terça-feira, 18 de junho de 2019

ANO C | TEMPO COMUM | SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI | 20.06.2019


Bendito e louvado seja o Santíssimo e diviníssimo Sacramento!
Cristo se faz sacramentalmente presente na comunidade dos irmãos e irmãs que se solidarizam na partilha do pão e no dom de si mesmos, que se reúnem para celebrar em torno da Palavra e do Pão e fazem memória da doação maior de Jesus e da nuvem de testemunhas que o seguiram. Por isso, a Eucaristia não é algo a ser apenas adorado e exposto publicamente, mas memória do amor de Deus por nós, de um amor que chega ao seu ápice quando se torna em nós comunhão e amor ao próximo. A solenidade de Corpus Christi que hoje celebramos faz brilhar ainda mais a beleza da nossa Eucaristia cotidiana ou dominical.
Voltemos nossa atenção para o Evangelho que nos é proposto para este dia. Pouco antes desta cena, Jesus havia convocado e enviado os Doze com “poder e autoridade sobre todos os demônios e para curar doenças” (Lc 9,1). Quando eles voltam desta espécie de estágio pastoral e missionário, Jesus os leva para descansar, fora do território judaico. Então, os apóstolos contam, animados, o sucesso que haviam experimentado. E mesmo que o lugar deserto, as multidões necessitadas vão atrás de Jesus e dos discípulos. Sem se incomodar com isso, Jesus fala a eles sobre o reino de Deus e cura muitas pessoas doentes.
Mas parece que o repentino e recente sucesso pastoral havia subido à cabeça dos que apenas estreavam como apóstolos. Parece que eles se sentem uma elite especial e separada do povo, um grupo que ocupa um grau hierárquico superior, um grêmio fechado e dotado de poder e autoridade recebida de Deus. Assim, no fim do dia, os Doze se aproximam de Jesus e dão-lhe uma ordem: “Despede a multidão para que possam ir aos povoados e sítios vizinhos procurar hospedagem e comida...” Esqueceram que comunidade cristã existe para dar uma resposta efetiva às angústias e esperanças das pessoas e grupos humanos concretos!
Jesus reage sublinhando, sem meias-palavras, que são eles mesmos que devem cuidar do povo. Jesus não se importa se eles têm ou não provisões suficientes, e pede que organizem o povo em comunidades. Depois de se apropriar dos poucos pães e peixes que os apóstolos guardavam, Jesus, como um pai de família, eleva, abençoa, parte e dá aos discípulos para que distribuam. É possível que aquela multidão necessitada fosse gente excluída do judaísmo, gente que não era sequer considerada pelas autoridades religiosas. Mas é essa gente recebe atenção prioritária da parte de Jesus, e o mesmo vale para a Igreja de hoje!
Com Jesus, termina o tempo do “cada um para si” e começa o tempo do convívio, da partilha e do serviço. Inaugura-se o tempo de comunhão solidária. “Todos comeram e se saciaram.” Depois que os mais vulneráveis forem servidos, a sobra vai para os demais! A atenção dos cristãos é inclusiva e universal, mas dá prioridade aos últimos ou excluídos, e viver a Eucaristia é entrar nesta lógica do dom, da prioridade dos últimos e dos mais frágeis. Diante deste sacramento não devemos dizer “se aproxime quem for digno e estiver preparado”, mas “Senhor, eu não sou digno de participar da tua mesa...”
Santo Tomás de Aquino diz que na Eucaristia temos o “documento do imenso amor de Cristo pela humanidade”, e nela “fazemos memória da altíssima caridade que Cristo demonstrou na sua paixão”. Quando Jesus ordena “façam isso em memória de mim”, não está instituindo um rito a ser repetido com reverência, mas propondo uma forma de vida a ser assumida com coerência. Por isso, a Eucaristia é um sinal sacramental que aponta para algo mais profundo e transcendente: em Jesus, Deus se faz dom por nós, a fim de que a nossa vida adquira forma de dom solidário pelo próximo.
A questão mais importante não a presença real de Jesus no pão mas seu caminho de amor apaixonado e solidário pela humanidade. O ponto crucial não é a transubstanciação do pão e do vinho mas a presença real e contínua de Cristo em nossos gestos de partilha e solidariedade. “Vos sois o corpo de Cristo e, individualmente, sois membros deste corpo”, diz Paulo (1Cor 12,27).  A nossa vocação é sermos o corpo histórico de Cristo no mundo: um corpo feito dom e comunhão, no qual os membros são iguais, diferentes e reciprocamente solidários, e onde os membros mais frágeis são tratados com maior atenção.
Jesus de Nazaré, pão para a vida do mundo! Queremos sair às ruas, movidos por tua sede de comunhão e agradecidos pelo teu amor-doação. Mas não cantaremos “hóstia branca, no altar consagrada...” ou “queremos Deus, homens ingratos”, e sim “entra na roda com a gente também! Você é muito importante! Vem!” E continuaremos: “Muito tempo não dura a verdade nestas margens estreitas demais. Deus criou a vida para ser sempre mais! Comungar é tornar-se um perigo... Viemos pra incomodar!” Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Livro do Gênesis 14,18-20 | Salmo 109 (110)
1ª Carta de Paulo aos Coríntios 11,23-36 | Evangelho de São Lucas 9,11-17

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