terça-feira, 18 de junho de 2019

O Evangelho dominical - Corpus Christi


NO MEIO DA CRISE
Muitas pessoas continuam a sofrer de muitas formas a crise econômica. Não nos devemos enganar. Não podemos olhar para o outro lado. À nossa volta, mais ou menos próximo, encontramo-nos com famílias forçadas a viver da caridade, pessoas ameaçadas de despejo, vizinhos atingidos pelo desemprego, pessoas doentes que não sabem como resolver os seus problemas de saúde ou medicação.
Ninguém sabe muito bem como a sociedade vai reagir. Em algumas famílias, poderá crescer a impotência, a raiva e a desmoralização. É previsível que aumentem os conflitos. É fácil que cresça em alguns o egoísmo e a obsessão pela sua própria segurança.
Mas também é possível que vá crescendo a solidariedade. A crise pode nos tornar mais humanos. Pode ensinar-nos a partilhar mais o que temos e não necessitamos. Podem se fortalecer os laços e ajuda mútua dentro das famílias. Pode crescer a nossa sensibilidade para com os mais esquecidos.
Também as nossas comunidades cristãs podem crescer em amor fraterno. É o momento de descobrir que não é possível seguir Jesus e colaborar no projeto humanizador do Pai sem trabalhar por uma sociedade mais justa e menos corrupta, mais solidária e menos egoísta, mais responsável e menos frívola e consumista.
É também o momento de recuperar a força humanizadora que se encerra na Eucaristia quando é vivida como uma experiência de amor confessado e compartilhado. O encontro dos cristãos, reunidos em cada domingo em torno de Jesus, deve converter-se num lugar de consciencialização e impulso de solidariedade prática.
Temos que agitar a nossa rotina e mediocridade. Não podemos comungar com Cristo na intimidade do nosso coração sem comungar com os irmãos que sofrem. Não podemos partilhar o pão eucarístico, ignorando a fome de milhões de seres humanos privados de pão e de justiça. É uma zombaria dar a paz a uns e outros, esquecendo aqueles que vão ficando excluídos.
A celebração da Eucaristia nos ajudará a abrir os olhos para descobrir aqueles que temos que defender, apoiar e ajudar nesses momentos. Irá despertar-nos da «ilusão da inocência» que nos permite viver tranquilos, ou a movermos e lutarmos apenas quando vemos em perigo os nossos interesses. Vivida todos os domingos com fé, pode-nos tornar mais humanos e melhores seguidores de Jesus. Pode-nos ajudar a viver com lucidez cristã, sem perder a dignidade nem esperança.
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez

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