sexta-feira, 5 de novembro de 2021

O Evangelho dominical (Pagola) - 06.11.2021

A FELICIDADE DE JESUS

Não é difícil traçar o perfil de uma pessoa feliz na sociedade do tempo de Jesus. Seria um homem adulto e saudável, casado com uma mulher honesta e fértil, com filhos do sexo masculino e terras ricas, cumpridor da religião e respeitado na sua cidade. O que mais se podia pedir?

Certamente não era este o ideal que animava Jesus. Sem esposa nem filhos, sem terra nem bens, percorrendo a Galileia como um vagabundo, a Sua vida não respondia a nenhum tipo de felicidade convencional. O Seu modo de vida era provocador. Se era feliz, o era de forma contra-cultural, ao contrário do estabelecido.

Na verdade, Jesus não pensava muito na Sua própria felicidade. A Sua vida girava mais em torno de um projeto que o entusiasmava e o fazia viver intensamente. Chamava-lhe “reino de Deus”. Aparentemente, era feliz quando podia fazer os outros felizes. Sentia-se bem ao devolver às pessoas a saúde e a dignidade. Achava bom restaurar as pessoas para a saúde e dignidade que lhes tinha sido arrebatada injustamente.

Jesus não procurava o Seu próprio interesse. Vivia criando novas condições de felicidade para todos. Não sabia ser feliz sem incluir os outros. A todos propunha critérios novos, mais livres e radicais para criar um mundo mais digno e feliz.

Acreditava num Deus feliz, o Deus criador que olha para todas as suas criaturas com amor profundo, o Deus amigo da vida e não da morte, mais atento ao sofrimento das pessoas do que aos seus pecados.

A partir da fé nesse Deus, Jesus quebrava os esquemas religiosos e sociais. Não pregava “Felizes os justos e piedosos, pois receberão o prémio de Deus”. Não dizia “Felizes os ricos e poderosos, porque contam com a sua bênção”. O Seu anúncio era desconcertante para todos: “Felizes os pobres, porque Deus será a sua felicidade”!

O anúncio de Jesus soa mais ou menos assim: “Não procurem a felicidade na satisfação dos vossos interesses ou na prática interesseira da vossa religião. Sejam felizes trabalhando de forma fiel e paciente por um mundo mais feliz para todos”.

José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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