quinta-feira, 2 de maio de 2013

Palavra & Polêmica


A Palavra do Evangelho que iluminou nossa vida no sábado passado (27.04.2013) foi o texto de João 14,7-14. Nesta passagem, que faz parte de uma comovida catequese que Jesus desenvolve logo depois da ceia e do lava-pés, Filipe, um discípulo do grupo dos Doze Apóstolos, pede que Jesus lhes mostre o Pai. “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!” Jesus já havia deixado claro que é nele que temos acesso ao Pai. “Se me conheceis, conhecereis também o meu Pai... Há tanto tempo estou convosco e não me conheces? Quem me vê, vê o Pai... Crede, ao menos, por causa destas obras...” O problema de Filipe é o problema da Igreja, o nosso problema. Custa-nos aceitar que o Deus que revestimos de infinitude e colocamos no altíssimo nos é dado a conhecer nas ações concretas e no corpo de Jesus de Nazaré. Não é que queremos ver mais; queremos ver outras coisas, menos concretas, mais abstratas e suscetíveis de manipulação; coisas mais doutrinais e menos interpeladoras, como lavar os pés dos companheiros, alimentar os famintos, resgatar a cidadania de quem foi jogado à margem e dar a vida sem reservas. O problema continua e se torna mais sério quando e na medida em que queremos dar a impressão – mais que dar a impressão, queremos afirmar de todas as formas! – que conhecemos Jesus, e fazemos o possível para impô-lo a quem crê diversamente. A tentação da qual não nos livramos é a de fazer Jesus vestir o figurino que de antemão preparamos para ele e de obrigá-lo a fazer aquilo que decidismos em nossas faculdades de teologia e gabinetes doutrinais. Imagino Jesus dirigindo-se a nós e, num tom de lamento, dizendo afirmativamente e não interrogativamente: “Há tanto tempo estou convosco e não me conheces...” Crer nele é fazer aquilo que ele faz, prosseguir sua ação libertadora, entrar no caminho da compaixão revolucionária, armar a tenda dos nossos sonhos e projetos no chão da humanidade ferida e sedenta de vida. O resto é culto às vaidades que passam, serviço aos poderes que oprimem, fuga da responsabilidade que nos torna humanamente maduros/as. Assim, anunciar Jesus não é outra coisa que dirigir nosso olhar às milhares de ações que defendem e promovem a vida e celebrar com incontida gratidão o mistério de transcendência que se esconde no coração da matéria e da história. Pois é nelas que Deus traçou o caminho, é nela que se pronuncia nossa verdade, é nela que se esconde e se multiplica a vida. (Itacir Brassiani msf)

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