O Papa João Paulo II ensina que a
promoção dos Direitos Humanos é um dos novos âmbitos da missio ad gentes (cf. Redemptoris Missio, 37). A ONU incluiu o
direito à alimentação entre os Direitos Humanos (cf. artigo 25). É nessa
perspectiva que publico aqui uma série de breves textos sobre o escândalo da
fome e o direito humano à alimentação. São informações e reflexões que
simplesmente traduzo e resumo do recente livro Destruction massive. Géopolitique
de la faim, de Jean Ziegler, relator especial da ONU para o direito à
alimentação, de 2000 a 2008. O livro foi publicado em outubro de 2011, pela
editora Seuil (Paris).
Subnutrição: a fome silenciosa ou invisível.
Existe a fome
silenciosa (silent hunger), ou melhor, a fome invisível: a subnutrição. Ninguém contabiliza as mortes que
ela produz. A imprensa não noticia, as pessoas não falam nem reclamam, mas ela
existe. 1/3 da população mundial não consegue realizar suas potencialidades
psíquicas e intelectuais porque carece de vitaminas e sais minerais. A
desnutrição devasta especialmente as crianças de zero a 5 anos. E a anemia é
uma das suas consequências.
A metade das mortes de crianças com menos de 5 anos no
mundo tem como causa direta ou indireta a subnutrição. Além disso, falta de
vitamina A provoca a cegueira. 40 milhões de crianças sofrem por falta desta
vitamina, e 13 milhões acabam cegas por essa razão todos os anos. A cada 4
minutos um ser humano fica cego, a maioria por deficiência alimentar (cf. p. 51-52).
Não podemos esquecer que a desnutrição e a subnitrição
causam também a destruição psíquica
das pessoas: produzem um cortejo de doenças, que geram angústia, permanente
humilhação, depressão e obsessão pelo dia de amanhã. “Como uma mãe cujos filhos
choram de fome à noite, tendo conseguido por milagre um copo de leite
emprestado pela vizinha, como ela poderá alimentar os filhos no dia seguinte?
Como não enlouquecer? E qual é o pai que, não conseguindo alimentar seus
próprios filhos, não perde a dignidade aos próprios olhos?” (p. 54)
“Uma família excluída do acesso regular a uma
alimentação suficiente e adequada é uma familia destruída. As dezenas de
milhares de camponeses indianos que se suicidaram nos últimos anos ilustram
tragicamente esta realidade.” (54) De novo, para não esquecer ou se acostumar:
“A fome no mundo representa um massacre massivo dos pobres” (p. 48)
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