Diferentes projetos de Vida
Ao que parece, este texto é a última
meditação de um retiro orientado pelo Pe. Ceolin, provavelmente no finalzinho
da década de 1990 ou início da década 2000. Tenho a satisfação de
disponibilizá-lo no aniversário de ordenação do nosso saudoso coirmão (25.11.1956).

Antes de
registrá-los em definitivo no nosso Diário
de Crescimento, busquemos luzes na carta aos Gálatas, a quem o Apóstolo
Paulo exorta e aconselha – mas ele pensa também em nós! – que vivam segundo o Espírito (cf. Gal 5,13-6,10),
contrapondo este modo de viver à vida
segundo a carne. Para entender esta questão, valemo-nos do livro Vida segundo o Espírito, de Leonardo
Boff.
A vida segundo a Carne
O projeto
de vida segundo a carne e seus imperativos consiste, em primeiro lugar, em
pautar e organizar a vida segundo os cânones do mundo. E isso significa
ganância de acumular, usando os talentos e o saber em vista de ter; e usando
ambos em vista do poder, da fama, do prestígio da auto-idolatração. Em
decorrência natural de tal modo de viver advêm os ódios, as discórdias, os
ciúmes, as invejas, as divisões, as guerras, o roubo, as trapaças, a corrupção,
a exploração, etc. (cf. Gal 5,16-21).
Em
segundo lugar, este projeto de vida significa uma vida planejada em função de si
mesmo: gozo egoístico dos bens; fazer-se senhor das coisas e do mundo;
relações de desfrute egoísta e subserviência quase cega às paixões frente às
pessoas. É disso que decorrem as impurezas, as orgias, a devassidão, toda sorte
de intemperanças, a libertinagem, que é a apropriação e a instrumentalização do
semelhante. Este modo de viver revela uma pessoa fechada sobre si mesma, entrópica. Sua vida é in-vertida (vive para si). Nem vida é, é
morte!
A vida segundo o Espírito
A vida
segundo o Espírito consiste em centrar a vida em Deus; em viver Jesus Cristo,
particularmente o Evangelho, as bem-aventuranças; em buscar e viver a vontade
de Deus. Consiste no humilde e gratuito servir, vivendo para o outro e para o
Reino.
Esta
forma de viver caracteriza-se pela vivência do amor, da alegria, da paz, da paciência,
da bondade, da benevolência, da fé, da mansidão, do domínio de si (cf. Gal
5,22). É disso que nascem a solidariedade, a partilha, a gratuidade, a doação
de si, a fraternidade, a disponibilidade, a justiça, o diálogo, etc.
Passando da idéia à prática
Seria
importante e mesmo necessário desdobrar tudo isso, aplicando-o à vida
consagrada, à vivência dos votos, à vida comunitária, à vida missionária, ao
carisma congregacional, à nossa espiritualidade, à formação inicial e
permanente em todas as suas dimensões, etc.
Perguntemo-nos:
Quando não se vive segundo o Espírito é possível salvar-se? Implantar o Reino
de Deus e a nova sociedade? Chamar de ação pastoral nossas atividades
apostólicas? Optar pelos pobres e excluídos? Realizar uma verdadeira inserção?
Viver fraternalmente, partilhando solidariamente vida e bens?
Sem viver
segundo o Espírito é possível ser família, consolidando o amor matrimonial? Ser
amigo de verdade, ter amizades vitalizadoras e libertadoras? Construir
autênticas comunidades eclesiais de base e trabalhar em equipe? Exercer a
liderança democraticamente? Viver a “política da boa vizinhança” entre paróquias
próximas, entre movimentos e grupos, entre pastoralistas e formadores, entre formandos
e orientadores? É possível suportar avaliações, acolher bem o sucessor? Enfim,
é possível ser discípulo de Jesus?
Pe.
Rodolpho Ceolin msf
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