sexta-feira, 7 de agosto de 2020

O Evangelho dominical (Pagola) - 09.08.2020


CAMINHAR SOBRE A ÁGUA

São muitos os crentes que se sentem hoje expostos à intempérie, desamparados no meio de uma crise e de uma confusão geral. Os pilares sobre os quais tradicionalmente se apoiava a sua fé foram violentamente sacudidos nas suas raízes.
A autoridade da Igreja, a infalibilidade do papa, o magistério dos bispos, já não podem sustentá-los nas suas convicções religiosas. Uma linguagem nova e desconcertante chegou aos seus ouvidos, criando mal-estar e confusão, antes desconhecidos. A falta de acordo entre os sacerdotes e até entre os próprios bispos mergulhou-os na confusão.
Com maior ou menor sinceridade, são muitos os que se perguntam: Em que devemos acreditar? Quem devemos ouvir? Que dogmas devemos aceitar? Que moral precisamos considerar? E são muitos os que, não podendo responder a estas perguntas com a certeza de outros tempos, têm a sensação de estar perdendo a fé.
No entanto, não podemos confundir nunca a fé com a mera afirmação teórica de algumas verdades ou princípios. Certamente a fé implica numa visão da vida e numa peculiar concepção do ser humano, sobre a sua tarefa no mundo e o seu destino final. Mas ser crente é algo mais profundo e radical, e consiste, antes de tudo, numa abertura confiante a Jesus Cristo como sentido último de nossa vida, critério definitivo de nosso amor pelos nossos irmãos e irmãs e esperança última do nosso futuro.
Por isso pode-se ser um verdadeiro crente e não ser capaz de formular com certeza determinados aspectos da concepção cristã da vida. E pode-se também afirmar com absoluta segurança os diversos dogmas cristãos e não viver entregue a Deus em atitude de fé.
Mateus descreveu a verdadeira fé ao apresentar Pedro, que caminhava sobre a água aproximando-se de Jesus. É isso que significa acreditar. Caminhar sobre a água e não sobre terra firme. Apoiar a nossa existência em Deus e não nas nossas próprias razões, argumentos e definições. Viver sustentados não pela nossa segurança, mas pela nossa confiança Nele.
José Antonio Pagola
(Tradução Antonio Manuel Álvarez Perez)

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