No dinamismo da
Trindade, tudo está conectado com tudo!
A festa da
Santíssima Trindade é um convite a mergulhar no mistério de Deus, a deixar que
ele nos envolva, nos conduza e nos dinamize com sua bondade. Em Deus “vivemos,
nos movemos e existimos” (At 17,28). Deus é o fundamento da vida em todas as
suas expressões, o dinamismo de toda transformação, o horizonte de todo sentido.
Nossa vida se desenrola no Filho, o Caminho; sob o Espírito Santo, o Guia; em
direção ao Pai, Origem e meta. Celebremos e meditemos o mistério de Deus
revelado em Jesus Cristo, conscientes de que falar sobre o mistério de Deus é,
ao mesmo tempo, falar sobre o mistério mais profundo do ser humano.
No evangelho
de hoje, Jesus fala aos discípulos no clima de apreensão que envolve sua última
ceia. Ele não está preocupado em falar sobre Deus de forma abstrata. Seu
objetivo é nos prevenir a respeito das dificuldades que seus discípulos deverão
enfrentar, e encorajar-nos diante das perseguições. Ele sublinha que sua vida e
seu ensino têm consequências que os discípulos ainda não são capazes de
compreender. “Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não sois capazes de
compreender agora.” E acena para o dom do Espírito da Verdade, à luz do qual
eles saberão entender e trilhar o caminho do amor e da compaixão.
Como
discípulos e discípulas, precisamos efetivamente viver, caminhar e nos inspirar
em Deus. Deus é um horizonte e um caminho de bondade, e não uma equação
matemática. Ao elaborar o conceito teológico da ‘trindade’ ou ‘tri-unidade’, a
tradição cristã não está propondo um enigma a ser decifrado, mas afirmando uma
dimensão absolutamente essencial a Deus e à sua criação: a comunhão. Sobre
Deus, precisamos falar em termos de profundidade e de intimidade, e não de
quantidade. Não há porque quebrar a cabeça na tentativa de conjugar as três
pessoas com uma única natureza. Esta não é a questão fundamental!
O conceito
‘trindade’ pretende sublinhar que Deus é mistério de bondosa comunhão que
acolhe, confirma e liberta. E isso é muito importante no contexto de uma
cultura que reduz tudo a fragmentos isolados e a relações fluídas, e de uma
visão de Igreja centrada na autoridade hierárquica e na obediência submissa.
Sendo dinamismo vivo de comunhão e bondade mediante o reconhecimento do outro e
o dom generoso de si, Deus é caminho e imagem de uma humanidade aberta,
relacional e solidária. E chama a Igreja a se organizar como uma comunidade de
dons e ministérios, como mãe que acolhe a todos e não exclui ninguém.
O Espírito da
Verdade, dom que emana da vida de Jesus entregue sem medida, mestre de obras da
criação e criança que encanta o Pai com suas brincadeiras, nos conduz à plena
verdade: tudo é comunhão, tudo está conectado com tudo. Em primeiro lugar, as
coisas animadas ou inanimadas; minerais, vegetais e animais; átomos e células;
elementos químicos e dinamismos físicos. Nada existe em si e para si; tudo
existe em outro e para os outros. Os vínculos e o desejo de comunhão fazem com
que haja um uni-verso, sem frente e verso, sem divisão. Tudo tende a uma coesão
sempre mais forte, sem possibilidade de inversão.
Em segundo
lugar, também a criatura humana é vivificada pelo dinamismo de comunhão:
comunhão de células, de tecidos, de aparelhos (circulatório, respiratório,
reprodutor, digestivo, etc.); de pensamento e sentimento; de corpo e psique...
Tudo funciona em perfeita comunhão e sintonia! Mas há também a comunhão com as
demais criaturas (que pisamos, respiramos, comemos) e com as demais pessoas,
gerações, grupos e culturas. É doença e esquizofrenia pensar e agir como se os
outros fossem dispensáveis, concorrentes ou inimigos. A vida só é possível numa
permanente relação de troca de dons com os outros!
Por fim, há
comunhão sem barreiras entre as diferentes esferas da vida: a vida privada e a
vida pública, a vida na história e a vida na glória, o passado, o presente e o
futuro. O mesmo mistério de comunhão que nos une a Deus como criaturas durante
nossa caminhada histórica será vivido plenamente na glória, anunciará e
antecipará “as coisas futuras”. O Espírito, dom e relação subsistentes, que faz
com que o Pai esteja no Filho e o Filho atue em perfeita sintonia com o Pai,
produzirá e manterá nossa comunhão com ambos e com tudo, enquanto vivermos e
para vivermos, e nos recriará perfeitos na comunhão compassiva, solidária e
recriadora.
Glória a ti, Deus Pai e Mãe, fonte de
todas as formas de vida! O louvor que a ti devemos ressoa na boca dos
pequeninos, pois os lábios dos prepotentes e orgulhosos frequentemente te
insultam, na medida em que humilham, desprezam e condenam os pobres. Glória a
ti, Deus-conosco, libertador de todas as prisões, caminho de vida! Glória a ti,
Espírito Santo, derramado em todas as criaturas como bondade e beleza. Glória a
ti, Deus-comunidade, de quem todos recebem a vida, o movimento e a existência.
Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Nenhum comentário:
Postar um comentário