Espírito Santo:
Dinamismo divino que faz novas todas as coisas!
O derramamento
do Espírito Santo é a culminância da experiência pascal. Como a comunidade apostólica reunida em
Jerusalém, reunimo-nos como assembleia de chamados para pedir que o Espírito
renove em nós os prodígios que realizou no início do cristianismo, esperando
que o Sopro de Deus nos dê respiro e vida, nos ajude a testemunhar e anunciar o
Reino de Deus na língua das diversas culturas, nos ajude a derrubar os muros
que nossos medos e prepotências ergueram, abra as portas das nossas Igrejas
sitiadas pelas leis e dogmas e nos empurre para fora, em ritmo de missão.
O dom e a ação
do Espírito Santo impede que sejamos como
papagaios, repetidores de palavras e discursos que não entendemos. Um dos
primeiros frutos da ação do Espírito Santo é uma palavra nova e viva. Com a
força do Espírito, as pessoas caladas vencem o medo e começam a falar.
Trata-se, antes de tudo, da palavra de protesto que sai da boca dos
marginalizados, de um clamor que reivindica reconhecimento e respeito à própria
dignidade. Mas é também uma palavra profética e uma boa notícia: denuncia as
injustiças praticadas contra os oprimidos e anuncia teimosamente uma nova ordem
social e rompe com as velhas lições.
O Espírito
suscita também uma palavra orante e celebrativa, um cântico novo, que reconhece
e louva a ação libertadora de Deus no coração das pessoas e do mundo. Esta
palavra é despertada por uma compreensão espiritual das Escrituras, não mais
lidas como coisa do passado ou simples doutrina, mas como Palavra viva e plena
de sentido para os homens e mulheres de hoje. Esta palavra nova, suscitada pelo
Espírito, assume a gramática das diversas culturas e anuncia o Reino de Deus de
tal modo que os povos possam compreender na sua própria cultura. “Todos ouviam
na sua própria língua...”
O Espírito
também nos livra da ameaça de sermos fragmentos
desarticulados, perdidos no tempo e no espaço. Ele cria vínculos de amor,
amizade e solidariedade. Onde o Espírito age e é acolhido, as pessoas isoladas
se reúnem, os membros formam um corpo, um povo novo se dá as mãos e caminha.
Cria-se uma comunhão que transcende os indivíduos e o tempo: o Espírito une
pessoas e gerações diferentes numa unidade familiar, étnica e nacional. Reúne
também pessoas e culturas numa comunidade eclesial, centrada na memória de
Jesus de Nazaré, e na comunhão viva entre as diferentes Igrejas cristãs.
A presença do
Espírito Santo é força que nos livra do risco de sermos sempre e apenas escravos, indivíduos que reproduzem, sob
pressão e por medo, as ações determinadas pelos senhores. A experiência do Espírito
Santo nos faz pessoas livres, capazes de agir por iniciativa própria, inclusive
na arena política. Aos macacos fica bem a imitação e a repetição, mas não aos
filhos e filhas de Deus e às comunidades cristãs! O Espírito nos é dado para
superar a condição de escravos e alcançar a condição de filhos e filhas
maiores, livres de todas as tutelas, herdeiros do Reino de Deus. Onde está o
Espírito, ali está a liberdade!
Esta liberdade
não é apenas ‘liberdade de’ algo que oprime, mas também ‘liberdade para’ alguma
coisa nova. O Espírito nos faz livres da dependência das forças da natureza,
dos condicionamentos inconscientes, do poder de persuasão dos meios de
comunicação social, do constrangimento das instituições e sistemas políticos,
econômicos, culturais e religiosos. O Espírito é o Defensor que nos assegura a
liberdade radical e nos possibilita agir sem medos e restrições em favor da
vida dos outros, em vista da criação de uma realidade social nova, baseada na
paz, na liberdade, na cooperação e na solidariedade.
O Espírito
Santo impede também que sejamos mortos-vivos,
pois ele não se coaduna com os sistemas e instituições que impõem silêncio, com
o individualismo narcisista, com a submissão medrosa e com a passividade
omissa. Ele é a força de ação de Deus na história e a força da ação libertadora
de Jesus Cristo. Aos cristãos ele é enviado como dinamismo missionário, como
capacidade de agir no plano do homem novo: partilhar o pão, curar as doenças,
perdoar e acolher os pecadores, anunciar a Boa Notícia aos pobres, desarmar
para amar, percorrer o êxodo missionário. “Envias teu Espírito e assim renovas
a face da terra...”
Vem Espírito Santo, faz em nós tua morada e suscita em nós o desejo de
fazermo-nos dom, de engajarmo-nos na luta para que todos tenham vida. Não
permitas que te aprisionemos na intimidade do coração ou no silêncio dos
templos! Faz com que nossa vida pessoal e eclesial seja semente de liberdade,
de solidariedade e de eternidade. E que o Messias, o Filho do Homem ungido por
ti, seja o Caminho que percorremos, a Verdade que acolhemos e a Vida que
aspiramos ardentemente e promovemos generosamente. Assim seja! Amém!
Itacir
Brassiani msf
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