Hoje, 21 de fevereiro, recordo e celebro
agradecido a passagem do 29° de vida presbiteral. Aquele 21 de fevereiro de1987,
na Igreja Santa Lúcia, em Anchieta (SC) já me parece distante no tempo, mas
algumas cenas, experiências, sentimentos, palavras e rostos não se apagaram da
minha memória, e fazem parte da minha história mais profunda, mais
significativa e mais viva.
Naquela época, não conseguia imaginar minimamente
o que significariam quase três décadas de ministério e vida religiosa. Por mais
que me esforçasse, não seria capaz de visualizar as experiências que viveria, as
pessoas que encontraria, os irmãos e irmãs que ganharia, os amigos que perderia
precocemente, as dificuldades que enfrentaria, as alegrias que me seriam
proporcionadas... Ainda bem que a vida é assim!...
29 anos não é uma daquelas cifras
redondas que pedem celebração especial. Mas, transcorrido um certo tempo da
vida, cada ano e cada data merece sua solenidade, sua memória. Não se trata de
festejar com publicidade e destaque, mas de colher a oportunidade para se
retirar e abrigar no interior das melhores experiências vividas, de reencontrar
o amor original e juvenil, de resgatar as utopias límpidas e generosas.
Hoje, com mais que o dobro dos anos que contabilizava
naquela época, tenho menos ilusões e fantasias, acho que sou um pouco menos
ambicioso e menos arrogante, aprendi a duvidar mais que confiar em minhas pretensas
capacidades... Mas posso dizer que uma certeza me foi dada: percorri um caminho
que não trocaria por nenhum outro, respondi a um chamado que enche de luz e de
sentido minha opaca e limitada vida, recebi muito mais do que fui capaz de dar,
e, em termos de crescimento humano e espiritual, o caminho que tenho pela
frente é muito maior do que o percurso feito.
Creio que foi o Espírito que me sugeriu
o texto do Evangelho que iluminou a celebração de ordenação: a parábola do bom
samaritano (Lc 10,25-37). Via nesta cena uma interpelação a fazer-me próximo
daqueles que estão longe, a não me afastar dos pobres e necessitados por nenhum
pretexto, mesmo os mais piedosos, a ser mais gente que funcionário ou
sacerdote.
Bem, estes 29 anos me ensinaram que esse
é um ideal tão bonito quanto difícil, e que a contradição é uma constante na
vida presbiteral e missionária. Conforta-me perceber que tenho sido agraciado
pela experiência de muitas pessoas queridas terem se aproximado de mim para
socorrer-me em minhas fraquezas, corrigir-me em meus erros, despertar-me das minhas
ilusões, carregar-me nos braços ou nas costas, hospedar-me em suas casas, encarregarem-se
das despesas... São eles, em primeiro lugar, meus coirmãos de Congregação, mas
também tanta gente anônima e simples, desinteressada. Sim, nessas pessoas, é
Jesus, o bom e belo samaritano, que vem se fazendo meu próximo e me tratando
com todo cuidado, pagando os custos da minha pobre vida.
Inspirado no poeta e cantador
Gonzaguinha, proclamo: Vivo sem ter vergonha de ser feliz. Canto a alegria de
ser um eterno aprendiz. Mesmo sabendo que minha vida deveria ser bem melhor e muito
mais generosa, e será, eu repito: é linda demais a aventura de quem percorre os
caminhos de Jesus de Nazaré!
Itacir Brassiani msf
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