Boas Novas da missão em Itamarati
Nos
últimos dias vivemos dois acontecimentos que, ao menos um deles, mexeu com
nossa cidade. O Projeto Missionário dos
Médicos e Dentistas de Rio Verde, vinculado à Província Brasil Meridional e
AMISAFA, tendo como animador Pe. Olavo, que termina sua estadia em Rio Verde/Go
e depois vai para Santo Ângelo/RS, movimentou a cidade, paróquia, casa
paroquial. Eu estava sozinho quando eles chegaram. Os dois membros do CIMI já
haviam partido para seu trabalho nas aldeias e o Ir. Wanderson ainda não havia
chegado.
Chegaram
no domingo, dia 19 de abril, por volta das 14h30. Lembro que nós estamos duas horas
a menos do horário oficial de Brasília. Na paróquia vizinha de Carauari,
(também atendida pelos Missionários da Sagrada Família) os Padres Moisés e
Neiri e o Postulante França têm o horário de Manaus, que, por sua vez, é uma
hora a menos que Brasília. Por causa de questão geográfica (ou coisa que o
valha) e por decreto federal, Itamarati (que é a última cidade da Prelazia de
Tefé) deverá acompanhar o horário de Rio Branco no Acre. Assim, dentro do
estado do Amazonas nós temos dois horários. Fiz esse imenso rodeio para situar
melhor o leitor.
Mas,
retornando a chegada de três dentistas... Doutoras Thaís e Antônia, Dr.
Welington e o Pe. Olavo, uma grande comissão foi buscá-los no aeroporto, pois
já haviam estado aqui no mês de fevereiro, quando ainda era pároco o Pe.
Firmino. Desta vez vieram apenas para entregar as próteses dentárias que
estavam quase prontas para serem destinadas aos candidatos. “E porque não
entregaram?” Bom, quando deveriam terminar o polimento do material dentário e
realizar os pequenos ajustes quando as pessoas colocassem na boca, na
madrugada, um urubu chocou-se com a rede elétrica e aconteceu um grande apagão.
Resultado: o motorzinho de polir as próteses queimou e todo trabalho, que foi
realizado até de noite, ficou sem possibilidade de ser terminado. Foi uma
grande frustração para todos... Por isso, eles voltaram dessa vez para entregar
o que era devido a cada pessoa que esperava ansiosa pelos “novos dentes”.
Trabalharam segunda, terça e quarta e na quinta bem cedo voltaram para Rio
Verde com a certeza do dever cumprido.
Quem
está acostumado aos grandes centros, onde é possível essa iniciativa, talvez
não perceba a grandeza desse gesto para algumas centenas de pessoas. Lembrei
muito do Ceará de 40 anos atrás, onde o surgimento de uma pequena cárie era
motivo para extrair um dente, e, se ele se enganasse e extraísse um dente bom
por acaso, para não ter problema, extraía o cariado também. A doutora Thaís
relatou que numa comunidade rural encontrou uma criança de doze anos já sem os
dentes definitivos e naturais. Os pais mandaram extrair todos os dentes para
não haver problemas futuros, especialmente neste recanto entre rios e floresta
onde nos encontramos.
Espero
que não esteja sendo dramático, mas apenas realmente relatando algo que eu não
imaginava. Tendo trabalhado em cidades
de meio e grande porte. Aqui vão algumas fotos dos missionários leigos de Rio
Verde. E assim foram os dias deste grupo de missionários leigos, profissionais
dentistas aqui em Itamarati. Um dos feitos inéditos é que numa noite, o Dr.
Welington se vestiu como o palhaço Patati e com balinhas e pirulitos fez a
alegria da criançada nas ruas por onde passava. Além desses feitos ainda me
ajudaram a fazer limpeza nos arredores e jardins da casa paroquial. Trabalhamos
bastante para tornar nossos arredores mais arejados, acolhedores e bonitos.
