Messias Crucificado? Que loucura!
A vida
de Jesus, suas ações e ensinamentos extrapolaram o senso comum dos seus
contemporâneos. Suas chocantes parábolas quebravam a lógica dos sacerdotes e
doutores da Lei, faziam pensar, provocavam mudança, geravam resistências. Seu
projeto de “mesa comum” era um paradoxo para a visão legalista da religião do
seu tempo.
Em vez
de preocupar-se com o cumprimento da “lei da pureza” (Lv 11-16), que excluía e
discriminava pessoas como impuras, Jesus proporciona a experiência sagrada da
comensalidade aberta. Homens e mulheres de diferentes posições sociais e
situações pessoais podiam sentar-se juntos e compartilhar o pão. Esta é uma
característica fundamental do Reinado de Deus anunciado e vivenciado na prática
de Jesus.
Este
inédito ministério de Jesus durou pouco. Somente uns três anos, pois desde o
início encontrou uma grande oposição do sistema do templo, que se uniu ao poder
civil e conseguiu prender Jesus, torturá-lo e crucificá-lo. Mas, Deus o
ressuscitou, o levantou da morte, confirmando seu Projeto! A experiência da
ressurreição congrega, na Galileia, os discípulos que se haviam dispersado,
depois do aparente fracasso da Cruz. Surpreendentemente, a voz para esta
articulação era das mulheres (Mc 16,7; Mt 28,8). Com certeza, foi um recomeçar
muito tímido e modesto, este, da comunidade da Galileia.
A Cruz não tem lógica, nem pode ser explicada!
Cerca
de seis anos mais tarde, Saulo entra em contato com a Boa Nova de Jesus, o
Nazareu (At 6,14), através da pregação e do testemunho de Estevão, que
transbordante de sabedoria e dom do Espírito (At 6,10), dava continuidade ao
movimento iniciado por Jesus de Nazaré. Paulo observava o martírio de Estevão,
porém ainda estava preso à lógica do discurso religioso oficial e não se deixou
tocar pelo paradoxo de um Messias Crucificado, de um amor que não se poupa, de
uma gratuidade que se dá totalmente, na liberdade escolhida.
No caminho para Damasco, inicia-se em Saulo um processo de conversão que durou anos. O clímax deste processo acontece na sua dolorosa experiência de fracasso em Atenas. Foi uma profunda experiência de rejeição por parte dos gregos que levou Paulo a resgatar com insistência e convicção a mensagem do Messias Crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos (1Cor 1,23). Mas, que experiência foi essa? Em Atenas, depois de percorrer a cidade e observar aspectos importantes da cultura grega, Paulo preparou com muito cuidado um discurso. Preocupado em gerar um debate que levasse ao conhecimento da boa-nova de Jesus, Paulo elaborou sua fala a partir das regras de retórica dos gregos (At 17,22-31). Mas, não falou da Cruz. Falou somente de Jesus e da sua ressurreição. Para os gregos, que já tinham tantos casais de deuses, o anúncio de Jesus e sua anástasis (ressurreição) não trazia nenhuma novidade! Disseram-lhe: “Até logo! Nós ouviremos você falar disso em outra ocasião!” (At 17,32). Decepcionado, Paulo descobriu que não se pode falar de ressurreição sem falar da Cruz. Descobriu também que a Cruz não tem lógica, nem existem discursos capazes de explicá-la! (At 17,33).
No caminho para Damasco, inicia-se em Saulo um processo de conversão que durou anos. O clímax deste processo acontece na sua dolorosa experiência de fracasso em Atenas. Foi uma profunda experiência de rejeição por parte dos gregos que levou Paulo a resgatar com insistência e convicção a mensagem do Messias Crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos (1Cor 1,23). Mas, que experiência foi essa? Em Atenas, depois de percorrer a cidade e observar aspectos importantes da cultura grega, Paulo preparou com muito cuidado um discurso. Preocupado em gerar um debate que levasse ao conhecimento da boa-nova de Jesus, Paulo elaborou sua fala a partir das regras de retórica dos gregos (At 17,22-31). Mas, não falou da Cruz. Falou somente de Jesus e da sua ressurreição. Para os gregos, que já tinham tantos casais de deuses, o anúncio de Jesus e sua anástasis (ressurreição) não trazia nenhuma novidade! Disseram-lhe: “Até logo! Nós ouviremos você falar disso em outra ocasião!” (At 17,32). Decepcionado, Paulo descobriu que não se pode falar de ressurreição sem falar da Cruz. Descobriu também que a Cruz não tem lógica, nem existem discursos capazes de explicá-la! (At 17,33).
