ESCUTAR A VOZ DE JESUS
Em setores e grupos da Igreja,
insiste-se mais do que nunca na necessidade de um magistério eclesiástico forte
para dirigir os fiéis no meio da atual crise. Estes apelos não conseguem, no entanto,
travar a sua crescente desvalorização entre amplos sectores de cristãos.
Na verdade, não poucas intervenções dos
bispos provocam reações contraditórias. Alguns elogiam-nas fervorosamente,
outros criticam-nas duramente, e a maioria esquece-as em poucos dias. Enquanto
isso, o Evangelho recorda algumas palavras de Jesus que nos interpelam a todos:
«As ovelhas seguem o pastor porque conhecem a sua Voz».
A primeira e decisiva coisa também hoje
é que, na Igreja, os crentes escutemos «A Voz» de Jesus Cristo em toda a sua
originalidade e pureza, não o peso das tradições nem a novidade das modas, não
as preocupações dos personagens eclesiásticos nem os gostos dos teólogos, não
os nossos interesses, medos ou acomodações.
Isto exige de nós não confundirmos a
voz de Jesus Cristo com qualquer palavra que se pronuncia na Igreja. Não
devemos assumir que em todas as intervenções dos bispos, em toda a pregação dos
sacerdotes, em todo a escrita dos teólogos ou em todas as exposições dos
catequistas, se estamos ouvindo fielmente e unicamente a voz de Jesus.
Existe sempre o risco de enchermos a
Igreja de escritos e cartas pastorais, de documentos e livros de teologia, de
catequeses e pregações, substituindo com o ruído de nossas palavras a Voz
inconfundível de Jesus, o nosso único Mestre. O bispo santo Agostinho
recordava-o frequentemente: «Temos um só mestre. E, sob ele, somos todos condiscípulos.
Não nos tornamos mestres pelo fato de falarmos do púlpito. O verdadeiro Mestre
fala de dentro».
Devemos perguntar-nos se a palavra que
se escuta na Igreja provém da Galileia e nasce do Espírito do Ressuscitado.
Isto é o decisivo, pois o magistério, a pregação ou a teologia devem ser um
convite para que todos e cada um dos crentes escutemos de forma fiel e
inequívoca a voz de Cristo. Só quando aprendemos algo do próprio Jesus é que
nos tornamos seus seguidores.
José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez
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