quinta-feira, 11 de novembro de 2021

O Evangelho dominical (Pagola) 14.11.2021

 AS PALAVRAS DE JESUS NÃO PASSARÃO

Os sinais de desesperança nem sempre são inteiramente visíveis, pois a falta de esperança pode disfarçar-se de otimismo superficial, ativismo cego ou secreta indiferença.

Por outro lado, são muitos as pessoas que não reconhecem sentir medo, tédio, solidão ou desesperança porque, de acordo com o modelo social vigente, presume-se que um homem que triunfa na vida não pode sentir-se sozinho, aborrecido ou temeroso.

Erich Fromm, com a sua habitual perspicácia, afirmou que o homem contemporâneo está tentando livrar-se de algumas repressões, como a sexual, mas vê-se obrigado a reprimir tanto o medo e a dúvida como a depressão, o tédio e a falta de esperança.

Outras vezes, defendemo-nos do nosso vazio de esperança mergulhando na atividade. Não suportamos estar sem fazer nada. Precisamos estar ocupados com algo para não enfrentarmos o nosso futuro.

Mas a pergunta é inevitável: o que nos espera depois de tantos esforços, lutas, ilusões e problemas? Não temos outro objetivo senão produzir cada vez mais, desfrutar cada vez melhor do que produzimos e consumir mais e mais, até que sejamos consumidos pela nossa própria caducidade?

O ser humano precisa de uma esperança para viver. Uma esperança que não seja um invólucro para a resignação, como a daqueles que arranjam forma de organizar uma vida tolerável o suficiente para aguentar a aventura de cada dia. Uma esperança que não deve ser confundida tampouco com uma espera passiva, que só é, com frequência “uma forma disfarçada de desesperança e impotência” (Erich Fromm). O homem precisa de uma esperança que se mantenha viva, ainda que outras pequenas esperanças se vejam malogradas ou até mesmo completamente destruídas.

Nós cristãos encontramos essa esperança em Jesus Cristo e nas suas palavras, que “não passarão”. Não esperamos algo ilusório. A nossa esperança assenta no fato inabalável da ressurreição de Jesus. Em Cristo ressuscitado atrevemo-nos a ver a vida presente num estado de gestação, como germe de uma vida que alcançará à sua plenitude final em Deus.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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