domingo, 10 de maio de 2015

A vida na missão MSF em Itamarati

Boas Novas da missão em Itamarati
Nos últimos dias vivemos dois acontecimentos que, ao menos um deles, mexeu com nossa cidade. O Projeto Missionário dos Médicos e Dentistas de Rio Verde, vinculado à Província Brasil Meridional e AMISAFA, tendo como animador Pe. Olavo, que termina sua estadia em Rio Verde/Go e depois vai para Santo Ângelo/RS, movimentou a cidade, paróquia, casa paroquial. Eu estava sozinho quando eles chegaram. Os dois membros do CIMI já haviam partido para seu trabalho nas aldeias e o Ir. Wanderson ainda não havia chegado.
Chegaram no domingo, dia 19 de abril, por volta das 14h30. Lembro que nós estamos duas horas a menos do horário oficial de Brasília. Na paróquia vizinha de Carauari, (também atendida pelos Missionários da Sagrada Família) os Padres Moisés e Neiri e o Postulante França têm o horário de Manaus, que, por sua vez, é uma hora a menos que Brasília. Por causa de questão geográfica (ou coisa que o valha) e por decreto federal, Itamarati (que é a última cidade da Prelazia de Tefé) deverá acompanhar o horário de Rio Branco no Acre. Assim, dentro do estado do Amazonas nós temos dois horários. Fiz esse imenso rodeio para situar melhor o leitor.
Mas, retornando a chegada de três dentistas... Doutoras Thaís e Antônia, Dr. Welington e o Pe. Olavo, uma grande comissão foi buscá-los no aeroporto, pois já haviam estado aqui no mês de fevereiro, quando ainda era pároco o Pe. Firmino. Desta vez vieram apenas para entregar as próteses dentárias que estavam quase prontas para serem destinadas aos candidatos. “E porque não entregaram?” Bom, quando deveriam terminar o polimento do material dentário e realizar os pequenos ajustes quando as pessoas colocassem na boca, na madrugada, um urubu chocou-se com a rede elétrica e aconteceu um grande apagão. Resultado: o motorzinho de polir as próteses queimou e todo trabalho, que foi realizado até de noite, ficou sem possibilidade de ser terminado. Foi uma grande frustração para todos... Por isso, eles voltaram dessa vez para entregar o que era devido a cada pessoa que esperava ansiosa pelos “novos dentes”. Trabalharam segunda, terça e quarta e na quinta bem cedo voltaram para Rio Verde com a certeza do dever cumprido.
Quem está acostumado aos grandes centros, onde é possível essa iniciativa, talvez não perceba a grandeza desse gesto para algumas centenas de pessoas. Lembrei muito do Ceará de 40 anos atrás, onde o surgimento de uma pequena cárie era motivo para extrair um dente, e, se ele se enganasse e extraísse um dente bom por acaso, para não ter problema, extraía o cariado também. A doutora Thaís relatou que numa comunidade rural encontrou uma criança de doze anos já sem os dentes definitivos e naturais. Os pais mandaram extrair todos os dentes para não haver problemas futuros, especialmente neste recanto entre rios e floresta onde nos encontramos.
Espero que não esteja sendo dramático, mas apenas realmente relatando algo que eu não imaginava.  Tendo trabalhado em cidades de meio e grande porte. Aqui vão algumas fotos dos missionários leigos de Rio Verde. E assim foram os dias deste grupo de missionários leigos, profissionais dentistas aqui em Itamarati. Um dos feitos inéditos é que numa noite, o Dr. Welington se vestiu como o palhaço Patati e com balinhas e pirulitos fez a alegria da criançada nas ruas por onde passava. Além desses feitos ainda me ajudaram a fazer limpeza nos arredores e jardins da casa paroquial. Trabalhamos bastante para tornar nossos arredores mais arejados, acolhedores e bonitos.
