“Marcas do que se foi, sonhos que
vamos ter...”
Pia Batismal do Pe. Berthier, em Chatonnay |
Todos
sabemos que uma vida não se resume à recordação daquilo que se foi, por
mais que não podemos esquecer impunemente que o passado deixa marcas vivas e
suscita dinamismos no presente. Nossas visitas ao passado servem para
identificar raízes e, mais ainda, para suscitar e alimentar sonhos que,
projetados no futuro, iluminem e orientem o presente. Por isso, recordo o
nascimento do nosso Fundador com o desejo de acolher e dar vida ao sonho dele e
nosso.
Uma das
principais marcas da vida e do ministério do Pe. Berthier é sua atenção
a todos os grupos de pessoas. Ainda jovem, com 23 anos de vida, escreveu
um livro para ajudar as mães cristãs a viverem sua vocação específica e a
educar seus filhos numa perspectiva cristã. E depois não parou mais: escreveu
livros direcionados aos jovens, às jovens, aos homens, às crianças, aos
vocacionados, aos religiosos e religiosas, aos padres... E não cansava de
insistir: uma missão nunca será frutífera se deixar em segndo plano os homens e
as crianças...
Uma
segunda marca desta vida plena de espírito evangélico e amor pela Igreja é a paixão
pela formação à vida religiosa e missionária. A este ministério o Pe.
Berthier dedicou quase três décadas de sua vida. Para dar carne e sangue a esta
paixão, quis conhecer novas experiências, ousou tomar iniciativas inéditas, situou-se
ao lado dos formandos e no nível deles, partilhou com eles os trabalhos, mesmo os
mais duros, fez-se tudo para todos... E sem esquecer o acompanhamento sério e
competente de outras pessoas na realização da vocação.
Quando
jovem diácono da diocese de Grenoble, Berthier sentiu-se seduzido pela vida religiosa,
assim como lhe foi mostrada na pequenez e simplicidade da nascente comunidade
dos Missionários Saletinos. Mais tarde, ressoou no seu grande coração os contundentes
apelos do Papa Leão XIII, que sacudiam a Igreja e pediam um novo despertar
missionário. Mesmo sem jamais ter pisado uma “terra de missão”, a mente e o coração inquieto do Pe. Berthier habitaram todas elas. E ele não descansou enquanto não
reuniu em torno de si um grupo de jovens dispostos a ir "àqueles que estão longe".
Aos 55
anos de idade, e mesmo sem contar com uma saúde robusta, Pe. Berthier deixou sua
França amada e refugiou-se na Holanda, então um oásis do catolicismo, para
realizar seu sonho de formar missionários eoferecê-los às necessidades apostólicas da Igreja. Sendo já
autor de dezenas de livros, sua bagagem não passava de um pequeno baú e uma
sacola. Esta simplicidade, que impressionou um cardeal amigo, prosseguiu e
amadureceu em Grave, onde, até à morte (1908) dividiu com seus discípulos o
refeitório, o dormitório, o trabalho, a sala de estudos, a pobreza e os sonhos, enfim: tudo!...
Serão
estas apenas “marcas do que se foi”, como diz a conhecida canção que entoamos
no final do ano? Ou serão também traços dos “sonhos que vamos ter”, da utopia
que orienta nosso caminhar, quase dois séculos depois? De minha parte, creio
que a atenção às necessidades e possibilidades de cada pessoa e grupo, a paixão
pelas missões, a busca de uma pedagogia inovadora, a simplicidade e a
proximidade em relação ao povo, são preciosos elementos na consolidação da vida
cristã, religiosa e apostólica também no tempo que se chama hoje.
Itacir Brassiani msf
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