domingo, 28 de outubro de 2012

Fatos & memoria


Pixinguinha

Em 1921 anunciaram que o conjunto Os Batutas atuaria em Paris, e espalhou-se a indignação na imprensa brasileira. “O que vão pensar do Brasil os europeus? Acharão que este país é uma colônia africana?”

No repertório dos Batutas não havia árias de ópera, nem valsas, e sim maxixes, lundus, corta-jacas, batuques, cateretês, modinhas e recém-nascidos sambas. Era uma orquestra de negros que tocava coisas de negros.

Os artigos exortavam o governo a evitar tamanho desprestígio. Imediatamente o Ministério das Relações Exteriores esclareceu que Os Batutas não iam em missão oficial nem oficiosa.

Pixinguinha, um dos negros do conjunto, era o melhor músico do Brasil. Ele sabia disso, e o assunto não lhe interessava. Estava muito ocupado, buscando em sua flauta, com endiabrada alegria, os sons roubados dos pássaros.

(Eduardo Galeano, O século do vento, L&PM, 2010, p. 87-88)

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