sonha caminhos, Isabel vislumbra bênçãos. Ambas sabem conjugar
perfeitamente a fé vivida e proclamada nos templos e praças com o amor, o
serviço e a espera tecidos ponto a ponto nos tricôs e crochês do cinzento
cotidiano que preparam as roupinhas daqueles que elas esperam e amam. Elas
sabem olhar para o próprio ventre alargado num abraço acolhedor e ler nele os
sinais de um amor fiel que perpassa as gerações, apesar dos nossos limites e
infidelidades.
Vamos a Belém, vamos com Isabel e Maria.
O que importa é se colocar a caminho!
Se no lugar de um Deus patriarcal encontrarmos
a fragilidade de uma criança, da quotidianidade,
não pensemos ter errado o caminho!
Deus-Conosco é presente nas humilhadas da história,
nas silenciadas pelas culturas, nas negadas pela religião,
nas que defendem a vida.
Coloquemo-nos
a caminho!
Vamos
à busca, sem incerteza
nem medo,
semeadores
e semeadoras de esperança.
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