domingo, 14 de outubro de 2012

Festa de Nossa Senhora Aparecida, em Roma


Nossa Senhora Aparecida: ilumina a mina escura!

No seu conhecido e inspiradíssimo poema-canção Romaria, Renato Teixeira diz que “é de sonho e de pó o destino de um só, feito eu, perdido em pensamento”. E são tantos os/as que, aqui em Roma ou pelo mundo a fora, são filhos da solidão e viram irmãos e irmãs perderem-se na vida em busca de aventura. Descasaram, jogaram, investiram, desistiram, e nunca viram o rosto da sorte...

São estes brasileiros e brasileiras de corpo e de alma, de sonho e de sofrimento, que se reúnem aos pés da Mãe Negra Aparecida. Eles ouviram dizer, ou intuíram no mais íntimo de si mesmos/as, que nela podem encontrar “paz nos desalentos”. Tendo esquecido até mesmo como se reza, acorrem de todos os lados para mostrar seus olhares, cujo brilho nenhum desespero consegue apagar. E pedem, com a simplicidade do caipira: “Ilumina a mina escura e funda, o trem da minha vida...”

Assim foi hoje aqui em Roma. Uma pequena multidão de brasileiros/as, gente humilde e habituada à saudade e ao sofrimento, (os embaixadores pareciam estranhos no ninho...) percorreu as ruas da ‘cidade eterna’, carregando a Virgem Negra e saudando a Mãe que tem a cor da gente. Depois de 90 minutos de uma caminhada que partiu da Praça Navona (onde está a embaixada do Brasil na Itália) e atravessou o centro histórico de Roma, a peregrinação chegou à igreja Nossa Senhora da Luz, local onde se reúne a comunidade católica brasileira em Roma.

Muitos religiosos e religiosas – brasileiros/as e não brasileiros/as – se juntaram ao s imigrantes brasileiros na festiva celebração presidida pelos cardeais brasileiros Dom João Braz de Aviz e Dom Serafim Fernandes de Araújo e concelebrada por muitos padres. No fim da celebração, o velho templo barroco do século XVI, abriu espaço para uma simples e alegre confraternização.

A perspectiva marcadamente popular tanto da procissão quanto da missa merece ser completada com a profética prece que Dom Helder Camara elevou a Maria na Missa dos Quilombos, em pleno tempo de ditadura militar.

"Mariama, Nossa Senhora, mãe de Cristo e mãe dos homens! Mãe dos homens de todas as raças, de todas as cores, de todos os cantos da Terra. É importante a igreja de teu filho não fique em palavras, não fique em aplausos. Não basta pedir perdão pelos erros de ontem;  é preciso acertar o passo de hoje sem ligar ao que disserem.
Mariama, mãe querida, problema de negro acaba se ligando com todos os grandes problemas humanos, com todos os absurdos contra a humanidade, com todas as injustiças e opressões. Que se acabe, mas se acabe mesmo a maldita fabricação de armas; o mundo precisa fabricar é paz.
Basta de injustiças! Basta de uns sem saber o que fazer com tanta terra e milhões sem um palmo de terra onde morar. Basta de uns tendo que vomitar para comer mais e 50 milhões morrendo de fome num só ano. Basta de uns com empresas se derramando pelo mundo todo e milhões sem um canto onde ganhar o pão de cada dia.
Mariama, Nossa Senhora, mãe querida, nem precisa ir tão longe, como no teu hino. Nem precisa que os ricos saiam de mãos vazias e os pobres de mãos cheias. Nem pobre, nem rico! Nada de escravo de hoje ser senhor de escravos amanhã. Basta de escravos!
Um mundo sem senhores e sem escravos. Um mundo de irmãos e irmãs. De irmãos não só de nome e de mentira. De irmãos de verdade, Mariama!"

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