sábado, 20 de outubro de 2012

Uma destruição massiva: a geopolítica da fome (9)


O Papa João Paulo II ensina que a promoção dos Direitos Humanos é um dos novos âmbitos da missio ad gentes (cf. Redemptoris Missio, 37). A ONU incluiu o direito à alimentação entre os Direitos Humanos (cf. artigo 25). É nessa perspectiva que publico aqui uma série de breves textos sobre o escândalo da fome e o direito humano à alimentação. São informações e reflexões que simplesmente traduzo e resumo do recente livro Destruction massive. Géopolitique de la faim, de Jean Ziegler, relator especial da ONU para o direito à alimentação, de 2000 a 2008. O livro foi publicado em outubro de 2011, pela editora Seuil (Paris).

Subnutrição: a fome silenciosa ou invisível.

Existe a fome silenciosa (silent hunger), ou melhor, a fome invisível: a subnutrição. Ninguém contabiliza as mortes que ela produz. A imprensa não noticia, as pessoas não falam nem reclamam, mas ela existe. 1/3 da população mundial não consegue realizar suas potencialidades psíquicas e intelectuais porque carece de vitaminas e sais minerais. A desnutrição devasta especialmente as crianças de zero a 5 anos. E a anemia é uma das suas consequências.

A metade das mortes de crianças com menos de 5 anos no mundo tem como causa direta ou indireta a subnutrição. Além disso, falta de vitamina A provoca a cegueira. 40 milhões de crianças sofrem por falta desta vitamina, e 13 milhões acabam cegas por essa razão todos os anos. A cada 4 minutos um ser humano fica cego, a maioria por deficiência alimentar  (cf. p. 51-52).

Não podemos esquecer que a desnutrição e a subnitrição causam também a destruição psíquica das pessoas: produzem um cortejo de doenças, que geram angústia, permanente humilhação, depressão e obsessão pelo dia de amanhã. “Como uma mãe cujos filhos choram de fome à noite, tendo conseguido por milagre um copo de leite emprestado pela vizinha, como ela poderá alimentar os filhos no dia seguinte? Como não enlouquecer? E qual é o pai que, não conseguindo alimentar seus próprios filhos, não perde a dignidade aos próprios olhos?” (p. 54)

“Uma família excluída do acesso regular a uma alimentação suficiente e adequada é uma familia destruída. As dezenas de milhares de camponeses indianos que se suicidaram nos últimos anos ilustram tragicamente esta realidade.” (54) De novo, para não esquecer ou se acostumar: “A fome no mundo representa um massacre massivo dos pobres” (p. 48)

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