segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Por uma evangelização nova (5)


Evangelização: como fazê-la nova e autêntica?

A Igreja Católica Apostólica Romana está em compasso de Sínodo. A pergunta que orienta os bispos sinodais (infelizmente, leigos e religiosos são presença absolutamente minoritária, convidados/as especiais) representantes da Igreja dos cinco continentes, é esta: como anunciar o Evangelho de Jesus Cristo de modo novo e adaptado aos homens e mulheres de hoje? Seria desejável que esta pergunta não fosse a inquietação apenas da Sede Apostólica, mas ocupasse um lugar central na pauta de todas as assembléias pastorais, paroquiais ou diocesanas.
Há exatamente 20 anos, o Papa João Paulo II lançava, no contexto dos 500 anos de presença do cristianismo na América Latina e quase que à queima-roupa, a expressão ‘nova evangelização’. Em diversas ocasiões, e com poucas variações, o Papa voltou à questão e deslindou seu significado: uma evangelização nova no seu ardor, nos seus métodos e nas suas expressões. Com o passar do tempo, segundo o Instrumentum Laboris do Sínodo dos Bispos, amadureceu a convicção de que a nova evangelização é um processo di discernimento que soa como exigência e estímulo para toda a Igreja.
As reflexões feitas nas Dioceses, Conferências Episcopais e Institutos religiosos centros Teológicos em preparação a este Sínodo coincidem na compreensão de que “a nova evangelização é a capacidade da Igreja em viver de modo renovado a própria experiência comunitária de fé e de anúncio num contexto de novas situações culturais que despontaram nestes últimos decênios” (IL, 47). A proposta ressoa como um apelo que a Igreja faz a si mesma para concentrar suas energias e se empenhar de forma propositiva neste ambiente culturalmente novo.
Para que esse projeto seja viável, há um ponto de partida irrenunciável: uma leitura crítica e interdisciplinar que ajude a compreender a complexidade do tempo que se chama hoje, suas encruzilhas e possibilidades, as estruturas de pecado e os movimentos de emancipação, os centros de poder e os sujeitos emergentes, enfim: as sensibilidades, necessidades e as reivindicações mais significativas dos homens e mulheres de hoje, das suas religiões, movimentos e organizações. E aqui é preciso ter muito cuidado com leituras simplórias e pessimistas, como se no mundo tudo fosse maldade e pecado, e a Igreja tivesse o único remédio verdadeiro.
Em segundo lugar, para desenvolver uma nova evangelização a Igreja precisa rever sua atitude de fundo diante de um mundo e de uma cultura que conquistaram sua maioridade. O mundo de hoje desconfia de uma pessoa ou instituição que se apresenta como portadora de uma verdade – moral, intelectual, religiosa – definitiva e inquestionável e com a pretensão de impô-la a tudo e a todos. Uma evangelização realmente nova deve estar disposta a estabelecer um diálogo com interlocutores adultos e respeitáveis, pronta a propor e a acolher, a buscar conjuntamente aquilo que é melhor para promover o bom-conviver de todos.
Um terceiro aspecto, pressuposto nas observações acima, é a necessária renovação do método de evangelizar. Numa chave negativa: é totalmente inócuo um método que ignore os desejos e necessidades das pessoas de hoje e parta da moral e da doutrina; não é viável uma evangelização que priorize as celebrações, realizadas quase que exclusivamente nas paróquias; produz poucos frutos ou se mostra estéril uma estratégia centrada nos sacramentos; são frustrantes os resultados de um projeto de evangelização que tenha no clero seu agente protagonista. Em chave positiva: o método deve assegurar o diálogo respeitoso com sujeitos de fé adultos; partir das experiências, desejos e perguntas dos homens e mulheres de hoje; focalizar mais a vida que a doutrina; procurar mais os aspctos e experiências que unem e aproximam que os elementos que divergem e se opõem.
Por isso, estou apreensivo com este Sínodo sobre a nova evangelização. Depois de ter lido os dois Documentos de preparação, fiquei com algumas impressões que me inquietam: a leitura da realidade é eurocêntrica e claramente negativa; os novos sujeitos sociais que emrgem no cenário do mundo não recebem a devida atenção; a dimensão social da fé aparece de forma muito marginal; a Igreja se pensa dona da verdade; não se percebe qualquer tentativa de renovar o método. Espero ser desmentido!
Itacir Brassiani msf

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