quinta-feira, 6 de junho de 2019

O Evangelho dominical - 09.06.2019


O ESPÍRITO É DE TODOS

A nossa vida está feita de múltiplas experiências. Satisfação e decepções, conquistas e fracassos, luzes e sombras entrelaçam na nossa vida diária, enchendo-nos de vida ou sobrecarregando o nosso coração.
Mas com frequência não somos capazes de perceber tudo o que há em nós mesmos. O que captamos com a nossa consciência é apenas uma pequena ilha no mar muito mais amplo e profundo da nossa vida. Por vezes, escapa-nos inclusive, o mais essencial e decisivo.
No seu precioso livro “Experiência Espiritual”, Karl Rahner recorda-nos com vigor essa «experiência» radicalmente diferente que se dá sempre em nós, embora passe muitas vezes despercebida: a presença viva do Espírito de Deus que trabalha dentro de nosso ser.
Uma experiência que permanece, quase sempre, como que encoberta por muitas outras que ocupam o nosso tempo e a nossa atenção. Uma presença que fica como que reprimida e oculta sob outras impressões e preocupações que se apoderam do nosso coração.
Quase sempre nos parece que o grande e o gratuito tem de ser sempre algo pouco frequente, mas quando se trata de Deus, não é assim. Tem havido em certos setores do cristianismo uma tendência a considerar essa presença viva do Espírito como algo mais reservado a pessoas escolhidas e selecionadas. Uma experiência mais apropriada para crentes privilegiados.
Rahner recordou-nos que o Espírito de Deus está sempre vivo no coração do ser humano, pois o Espírito é simplesmente a comunicação do mesmo Deus no mais íntimo da nossa existência. Esse Espírito de Deus comunica-se e se dá até onde aparentemente nada acontece. Ali onde se aceita a vida e se cumpre com simplicidade a obrigação pesada de cada dia. O Espírito de Deus continua a trabalhar silenciosamente no coração das pessoas comuns e simples, em contraste com o orgulho e as pretensões daqueles que se sentem na posse do Espírito.
A festa de Pentecostes é um convite a procurar a presença do Espírito de Deus em todos nós, não para apresentá-lo como um troféu que temos em relação aos outros que não foram escolhidos, mas para acolher a esse Deus que está na origem de toda a vida, por mais pequena e pobre que nos possa parecer para nós. O Espírito de Deus pertence a todos, porque o amor imenso de Deus não pode esquecer nenhuma lágrima, nenhum lamento nem esperança que brota do coração de seus filhos e filhas.
José Antônio Pagola.
Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez.

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