domingo, 7 de fevereiro de 2016

ANO C – QUARTA-FEIRA DAS CINZAS – 10.02.2016

Cuidar da casa comum é responsabilidade de cada um!

O período quaresmal se abre como um tempo de convergência de forças na busca do essencial, como um convite a voltar a Deus de todo o coração, a vencer a tendência à fragmentação e à indiferença, a verter todas as as energias para o único objetivo realmente decisivo: acolher a oferta de reconciliação que o próprio Deus nos faz; refazer as relações fraternas e avançar na construção de uma sociedade justa. E, neste ano, a Campanha Ecumênica da Fraternidade nos chama à responsabilidade pelo cuidado da terra, nossa casa comum, com uma atenção particular ao saneamento básico em benefício de todos.
Escrevendo aos cristãos de Corinto, Paulo sublinha que o próprio Deus toma a iniciativa de refazer a sua aliança conosco e superar a ruptura que provocamos com a sua proposta: em Jesus Cristo, ele reconciliou definitivamente consigo o mundo e cada um de nós. É deste dom incondicional, desta amizade reatada unilateralmente, que brota para nós a exigência de reconciliação com o Pai e com os irmãos e irmãs. Para os cristãos, isso não é algo secundário, mas uma tarefa essencial. É coisa para hoje, para agora! “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação!”, sublinha São Paulo.
A tradição das comunidades cristãs privilegiou três ações para expressar a mudança de direção e a convergência de forças que marcam o tempo quaresmal: a esmola, a oração e o jejum. Mas, em relação a estas práticas de piedade, Jesus Cristo pede vigilância e auto-crítica, pois nem mesmo estas ações estão livres da falsificação e do faz-de-conta. Por mais piedosos que pareçam, estes gestos podem ser motivados apenas pela busca de aprovação, de estima e de reconhecimento e, então, nos afastam da lógica de Deus, pois ele espera de nós mais justiça que piedade. “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca!”
Em relação à tradição da esmola, Jesus não a descarta, mas também não se entusiasma ingenuamente. De fato, ele questiona a motivação e a disposição com a qual costumamos dar esmola. “Não mande tocar trombeta na frente... Que a sua mão esquerda não saiba o que a sua direita faz...” O sentido autêntico da esmola é a solidariedade e a partilha daquilo que temos com as pessoas mais necessitadas que nós. Mais que dar daquilo que sobra ou não faz falta, a esmola deve ser partilha aquilo que é fruto da terra e do trabalho da humanidade e que, por isso mesmo, pertence a todos.
A maioria das religiões vê a oração como uma privilegiada expressão de fé e de comunhão com a divindade. E não faltam pregadores que insistem na necessidade de rezar muito, de multiplicar terços, ladainhas, missas e promessas. Mas Jesus insiste mais na qualidade e na motivação que na quantidade da oração.  Para ele, a oração é abertura radical a Deus e à sua vontade; superação dos estreitos limites dos nossos gostos, preferências e necessidades; diálogo íntimo e amigo com Aquele que quer nosso bem e que não descansa enquanto todos os seus filhos e filhas não vivem plenamente.
Quanto ao jejum, hoje ele está de novo na moda, e recebe o simpático nome de dieta. Mas quem a pratica está muito preocupado consigo mesmo – com  a saúde ou com a aparência – e pouco interessado na compaixão e na partilha. No tempo de Jesus, muitas pessoas usavam o jejum, sinal de arrepedimento e de mudança, para impressionar os outros e aumentar a influência e o poder sobre eles. Como cristãos, precisamos resgatar o sentido pedagógico do jejum: fazer experiência da própria vulnerabilidade e participar solidariamente das necessidades dos irmãos e irmãs.
Na espiritualidade quaresmal, o jejum, a esmola e a oração estão a serviço do fortalecimento para combater todas as formas de mal, da nossa conversão ao tesouro do reino de Deus, da renovação da nossa vida em todas as suas expressões. E isso se mostra cotidianamente na abertura humilde e reverente a Deus,  na consciência da interdependência em relação aos nossos irmãos e irmãs, na luta permanente para superar a indiferença e o pragmatismo interesseiro que pode guiar as igrejas e religiões em suas relações com a sociedade civil e o estado brasileiro.
Deus da vida, da justiça e do amor, Tu fizeste com ternura o nosso planeta, morada de todas as espécies e povos. Tu queres a humanidade e as Igrejas convivendo como uma grande família, na qual estão incluídas também as demais criaturas. Ajuda-nos a sermos cuidadores de um jardim que reflita claramente a harmonia, a diversidade e a comunhão que desejas desde sempre. E dá-nos assumir, na força da fé e em irmandade ecumênica, a corresponsabilidade na construção de um mundo sustentável e justo, para todos. No seguimento de Jesus, com a alegria do Evangelho e com a opção pelos pobres. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Profeta Joel 2,12-18 * Salmo 50 (51) * Segunda Carta aos Coríntios 5,20-6,2 * Mateus 6,1-6.16-18)

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