é preciso conjugar vigilância, criatividade e compromisso.
A festa
de Cristo Rei fará a passagem entre o Tempo
Comum e o Tempo do Advento, com o qual iniciamos o Novo Ano
e preparamos a festa do Natal de Jesus. É uma passagem marcada pela serenidade
que brota da confiança. Mas o tempo dos homens nem sempre segue este ritmo e
este clima. Por mais que os povos pobres trabalhem, poupem e reformem suas
instituições, conseguem muito pouco em termos de desenvolvimento econômico,
humano e social. Esperando a vinda do Cristo Salvador, os cristãos são chamados
a aproveitar as possibilidades de cada momento.
Mesmo que
algumas vozes se levantem e gritem diversamente, Deus confia plenamente na
pessoa humana. E o testemunho mais claro e indiscutível dessa confiança é a
encarnação do próprio Filho de Deus, a assunção plena da nossa condição humana,
com todas as suas tensões e possibilidades. Deus confia a nós não apenas uma
doutrina a ser defendida e ensinada ou uma mensagem a ser transmitida. Ele
coloca em nossas mãos a tarefa de dirigir o curso da história e nela realizar
seu Projeto. Jesus ilustra isso com a parábola dos talentos (ou tarefas), que
nos é oferecida neste domingo.
É o
próprio Deus que chama seus adoradores,
entrega a eles seus bens e espera que cada um corresponda a esta confiança de
acordo com suas próprias possibilidades. “A um ele deu cinco talentos, a outro
deu dois, e ao terceiro, um.” A cada qual de
acordo com a sua capacidade. A confiança do patrão é tão absoluta que ele
viaja sem nenhuma preocupação. Deus sabe em quem coloca sua confiança! O que
ele espera daqueles que nele acreditam? Seria a simples multiplicação de horas
de adoração, de doutrinas abstratas, de leis pesadas e morais estreitas?
Não! Eis
o que ele pede e espera: “Vão e façam discípulos meus em todos os povos! Assim
como o Pai enviou a mim, eu envio vocês!...” Trata-se de anunciar e dinamizar o
Reino de Deus acolhendo os pobres, consolidando a justiça, amando sem
distinção. Deus espera que a confiança depositada em nós dê frutos! É por isso
que Jesus coloca nos lábios do homem anônimo o elogio que o próprio Deus
pronuncia diante dos fiéis que agem responsavelmente: “Muito bem, servo bom e
fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito
mais! Venha participar da minha alegria!”
Confiança
com confiança se paga! Mas a confiança responsável, se mostra na capacidade de
correr riscos, de sujar as mãos e encarnar-se na história, pois é nela que se
esconde e se expande o Reino de Deus. O que Deus nos confia é um fermento, e o
fermento cumpre seu destino somente quando se mistura à farinha e a faz a massa
crescer. O que Deus nos confia é o dinamismo do seu amor, e o amor morre quando
não é transformado em ação. É uma responsabilidade serena e sóbria, mas não passiva!
Infelizmente,
alguns mal-entendidos levam muitos cristãos a atitudes irresponsáveis. Em nome
da defesa da fé, concebem, dão à luz e fazem crescer uma Igreja separada do
mundo, centrada nas doutrinas e leis, seduzida por uma vaga idéia de alma,
enamorada dos poderes elitistas e excludentes. E mais: gastam todas as suas
limitadas forças no resgate de ritos e línguas de um tempo que não existe mais.
Esta atitude é bem representada pelo sujeito que, mesmo tendo recebido sua
parte de responsabilidade, age guiado pelo medo e enterra seus talentos.
Por quê
faz isso? “Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e
ceifas onde não semeaste. Por isso fiquei com medo escondi o meu talento no
chão.” Não passa de medo e preguiça aquilo que ele pensa ser fidelidade ou
responsabilidade diante das coisas sagradas! “Servo mau e preguiçoso”,
sentencia Jesus... Como cristãos temos que enfrentar hoje estes desafios: a encarnação
da fé e da esperança no coração do mundo, nas ações e movimentos culturais,
sociais, políticos e econômicos; e fazer isso sem soberba, como quem deseja
dialogar e colaborar com outros.
Rezemos
com Dom Helder: “Ajuda a Igreja de Cristo
a reencontrar os perdidos caminhos da Pobreza. Ajuda-a na abertura de portas:
que nenhuma seja fechada por ela, mas se abram todos os diálogos e irrompa hora
nova e única para os teólogos, encarregados não só de aprofundar o Vaticano II,
mas de preparar o Vaticano III... Ajuda-nos no esforço de levar à prática as
decisões conciliares, sopro renovador da face da terra. Ajuda-nos a ajudar a
humanidade no acerto do desencontro que a muitos pode parecer mania: o diálogo
entre o mundo desenvolvido e o mundo subdesenvolvido...” Amém! Assim seja!
Pe. Itacir Brassiani msf
(Provérvios
31,10-13.19-20.30-31 * Salmo 127/128 * 1ª Carta aos Tessalonicenses 5,1-6 * Mateus
25,14-30)
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