Depois
dessa experiência, Paulo seguiu para Corinto e ficou um tempo sem pregar,
trabalhando como artesão, junto com Priscila e Áquila (At 18,1-4). Ele deve ter
aprendido muito com esta experiência de fracasso, porque faz memória das marcas
que ficaram em seu corpo e em seu estilo de pregação: “Quando fui me encontrar
com vocês, irmãos, não me apresentei com o prestígio da palavra ou da sabedoria
para anunciar-lhes o mistério de Deus. Eu não quis saber de outra coisa, entre
vocês, do que de Jesus Cristo, e Jesus Crucificado. Estive cheio de fraqueza,
receio e tremor entre vocês. Minha pregação nada tinha da linguagem persuasiva
da sabedoria, mas era uma demonstração de Espírito e poder…” (1Cor 2,1-5).
Uma comunidade imatura e dividida.
Mais
tarde, estando já em Éfeso, Paulo ficou sabendo que a comunidade de Corinto
estava dividida, que gostavam de ouvir discursos bem elaborados e que fãs dos
evangelizadores formavam grupos rivais: “Eu sou de Paulo!”, ou “Eu sou de
Apolo!”, ou “Eu sou de Cefas!”, ou “Eu sou de Cristo!” (1Cor 1,12). Sofrendo,
Paulo escreveu uma carta para esta comunidade ainda tão imatura, buscando
mostrar a diferença entre a sabedoria do mundo e a sabedoria da Cruz, sem
ignorar a sabedoria humana, mas apresentando-a como dom de Deus (1Cor 1,21).
Agora,
Paulo foca sua pregação na loucura da Cruz, que é loucura de Deus (1Cor 1,25).
E a loucura de Deus é expressão do seu amor sem limites, manifestado na
humanidade plena do Messias Crucificado. E a loucura de Deus transparece também
na fragilidade das pessoas que formam a comunidade: “Olhem para vocês mesmos,
irmãos! Entre vocês não há muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos,
nem muitos de famílias importantes. Mas, o que é loucura no mundo, Deus o
escolheu para confundir os sábios. E o que é fraqueza no mundo, Deus o escolheu
para confundir o que é forte…” (1Cor 1,26-31). Para a visão do mundo, a paixão
pelo Reino é uma loucura.
Hoje,
quanto mais nos aproximamos de Jesus, através dos Evangelhos, mais percebemos a
paixão que o levou a viver intensamente, descuidado de si, apaixonadamente
entregue ao projeto do Pai, dedicando sua vida ao serviço dos pequeninos, das
pessoas pobres e discriminadas, excluídas do acesso direto a Deus, pelo sistema
do templo. Uma entrega tão intensa que ele nem encontrava tempo para comer.
Seus familiares e amigos chegaram a pensar que ele havia ficado louco: “Quando
os seus tomaram conhecimento disso, saíram para detê-lo, porque diziam: ‘perdeu
o juízo’” (Mc 3,20-21).
Jesus
ama sem medida, é sensível ao sofrimento e deixa-se tocar pela dor das pessoas,
sobretudo das mais frágeis. Ao se encontrar com a viúva que ia enterrar o seu
filho único, Jesus ama aquela mulher desconhecida: “Mulher, não chores!” Quem
ama como Jesus, vive aliviando o sofrimento e secando lágrimas.
Jesus
olhava para a multidão e comovia-se: via seu povo sofrendo, desorientado como
ovelhas sem pastor. Rapidamente, punha-se a curar os mais doentes ou a
alimentá-los com as suas palavras. Quem ama como Jesus, aprende a olhar os rostos
das pessoas com compaixão. Está sempre disponível. Não pensa em si mesmo.
Atende qualquer chamado, toda solicitação, disposto sempre a fazer algo pela
pessoa. Acolhe o mendigo cego, que grita e irrita a todos: “Que queres que faça
por ti?” Com esta atitude anda pela vida quem ama como Jesus.
Jesus
sabe estar junto aos mais desvalidos. Nem mesmo espera que lhe peçam. Cura
doentes, liberta consciências, contagia de amor e confiança em Deus. Mas não
pode resolver todos os problemas daquelas pessoas. Então, dedica-se a fazer
gestos de bondade. Abraça as crianças da rua: não quer que ninguém se sinta
órfão. Abençoa os doentes: não quer que se sintam esquecidos por Deus. Acaricia
a pele dos leprosos: não quer que se vejam excluídos. Assim são os gestos de quem
ama como Jesus. Esta é a loucura que confunde o mundo!
Carlos Mesters e Mercedes Lopes
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