quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Fatos & Personagens: batismo do Pe. Berthier


“Tu és o filho que amo, motivo do meu prazer!”

Por ocasião do batismo recebido no rio Jordão, Jesus descobre e anuncia que Deus não é somente compaixão (como se isso fosse pouco!): ele é também complacência. A palavra que Jesus ouve poderia ser assim traduzida: “Tu és o filho que amo, o motivo do meu prazer!” Ou seja: Deus compartilha tanto as dores quanto os prazeres dos homens e mulheres, seus filhos e filhas. A humanidade tem tudo a ver com ele.

Pia do batismo do Pe. Berthier, em Chatonnay
É possível que não fosse exatamente esta a compreensão que Pedro e Maria Berthier tinham quando, naquela fria manhã do dia 26 de fevereiro de 1840, levaram o recém-nascido primogênito João à pia batismal, na pequena paróquia de Châtonnay. É lícito presumir que partilhassem da compreensão que predominava na Igreja de então: o batismo é o sacramento que apaga o pecado original e abre ao recém-nascido as portas da Salvação, simbolizadas nas portas da igreja paroquial e na acolhida na Comunidade eclesial.
No livro que escreveu às crianças em 1893, o próprio Berthier revelava, em grandes linhas, essa mesma compreensão. “Quando você veio ao mundo, meu filho, sua alma era feia, desfigurada pelo pecado original que todos trazemos ao nascer, e que é um dos frutos da desobediência de Adão, nosso primeiro pai. Se morremos sem fazer desaparecer esta feiúra, jamais veremos Deus. O que é que lava esta mancha da nossa alma? O batismo! É com água que você lava as mãos, e é com a água do batismo que o padre lava as almas. O batismo lava nossos pecados... E quando a alma é lavada pela graça, a imagem de Deus resplandece nela. Ela se torna o templo do Espírito Santo, e a criança batizada se torna filha de Deus, irmã dos anjos e digna da glória eterna” (J. Berthier, Le livre des petits enfants, 1915, p. 167).
Com um pouco de imaginação, mas sem trair o sentido original das suas palavras, podemos dizer que, para o Pe. Berthier, na celebração do batismo damo-nos conta de que somos belos e bons aos olhos de Deus; de que, apesar de tudo, somos dignos de apreço e não merecemos desprezo; de que Deus tem prazer em fazer em nós sua morada. E, ao mesmo tempo, pelo batismo proclamamos nossa ruptura com a desobediência e fazemos do Evangelho uma espécie de GPS que dá rumo à nossa titubeante caminhada.
Sabemos muito bem que são sempre outras pessoas que experimentam e prometem isso em nome da criança que recebe o batismo. Assim como está nas mãos dos pais a sobrevivência, a saúde física e o crescimento do bebê, também depende deles o crescimento coerente com a fé que eles professaram. E disso Berthier não foi privado. Mais tarde ele mesmo reconhecerá: “Considero uma das maiores graças que recebi do bom Deus o fato de ter me dado uma santa mãe. Ela me formou, me reprendeu e não deixou passar nada em branco. Ela tinha consciência de que, antes de ser mãe, era cristã, e que seu primeiro dever era formar o cristão” (apud. João Maria de Lombaerde, Un apôtre de nos jours, p. 27).
Placa ao lado da Pia batismal do Pe. Berthier
Numa das suas homilias sobre o significado e os frutos do batismo, partindo da força maravilhosa que transforma um simples e bruto bulbo em uma bela e exuberante tulipa, Berthier exclama: “Coisas mais maravilhosas ainda opera a vida ou a alma no corpo humano!... Se uma força natural produz tão grandes resultados, o que diremos de uma força sobrenatural, da vida divina comunicada à alma pela graça?! Esta graça é a vida da alma. Como são felizes as pessoas que a possuem! Neste mundo, os cristãos não se distinguem das demais pessoas, assim como, durante o inverno, não distinguimos as árvores vivas daquelas que estão mortas. Mas, com a chegada da primavera, tudo fica evidente...” (J. Berthier, Le prêtre, vol. I, p. 271).
Fazendo memória do batismo do Pe. Berthier, acolhamos sua exortação: “Recordemos frequentemente as promessas do nosso batismo e examinemos se estamos sendo fiéis a elas.” E sejamos conscientes de que, como uma criança, mesmo estando armada,  não é um soldado, nós também  necessitamos do dinamismo e da luz do Espírito Santo para realizar nossa vocação e nossa missão no mundo (cf. J. Berthier, Le livre des petits enfants, p. 169).

Itacir Brassiani msf

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