O segundo acontecimento singular foi à
chegada, no dia 21 de abril, do Ir. Wanderson Nogueira-msf para ser meu
companheiro Missionário da S. Família e também agente de pastoral. Estamos ainda num inicio de convivência, mas
já temos nossa oração da manhã em conjunto, por volta das 7 da manhã e nos
demais momentos, ele vai arrumando seu lugar de moradia. Foi acolhido no
domingo e lida a nomeação do bispo como ministro extraordinário da sagrada
comunhão eucarística. No sábado, dia 25, fez a celebração da Palavra na
comunidade São Francisco de Assis. Estamos listando as pastorais de modo que
ele possa acompanhar mais de perto um destes setores... Depois de lida a
nomeação ele lembrou que recebeu os graus de leitorato e acolitato e talvez com
isso nós pudéssemos pedir ao Bispo um pouco mais de trabalho na igreja.
O fato é que ele chegou e isso me dá um
pouco mais de ânimo e companhia na solidão deste recanto da floresta amazônica.
Nossa questão de comunicação para fora continua precária. Às vezes consigo um
pouco de internet, mas muito na base da camaradagem com algum diretor de escola
e assim vai. Alguém me perguntou se eu já estava mais acostumado e respondi que
isso ainda vai levar algum tempo. Para quem vivia numa cidade como o Rio de
Janeiro, vir para a periferia da imensa floresta amazônica, onde muitos
benefícios apenas agora estão chegando é muito difícil. Este é um trabalho de
fé, pois Jesus é que nos enviou para atender a todos e também para cumprir
nosso carisma de estar perto dos que estão longe. Eu, pessoalmente, não
escolheria viver num lugar como este, mesmo sabendo que tem um povo bom e
necessitado. Aqui dá para compreender as resistências de praticamente todos os
profetas do Primeiro Testamento ante o mandato do Senhor. Mas, como eles,
também procuro ir além dos meus gostos e procuro viver da fé. Desculpe o
desabafo!
Iniciamos a limpeza da grutinha onde a
partir de 1º de maio iremos, todos os dias às 18 horas, rezar o terço.
Sexta-feira iniciará a missa em devoção ao Sagrado Coração de Jesus, mesmo
sendo memória facultativa de São José Operário. Nas outras sextas-feiras,
rezaremos e cantaremos o Ofício Divino das Comunidades. Espero que aos poucos a
comunidade vá aderindo. Por enquanto estou fazendo na cidade o que é possível.
Ainda não dá para ir pro interior. O barco está com o casco sendo consertado e
o bote quebrou uma peça que precisa vir de Manaus. Assim impedido de sair da
cidade, vamos arrumando a casa, as pastorais, propondo mais celebrações e dando
a formação que os grupos precisam.
Sinto-me um pouco frustrado em relação
ao interior, pois queria atender ao menos duas comunidades por mês, mas não dá
para ir nadando e os meios de transporte estão em conserto; estes aliás estão
saindo por volta aí de uns 25.000,00 em material e mão de obra, só para algumas
melhorias. Atender junto com a comunidade de Carauari, demanda um bom
planejamento para dispormos de pessoal e também de verbas para tal empreendimento.
Mas com saúde, fé em Deus e muita disposição, estamos caminhando.
Dois membros do CIMI que ficaram bom
período conosco, viajaram ontem dia 06 de maio. Já estão providenciando
adquirir uma casa aqui em Itamarati, pois assim ficam mais próximos das aldeias
indígenas as quais dão assistência.
Amanhã, sexta feira, dia 8, começaremos a rezar o Ofício Divino das
Comunidades. Assim nossos paroquianos terão mais oportunidades de oração e
formação, do jeito que sei fazer. Ir. Wanderson está participando de um curso
de culinária de café da manhã regional. Já comecei a saborear as delícias.
Que Nossa Senhora de Fátima e o Sagrado
Coração nos ajudem a ir encontrando o caminho certo para realizar nosso
trabalho. Fé e disposição para o trabalho não faltam, apesar dos empecilhos. Grande
e saudoso abraço a todos os amigos. Nas missas rezo sempre por nossos
benfeitores para continuarmos nesta comunhão dos santos. E que Jesus, Maria e
José nos abençoem sempre.
Pe. Francisco Ary
Carnaúba msf
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