quinta-feira, 2 de setembro de 2021

O Evangelho dominical (Pagola) - 05.09.2021

ABRIR-NOS A JESUS

A cena é bem conhecida. Apresentam a Jesus um homem surdo que, como resultado da sua surdez, mal consegue falar. A sua vida é uma desgraça. Só se ouve a si próprio. Não pode ouvir os seus parentes e vizinhos. Não pode conversar com os amigos. Tampouco pode escutar as parábolas de Jesus ou compreender a sua mensagem. Vive preso na sua própria solidão.

Jesus leva-o com consigo e concentra-se no Seu trabalho curador. Insere os dedos nos seus ouvidos e procura vencer essa resistência que não o deixa ouvir ninguém. Com a sua saliva, humedece aquela língua paralisada para dar fluidez à sua palavra. Não é fácil. O surdo-mudo não colabora, e Jesus faz um último esforço. Respira profundamente, lança um forte suspiro olhando para o céu em busca da força de Deus, e depois grita ao doente: «Abre-te!».

Aquele homem sai do seu isolamento e, pela primeira vez, descobre o que é viver escutando os outros e conversando abertamente com as pessoas. Todos ficam admirados: Jesus faz tudo bem, como o Criador, «faz ouvir os surdos e falar os mudos».

Não é por acaso que os Evangelhos narram tantas curas de cegos e surdos. Estes relatos são um convite a deixar-se trabalhar por Jesus para abrir bem os olhos e ouvidos à Sua pessoa e à Sua palavra. Discípulos surdos à Sua mensagem serão como «gagos» a anunciar o Evangelho.

Viver dentro da Igreja com uma mentalidade aberta ou fechada pode ser uma questão de atitude mental ou de posição prática, quase sempre fruto da própria estrutura psicológica ou da formação recebida. Mas quando se trata de abrir-se ou fechar-se ao Evangelho, o assunto é de importância decisiva.

Se vivemos surdos à mensagem de Jesus, se não entendemos o Seu projeto, se não captamos o seu amor pelos que sofrem, encerrar-nos-emos nos nossos problemas e não escutaremos os das pessoas. Mas então não saberemos anunciar a Boa Nova de Jesus. Deformaremos a Sua mensagem. A muitos será difícil entender o “nosso evangelho”. Não necessitaremos abrir-nos a Jesus para nos deixarmos curar da nossa surdez?

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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