“Tu és o filho que amo, motivo do meu
prazer!”
Por
ocasião do batismo recebido no rio Jordão, Jesus descobre e anuncia que Deus
não é somente compaixão (como se isso
fosse pouco!): ele é também complacência.
A palavra que Jesus ouve poderia ser assim traduzida: “Tu és o filho que amo, o
motivo do meu prazer!” Ou seja: Deus
compartilha tanto as dores quanto os prazeres dos homens e mulheres, seus
filhos e filhas. A humanidade tem tudo a ver com ele.
Pia do batismo do Pe. Berthier, em Chatonnay |
É possível
que não fosse exatamente esta a compreensão que Pedro e Maria Berthier tinham quando, naquela fria
manhã do dia 26 de fevereiro de 1840, levaram o recém-nascido primogênito
João à pia batismal, na pequena paróquia de Châtonnay. É lícito presumir que partilhassem
da compreensão que predominava na Igreja de então: o batismo é o sacramento que
apaga o pecado original e abre ao recém-nascido as portas da Salvação, simbolizadas
nas portas da igreja paroquial e na acolhida na Comunidade eclesial.
No livro
que escreveu às crianças em 1893, o próprio Berthier revelava, em grandes linhas, essa mesma compreensão. “Quando você veio ao mundo, meu filho, sua alma era feia, desfigurada pelo pecado original que todos trazemos ao nascer, e
que é um dos frutos da desobediência de Adão, nosso primeiro pai. Se morremos
sem fazer desaparecer esta feiúra, jamais veremos Deus. O que é que lava esta
mancha da nossa alma? O batismo! É com
água que você lava as mãos, e é com a água do batismo que o padre lava as
almas. O batismo lava nossos pecados...
E quando a alma é lavada pela graça, a
imagem de Deus resplandece nela. Ela se torna o templo do Espírito Santo, e
a criança batizada se torna filha de Deus,
irmã dos anjos e digna da glória eterna” (J. Berthier, Le livre des petits enfants,
1915, p. 167).
Com um
pouco de imaginação, mas sem trair o sentido original das suas palavras, podemos
dizer que, para o Pe. Berthier, na celebração do batismo damo-nos conta de que somos belos e bons aos olhos de Deus; de
que, apesar de tudo, somos dignos de
apreço e não merecemos desprezo; de que Deus tem prazer em fazer em nós sua
morada. E, ao mesmo tempo, pelo batismo proclamamos
nossa ruptura com a desobediência e fazemos do Evangelho uma espécie de GPS
que dá rumo à nossa titubeante caminhada.
Sabemos muito
bem que são sempre outras pessoas que experimentam e prometem isso em nome da criança que recebe o
batismo. Assim como está nas mãos dos pais a sobrevivência, a saúde física e o
crescimento do bebê, também depende deles o crescimento coerente com a fé
que eles professaram. E disso Berthier não foi privado. Mais tarde ele mesmo reconhecerá:
“Considero uma das maiores graças que recebi do bom Deus o fato de ter me dado
uma santa mãe. Ela me formou, me reprendeu e não deixou passar nada em branco.
Ela tinha consciência de que, antes de ser mãe, era cristã, e que seu primeiro
dever era formar o cristão” (apud. João Maria de Lombaerde, Un apôtre de nos jours, p. 27).
Placa ao lado da Pia batismal do Pe. Berthier |
Numa das
suas homilias sobre o significado e os frutos do batismo, partindo da força
maravilhosa que transforma um simples e bruto bulbo em uma bela e exuberante tulipa, Berthier
exclama: “Coisas mais maravilhosas ainda opera a vida ou a alma no corpo
humano!... Se uma força natural produz tão grandes resultados, o que diremos de uma
força sobrenatural, da vida divina comunicada à alma pela graça?! Esta graça é a vida da alma. Como são
felizes as pessoas que a possuem! Neste mundo, os cristãos não se distinguem das
demais pessoas, assim como, durante o inverno, não distinguimos as árvores
vivas daquelas que estão mortas. Mas, com a chegada da primavera, tudo fica
evidente...” (J. Berthier, Le prêtre, vol. I, p. 271).
Fazendo
memória do batismo do Pe. Berthier, acolhamos sua exortação: “Recordemos
frequentemente as promessas do nosso batismo e examinemos se estamos sendo
fiéis a elas.” E sejamos conscientes de que, como uma criança, mesmo estando armada, não é um soldado, nós também necessitamos do dinamismo e da luz do Espírito
Santo para realizar nossa vocação e nossa missão no mundo (cf. J. Berthier, Le
livre des petits enfants, p. 169).
Itacir
Brassiani msf
Nenhum comentário:
Postar um comentário