terça-feira, 25 de junho de 2019

ANO C | TEMPO COMUM | SOLENIDADE DOS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO | 30.06.2019


Nas mãos dos cristãos estão algemas, e não as armas!
Para concluir o mês das festas juninas e dos santos populares, somos convidados a celebrar com reverência o testemunho de Pedro e Paulo, nossos irmãos maiores e colunas que sustentam as comunidades cristãs. Para chegar à vida real destes personagens talvez seja necessário escutar com bastante atenção o testemunho das Escrituras. Se é verdade que Pedro é o primeiro líder dos cristãos e Paulo é o apóstolo dos povos, também é certo que ambos, cada um a seu modo e a seu tempo, foram discípulos de Jesus e passaram por sucessivas crises e dificuldades, provaram a prisão e passaram pelo martírio.
Esqueçamos por um instante a cena contada por Mateus e centremos nossa atenção no acontecimento narrado nos Atos dos Apóstolos. Pedro, o primeiro Papa foi presidiário! “Para que servem as chaves prometidas por Jesus Cristo se não ajudam a soltar as algemas que o prendem ou abrir a porta da prisão, mantida sob rigorosa vigilância?” Pedro estava imerso na penumbra desta e outras perguntas quando uma luz iluminou sua cela, uma mão tocou seu ombro e uma voz ordenou que se levantasse. As algemas caíram, os guardas não viram nada, e a porta que separava a cela da cidade se abriu sozinha...
Paulo, depois de ter sido um fariseu zeloso e violento e de ter acumulado muitos méritos e honras por causa disso, fez a experiência de ser conquistado por Jesus Cristo e, diante do bem supremo desta acolhida gratuita e imerecida, considerou tudo o mais como lixo e déficit na contabilidade da vida (cf. Fil 3,1-14) e se lançou, livre e incansável, no anúncio desta boa notícia, especialmente às pessoas e grupos de origem pagã. O zelo e o ardor que Paulo demonstrara pelo judaísmo se transformou em zelo pela fé e pela autonomia e liberdade recebidas em Jesus Cristo. Com isso, perdeu de vez a tranquilidade.
Esta complexa trajetória de vida atraiu contra Paulo o ódio dos seus irmãos judeus e, por ter sido perseguidor dos cristãos, também a desconfiança dos próprios irmãos na fé. Depois de sucessivos enfrentamentos e perseguições, ele também acabou na prisão. Sendo cidadão romano, exigiu o direito de ser julgado pelo imperador, e foi conduzido a Roma. Mas ninguém conseguiu colocar sob algemas aquilo que o fazia livre: o Evangelho de Jesus Cristo. “Por ele, eu tenho sofrido até ser acorrentado como um malfeitor. Mas a Palavra de Deus não está acorrentada”, escreveu ele ao fiel amigo e companheiro Timóteo (2Tm 2,9).
Pedro e Paulo são filhos, irmãos e pais da fé numa Igreja que confirmou com a vida aquilo que anunciou com as palavras. Pedro, Paulo e os demais cristãos detidos mantêm contato com as suas comunidades de base, inclusive através de cartas, e as comunidades não ficam indiferentes, apesar da crise de fé provocada por uma perseguição feita em nome de Deus e da religião, assim como pelos riscos políticos e sociais que estas relações implicavam. O vínculo entre a comunidade dos discípulos e seus líderes presos se mostra de um modo singelo e comovente no relato dos Atos dos Apóstolos proposto pela liturgia de hoje (cf. 12,1-11).
As escrituras dizem que “enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja orava continuamente por ele.” É neste contexto que Pedro experimenta a presença fiel de Deus também na prisão. Logo que é libertado do cárcere, vai à casa da mãe de João Marcos, onde a comunidade está reunida em oração. Quando Rosa, a mãe de Marcos, abre a porta e vê que é Pedro, é tomada de tanta alegria que acaba deixando-o plantado do lado de fora e vai anunciar a surpreendente e boa novidade à comunidade reunida, a qual pensa que Rosa está doida. Aberta a porta, Pedro entra e conta, entusiasmado, o que havia acontecido.
O que sustenta as Igrejas e comunidades cristãs é o encontro com Deus em Jesus Cristo. É substancialmente isso que o evangelho de hoje nos propõe. Num lugar marcado pelo domínio estrangeiro, Jesus interroga seus discípulos sobre o que pensam dele. E Pedro é o primeiro dentre todos os seguidores a reconhecê-lo e proclamá-lo Messias. Só quem está aberto e sintonizado com a lógica de Deus pode reconhecer a presença de Deus nas ações e palavras deste filho da humanidade e irmão de todos os seres humanos.
Queridos Pedro e Paulo, apóstolos e irmãos na fé! Com vocês aprendemos que crer, confiar, partilhar e anunciar são verbos essenciais na gramática cristã. Ajudem-nos a viver de tal modo que, chegando ao entardecer da existência, também nós possamos dizer: “Chegou o tempo da minha partida. Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.” Suportando os sofrimentos e incertezas presentes, jamais nos envergonhemos ou desanimemos, pois sabemos em quem acreditamos! Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Atos dos Apóstolos 12,1-11 | Salmo 33 (34)
2ª Carta de Paulo a Tmóteo 4,6-18 | Evangelho de São Mateus 16,13-19

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