O ESPÍRITO É DE TODOS
A nossa vida está feita de múltiplas experiências.
Satisfação e decepções, conquistas e fracassos, luzes e sombras entrelaçam na
nossa vida diária, enchendo-nos de vida ou sobrecarregando o nosso coração.
Mas com frequência não somos capazes de perceber
tudo o que há em nós mesmos. O que captamos com a nossa consciência é apenas
uma pequena ilha no mar muito mais amplo e profundo da nossa vida. Por vezes,
escapa-nos inclusive, o mais essencial e decisivo.
No seu precioso livro “Experiência Espiritual”, Karl Rahner
recorda-nos com vigor essa «experiência»
radicalmente diferente que se dá sempre em nós, embora passe muitas vezes
despercebida: a presença viva do Espírito de Deus que trabalha dentro de nosso
ser.
Uma experiência que permanece, quase sempre, como que encoberta por
muitas outras que ocupam o nosso tempo e a nossa atenção. Uma presença que fica
como que reprimida e oculta sob outras impressões e preocupações que se
apoderam do nosso coração.
Quase sempre nos parece que o grande e o gratuito
tem de ser sempre algo pouco frequente, mas quando se trata de Deus, não é
assim. Tem havido em certos setores do cristianismo uma tendência a considerar
essa presença viva do Espírito como algo mais reservado a pessoas escolhidas e
selecionadas. Uma experiência mais apropriada para crentes privilegiados.
Rahner recordou-nos que o Espírito de Deus está sempre vivo no coração do ser humano, pois o
Espírito é simplesmente a comunicação do mesmo Deus no mais íntimo da nossa
existência. Esse Espírito de Deus comunica-se e se dá até onde aparentemente
nada acontece. Ali onde se aceita a vida
e se cumpre com simplicidade a obrigação pesada de cada dia. O Espírito de
Deus continua a trabalhar silenciosamente no coração das pessoas comuns e
simples, em contraste com o orgulho e as pretensões daqueles que se sentem na
posse do Espírito.
A festa de Pentecostes é um convite a procurar a presença do Espírito de Deus em todos nós,
não para apresentá-lo como um troféu que temos em relação aos outros que não
foram escolhidos, mas para acolher a esse Deus que está na origem de toda a
vida, por mais pequena e pobre que nos possa parecer para nós. O Espírito de Deus pertence a todos, porque
o amor imenso de Deus não pode esquecer nenhuma lágrima, nenhum lamento nem
esperança que brota do coração de seus filhos e filhas.
José Antônio Pagola.
Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário