Prisão de Jesus
(Lc 22,39-53)
Enquanto estava em Jerusalém, Jesus passava o dia ensinando no templo e
pernoitava no monte chamado das Oliveiras (Lc 21,37). Depois de celebrar a ceia
com os doze, nosso texto começa dizendo que, como de costume, foi para o monte
das Oliveiras (Lc 22,39). Só que agora, Judas Iscariotes conhecia o lugar onde
Jesus passava a noite com seu grupo. E Jesus sabia que Judas deixara se
subornar pelos sumos sacerdotes e que estava fazendo o jogo deles para o
entregar.
Nesta, que é a sua noite derradeira, ele está diante de duas opções, uma
vez que está iminente a possibilidade de ser capturado pela cúpula do templo,
sumos sacerdotes e anciãos, amparada pelos comandantes da guarda do templo (Lc
22,52). João lembra que também um batalhão romano reforçava o aparato
repressivo (Jo 18,3). Jesus ainda tinha tempo de desistir do projeto do Pai e
tentar salvar a sua própria pele. E esta foi sua última tentação: Pai, se
quiseres, afasta de mim este cálice (Lc 22,42a). No entanto, ele decidiu ser
fiel até o fim: contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua (Lc 22,42b),
mesmo que essa opção lhe custasse a vida.
Na primeira parte da narrativa (Lc 22,39-46), encontramos Jesus
resistindo contra sua última tentação. E resistiu sozinho, pois nem recebeu o
apoio de seus discípulos, que dormiram em vez de orar com ele, apesar de sua
insistência (Lc 22,40.46). E era preciso muita força para vencer a tentação de
não ser fiel à missão para a qual o Espírito do Senhor o havia ungido (Cf. Lc
4,18-19). Então, solitário e com profunda angústia humana, Jesus busca na
comunhão com o Pai, na oração, as forças para perseverar até o fim e, apesar de
uma situação tão extrema, revelar em suas atitudes o agir do próprio Pai (Lc
22,41.44.45).
Na segunda parte (Lc 22,47-53), uma vez vencida a tentação de desistir,
temos o relato da covarde prisão de Jesus pelas autoridades do templo à noite,
para que o povo nada percebesse (Lc 22,2; 20,19). Judas, com a saudação usual
entre amigos, traiu seu mestre com um beijo, identificando quem deveria ser
preso. Os discípulos reagem com violência. Jesus, no entanto, recusa a
violência e, para além disso, ainda cura o ferimento na orelha do servo do sumo
sacerdote (Lc 22,50-51).
Assim, Jesus mesmo dá o exemplo de amor aos inimigos, de fazer o bem aos
que vos odeiam, de falar bem dos que falam mal de vós e de orar por aqueles que
vos caluniam (Lc 6,27-28). Jesus também desmascara a covardia das autoridades. Se
ele fazia o confronto abertamente no templo, anunciando a verdade do Evangelho,
anciãos, a elite econômica, e sumos sacerdotes, a elite religiosa, entretanto,
fugiam das verdades do Reino para prendê-lo com espadas e paus às escondidas
como se fosse um bandido (Lc 22,52-53). Naquele tempo e ainda hoje, esse é o
comportamento hipócrita de quem está no poder, fazendo tudo para garantir seus
privilégios, sejam religiosos, políticos ou econômicos. Eles acusam de hereges,
terroristas, desordeiros e vagabundos a quem luta por justiça e vida digna para
todas as pessoas.
Para perseverar na fidelidade a Jesus e a seu projeto, além da força da
comunidade que celebra a partilha ao redor da mesa, é fundamental uma vivência
pessoal de oração, de íntima comunhão com o Espírito de Deus, a fim de não
cairmos na mesma tentação de Pedro: ‘Mulher, eu nem o conheço!’ ‘Não, homem, eu
não!’ ‘Homem, não sei de que estás falando!’ (Lc 22,57-60). E quando cedemos
diante das tentações, importa ter a mesma atitude de Pedro, isto é, reconhecer
a queda e mudar de vida (Lc 22,61-62).
Ildo Bohn Gass
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