quinta-feira, 13 de abril de 2023

O Evangelho dominical (Pagola) - 16.04.2023

 ABERTOS AO ESPÍRITO

Não falam muito. Não se fazem notar. A sua presença é modesta e silenciosa, mas são “sal da terra”. Enquanto houver no mundo mulheres e homens atentos ao Espírito de Deus, será possível continuar à espera. Eles são o melhor presente para uma Igreja ameaçada pela mediocridade espiritual.

A sua influência não vem do que fazem ou do que falam ou escrevem, mas de uma realidade mais profunda. Estão retirados em mosteiros ou escondidos no meio das pessoas comuns. Não se destacam pela sua atividade e, no entanto, irradiam energia interior onde quer que estejam.

Não vivem de aparências. A sua vida nasce do mais fundo do seu ser. Vivem em harmonia consigo mesmos, atentos a fazer coincidir sua existência com a força do Espírito que os habita. Sem que eles mesmos percebam, são na terra reflexo do Mistério de Deus.

Têm defeitos e limitações. Não estão imunizados contra o pecado. Mas não se deixam absorver pelos problemas e conflitos da vida. Mergulham uma e outra vez no fundo do próprio ser. Esforçam-se para viver na presença de Deus. Ele é o centro e a fonte que unifica os seus desejos, palavras e decisões.

Basta entrar em contato com essas pessoas para tomar consciência da dispersão e agitação que há dentro de nós. Junto deles é fácil perceber a falta de unidade interior, o vazio e superficialidade das nossas vidas. Eles fazem-nos intuir dimensões que desconhecemos.

Estes homens e mulheres abertos ao Espírito são fonte de luz e de vida. A sua influência é oculta e misteriosa. Estabelecem com os outros uma relação que nasce de Deus. Vivem em comunhão com pessoas que nunca viram. Amam com ternura e compaixão pessoas que não conhecem. Deus os faz viver em profunda união com toda a criação.

No meio de uma sociedade materialista e superficial, que tanto desqualifica e maltrata os valores do espírito, quero recordar estes “homens e mulheres espirituais”. Eles lembram-nos a maior Saudade do coração humano e a Fonte última na qual o ser humano pode saciar toda a sede.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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