O segundo acontecimento singular foi à chegada, no dia 21 de abril, do Ir. Wanderson Nogueira-msf para ser meu companheiro Missionário da S. Família e também agente de pastoral.   Estamos ainda num inicio de convivência, mas já temos nossa oração da manhã em conjunto, por volta das 7 da manhã e nos demais momentos, ele vai arrumando seu lugar de moradia. Foi acolhido no domingo e lida a nomeação do bispo como ministro extraordinário da sagrada comunhão eucarística. No sábado, dia 25, fez a celebração da Palavra na comunidade São Francisco de Assis. Estamos listando as pastorais de modo que ele possa acompanhar mais de perto um destes setores... Depois de lida a nomeação ele lembrou que recebeu os graus de leitorato e acolitato e talvez com isso nós pudéssemos pedir ao Bispo um pouco mais de trabalho na igreja.
O fato é que ele chegou e isso me dá um pouco mais de ânimo e companhia na solidão deste recanto da floresta amazônica. Nossa questão de comunicação para fora continua precária. Às vezes consigo um pouco de internet, mas muito na base da camaradagem com algum diretor de escola e assim vai. Alguém me perguntou se eu já estava mais acostumado e respondi que isso ainda vai levar algum tempo. Para quem vivia numa cidade como o Rio de Janeiro, vir para a periferia da imensa floresta amazônica, onde muitos benefícios apenas agora estão chegando é muito difícil. Este é um trabalho de fé, pois Jesus é que nos enviou para atender a todos e também para cumprir nosso carisma de estar perto dos que estão longe. Eu, pessoalmente, não escolheria viver num lugar como este, mesmo sabendo que tem um povo bom e necessitado. Aqui dá para compreender as resistências de praticamente todos os profetas do Primeiro Testamento ante o mandato do Senhor. Mas, como eles, também procuro ir além dos meus gostos e procuro viver da fé. Desculpe o desabafo!
Iniciamos a limpeza da grutinha onde a partir de 1º de maio iremos, todos os dias às 18 horas, rezar o terço. Sexta-feira iniciará a missa em devoção ao Sagrado Coração de Jesus, mesmo sendo memória facultativa de São José Operário. Nas outras sextas-feiras, rezaremos e cantaremos o Ofício Divino das Comunidades. Espero que aos poucos a comunidade vá aderindo. Por enquanto estou fazendo na cidade o que é possível. Ainda não dá para ir pro interior. O barco está com o casco sendo consertado e o bote quebrou uma peça que precisa vir de Manaus. Assim impedido de sair da cidade, vamos arrumando a casa, as pastorais, propondo mais celebrações e dando a formação que os grupos precisam.
Sinto-me um pouco frustrado em relação ao interior, pois queria atender ao menos duas comunidades por mês, mas não dá para ir nadando e os meios de transporte estão em conserto; estes aliás estão saindo por volta aí de uns 25.000,00 em material e mão de obra, só para algumas melhorias. Atender junto com a comunidade de Carauari, demanda um bom planejamento para dispormos de pessoal e também de verbas para tal empreendimento. Mas com saúde, fé em Deus e muita disposição, estamos caminhando.
Dois membros do CIMI que ficaram bom período conosco, viajaram ontem dia 06 de maio. Já estão providenciando adquirir uma casa aqui em Itamarati, pois assim ficam mais próximos das aldeias indígenas as quais dão assistência.   Amanhã, sexta feira, dia 8, começaremos a rezar o Ofício Divino das Comunidades. Assim nossos paroquianos terão mais oportunidades de oração e formação, do jeito que sei fazer. Ir. Wanderson está participando de um curso de culinária de café da manhã regional. Já comecei a saborear as delícias.
Que Nossa Senhora de Fátima e o Sagrado Coração nos ajudem a ir encontrando o caminho certo para realizar nosso trabalho. Fé e disposição para o trabalho não faltam, apesar dos empecilhos. Grande e saudoso abraço a todos os amigos. Nas missas rezo sempre por nossos benfeitores para continuarmos nesta comunhão dos santos. E que Jesus, Maria e José nos abençoem sempre.

Pe. Francisco Ary Carnaúba msf

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