sexta-feira, 21 de abril de 2023

O Evangelho dominical (Pagola) - 23.04.2023

NÃO FUGIR PARA EMAÚS

Não são poucos os que hoje olham para a Igreja com pessimismo e desencanto. Não é a igreja que eles desejariam: uma Igreja viva e dinâmica, fiel a Jesus Cristo, verdadeiramente comprometida em construir uma sociedade mais humana.

Muita gente vê a Igreja como imóvel e desfasada, excessivamente ocupada em defender uma moral obsoleta que já interessa a poucos, fazendo penosos esforços para recuperar uma credibilidade que parece encontrar-se abaixo do mínimo. Veem a igreja como uma instituição que está aí quase sempre para acusar e condenar, poucas vezes para ajudar e infundir esperança no coração humano. Sentem-na com frequência triste e aborrecida, e de alguma forma intuem – como o escritor francês Georges Bernanos – que um povo triste é o oposto de um povo cristão.

A tentação fácil é o abandono e a fuga. Alguns, faz tempo que o fizeram, inclusive de forma ruidosa: hoje afirmam quase com orgulho acreditar em Deus, mas não na Igreja. Outros vão se distanciando pouco a pouco, na ponta dos pés e sem fazer barulho: sem dizer as razões a quase ninguém, vão se retirando porque foi se apagando o afeto e a adesão de outros tempos.

Certamente seria um erro alimentar nestes momentos um otimismo ingênuo, pensando que virão melhores tempos. Ainda mais grave seria fechar os olhos e ignorar a mediocridade e o pecado da Igreja. Mas o nosso maior pecado seria «fugir para Emaús», abandonar a comunidade e dispersar-nos cada pelos nossos caminhos particulares, afundados em decepção e desencanto.

Temos que aprender a «lição de Emaús». A solução não está em abandonar a Igreja, mas em refazer a nossa vinculação com algum grupo cristão, comunidade, movimento ou paróquia onde possamos compartilhar e reavivar a nossa esperança em Jesus.

Onde homens e mulheres caminham perguntando-se por ele e afogando-se na sua mensagem, aí se faz presente o Ressuscitado. Provavelmente um dia, ao escutar o Evangelho, sintam de novo «arder o seu coração». Onde uns crentes se encontram para celebrar juntos a Eucaristia, lá está o Ressuscitado alimentando as suas vidas. Com certeza, um dia «se abrirão os seus olhos» e o verão.

Por mais morta que possa aparecer diante dos nossos olhos, nesta Igreja habita o Ressuscitado. Por isso também aqui fazem sentido os versos de Antônio Machado: “Pensei que a minha casa estava apagada, revolvi as cinzas... queimei a mão”.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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