quinta-feira, 7 de maio de 2015

SEXTO DOMINGO DA PÁSCOA (ANO B – 10.05.2015)

Jesus Cristo é a perfeita expressão e a medida de todo amor.

Amor é uma palavra à qual damos sentidos muito diferentes. A maioria das pessoas coloca o amor no âmbito dos sentimentos e, com isso, acaba eliminando sua essência. Se é verdade que o Evangelho segundo João dá ao amor fraterno num lugar central no anúncio de Jesus, não podemos esquecer que os evangelhos sinóticos conferem esta mesma centralidade à prática da nova justiça do Reino de Deus. Por isso, é preciso escutar com atenção e acolher com inteligência a proposta que Jesus nos faz na Palavra que a Igreja propõe para este sexto domingo do tempo pascal.
Um caminho que pode nos ajudar a evitar as armadilhas do sentimentalismo é compreender o amor mais como verbo que como substantivo. E quem conjugou o verbo amar em todos tempos, modos e pessoas foi Jesus Cristo. As primeiras comunidades cristãs compreenderam e expressaram isso na primeira carta de João: “Nisto se tornou visível o amor de Deus entre nós: Deus enviou o seu Filho único a este mundo para dar-nos a vida por meio dele.” A pessoa concreta de Jesus de Nazaré, nas palavras que pronunciou e nas ações solidárias que realizou, é a vitrine do amor de Deus no mundo.
Eis como Jesus concretizou o amor: acolheu pecadores e resgatou sua dignidade; compadeceu-se dos famintos e multiplicou pães e peixes; comoveu-se com o sofrimento das pessoas doentes  e deu-lhes condições de plena cidadania; tomou a defesa de mulheres condenadas violentamente pelos próprios homens que as usavam;  atendeu às necessidades de pagãos e estrangeiros, dividindo com eles aquilo que era destinado aos judeus; aproximou-se das pessoas excluídas e sentou-se com elas à mesa; afirmou profeticamente que os últimos da escala social são os primeiros na perspectiva de Deus...
Tudo isso porque Deus é amor, e seu amor não se mostra em suspiros e sentimentos profundos, mas em ações que garantem a quem é diverso o direito de ser e atendem suas necessidades sem impor qualquer espécie de condição. Jesus diz que nos ama na mesma dinâmica e com a mesma intensidade com que é amado pelo seu Pai e nosso Pai. E é nessa força e nesse espírito que nos sentimos chamados e capacitados para amar. O amor de Deus que se tornou visível em Jesus Cristo se torna dom e mandamento. “O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros assim como eu amei vocês.”
Como Jesus nos revelou, a vivência do amor tem mais a ver com decisão e vontade que com sentimento. O sentimento é involuntário e se impõe sobre a vontade, enquanto que o amor é a decisão de fazer-se próximo e servidor de quem é diferente e pode estar precisando de nós. Amar significa bem-querer, bem-dizer e bem-fazer, tudo ao mesmo tempo; é desejo, palavra e ação. É nessa linha que João nos interroga: “Se alguém possui os bens deste mundo e, vendo seu irmão em necessidade, fecha-lhe o coração, como pode o amor de Deus permanecer nele?” (1Jo 3,17)
No evangelho de hoje, Jesus apresenta a si mesmo como medida e referência do amor: “Amem-se uns aos outros assim como eu amei vocês”. Jesus é a medida do amor que inspira os cristãos. Com isso, Jesus quer nos libertar da tentação de colocar nossos desejos como referência essencial para todas as relações. O amor se concretiza no relacionamento de igual para igual, na abolição de hierarquias, senhorios e servidões, na atitude de serviço. O próprio Jesus não nos trata como servos mas como iguais, pois não reserva nada para si mesmo, e comunicar tudo significa confiar irrestritamente.
Mas o amor cristão tem múltiplas dimensões, e uma delas é a dimensão social, apostólica ou missionária. Está muito claro que o amor generoso e intenso com que Jesus nos ama não tem como finalidade criar uma comunidade ou clube de bajuladores ou publicitários que alardeiam suas qualidades divinas.  O amor maduro frutifica em missão solidária e transformadora. A amizade com Jesus se mostra na participação na sua missão. O amor de Jesus Cristo se realiza quando renascemos e agimos como pessoas adultas, capazes de agir orientadas pelas próprias convicções.
Jesus de Nazaré, filho de Deus e filho da humanidade, fonte e medida de todo amor: faz com que teu amor por nós se transforme em amor pelos irmãos e irmãs, e converte tua igreja hierarquica e desigual em comunidade de pessoas amigas e servidoras. Faz com que, inspirados em Paulo, deixemos de ser defensores infantis das instituições e vivamos como testemunhas de um amor despojado, crucificado e renovado. Ajuda nossas autoridades a descobrirem que elas permanecem sempre humanas. Abençoa nossas mães e mantém nelas um amor que gera, sustenta, educa e faz crescer. Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 10,25-26.34-35 * Salmo 97 (98) * 1ª Carta de João 4,7-10 * Evangelho de João 15,9-17)

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