quinta-feira, 14 de maio de 2015

ASCENSÃO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO (ANO B – 17.05.2015)

Testemunhar, comunicar e criar vínculos de comunhão.

A palavra ascensão lembra, num primeiro momento, subida, elevação, distanciamento. Mas expressa também a idéia e a experiência pessoal e social de ser destacado, promovido, reconhecido, reabilitado. É este segundo o sentido original da boa notícia pregada pelos cristãos a respeito de Jesus. Afirmar a ascensão de Jesus Cristo outra uma forma de proclamar sua ressurreição, de afirmar que a pedra rejeitada pelos construtores foi considerada pedra principal, que aquele que foi eliminado como subversivo e maldito é a mais plena expressão de Deus e do ser humano.
Na carta aos cristãos de Éfeso, Paulo manifesta o desejo de que o Espírito Santo lhes revele Deus em sua amável nudez e os ajude a conhecê-lo em profundidade. Conhecer Deus assim como se revelou em Jesus de Nazaré significa reconhecer e assimilar a esperança para a qual Ele nos chama e a herança gloriosa que nos concede: continuar na história sua vida de profeta e servidor; ser seu corpo vivo na história, corpo sob o qual tudo o mais foi colocado e acima do qual nada de significativo existe, fora o próprio mistério de Deus. E isso sem fugir do mundo ou imaginar que Jesus esteja fora dele...
Mas nunca é demais lembrar que a vida cristã é muito mais que desejo ou contemplação extática da plenitude celeste. A pergunta que os anjos fazem aos apóstolos inertes ressoa hoje aos nossos ouvidos e espera uma resposta: “Por que vocês estão aí parados, olhando para o céu?” Os discípulos de Jesus Cristo não podem permanecer na simples contemplação de alguém que subiu ao céu, mesmo que este alguém seja o próprio Jesus Cristo. A ascensão de Jesus Cristo não significa o fim da sua presença no meio de nós. Ao contrário, é o início da missão em seu nome, sob a guia do seu Espírito.
A Palavra de Deus deixa isso bastante claro. “Vão pelo mundo inteiro e anunciem a boa para todas as pessoas”. A liturgia da ascensão focaliza esta responsabilidade intransferível da comunidade cristã. Convictos de que o Crucificado foi exaltado, vencemos o medo e tornamo-nos testemunhas de Jesus Cristo no coração do mundo e nos pulmões da história. E sabemos que testemunhar significa afirmar e trilhar o caminho do amor serviçal e solidário, trazer no corpo as marcas de Jesus Cristo: amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu...
A Palavra de Deus atesta também que a ascensão de Jesus Cristo não é um distanciamento em relação aos seus discípulos e discípulas, uma fuga do mundo e dos seus desafios. Antes, é a identificação plena de Jesus com Deus, sua inserção plena no mundo. E isso não é algo que tem a ver apenas com Jesus de Nazaré: ele é o primogênito de muitos irmãos e irmãs, a cabeça de um corpo composto de muitos e variados membros. À glorificação do primogênito segue-se a honra dos seus irmãos e irmãs. À elevação da cabeça segue-se o reconhecimento da dignidade daqueles que realizam sua vontade...
Na festa da ascensão, que inclui o mandato a evangelizar, a Igreja católica celebra o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que neste ano tem como tema comunicação e família. Na sua mensagem para a data, o Papa Francisco lembra que vivendo juntos e cotinianamente em família, experimentamos as limitações próprias e alheias, os pequenos e grandes problemas da coexistência e dos acordos. Por isso, a família é o primeiro lugar onde aprendemos que comunicação é diálogo que tecido com a linguagem do corpo e que tem como meta a aproximação, o encontro, o cultivo de vínculos.
No Brasil, a ascensão de Jesus também abre Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que une fiéis católicos e evangélicos numa mesma e intensa prece. Para nós, cristãos católicos, já soou o tempo de deixar a lamentação e a negação fas estatísticas que mostram a diminuição do percentual de católicos e o crescimento do índice de cristãos evangélicos. Do ponto de vista do Evangelho, não interessa o crescimento numérico deste ou daquele segmento cristão, mas que Jesus seja conhecido e seguido, que os cristãos dêem testemunho de unidade e ajudem a construir uma sociedade fraterna e solidária.
Jesus de Nazaré, sacramento do abraço entre o céu e a terra, profeta de um mundo sem senhores e sem escravos: depois de termos acompanhado tua discreta manifestação aos discípulos e a missão que confias a quem te segue, queremos hoje contemplar teu pleno reconhecimento pelo Pai. Ajuda-nos a entender que é porque abriste mão de todo e qualquer privilégio para te fazeres humano e igual à menor das criaturas que teu nome é incomparável e diante de ti se dobram todos os joelhos. E ajuda-nos a compreender que é descendo, amando e servindo nossos irmãos que seremos tuas testemunhas. Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 1,1-11 * Salmo 46 (47) * Carta aos Efésios 1,17-23 * Evangelho de S. Marcos 16,15-20)

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