quinta-feira, 11 de junho de 2020

ANO A | TEMPO COMUM | DÉCIMO-PRIMEIRO DOMINGO | 14.06.2020


A compaixão é origem, suporte, dinamismo e meta da missão!
Depois do convite dirigido a Mateus, e depois da confraternização simbólica com os pecadores na sua casa, Jesus faz uma peregrinação através do santuário das dores e esperanças humanas, anunciando a Boa Notícia do Reino a jovens que morriam antes do tempo, mulheres vergadas sob o peso de doenças incuráveis, cegos e mudos mutilados em sua cidadania... Trata-se de uma peregrinação, e não de uma viagem turística! Em Jesus, Deus não quis fazer um simples passeio no mundo, mas assumir a fundo nossa condição humana.
Andando pelos caminhos empoeirados da Galileia, Jesus não tem pressa. Ele vê e contempla a realidade e as pessoas profunda e demoradamente. Ele olha de frente e a partir de dentro a realidade humana e social, e seu olhar não tem nada de passividade, e menos ainda de indiferença ou julgamento. É um olhar comprometido e capaz de ver, por traz dos rostos tristes e dos corpos encurvados, as feridas provocadas pelas relações e instituições violentas e opressoras.
O olhar de Jesus não identifica apenas doentes terminais, mortes inexplicáveis ou cegueiras causadas por espíritos maus. Ele não vê também apenas uma multidão indiferenciada e anônima, sem rosto e sem nome. Ele vê gente cansada e abatida, um povo sem líder e sem guia. Um povo cansado é um povo sem esperança e sem ânimo. Um povo abatido é um povo espoliado e defraudado. Um rebanho sem pastor é um coletivo desorientado e indefeso. Para Jesus, faltavam líderes verdadeiros e comprometidos com a busca de saídas.
Diante do cansaço e do abatimento de um povo humilhado, as entranhas maternas de Deus tremem, e ele revela sua capacidade de sofrer com seus filhos e filhas. Deus rejeita como indigna e pecaminosa toda forma de indiferença frente à dor das suas criaturas. E é esta compaixão que está na origem da missão de Jesus, e a sustenta até o fim. O que dizer daquelas que ao invés de usar máscaras protetoras usam venda nos olhos e, diante de mortes que contamos aos milhares, perguntam: “E daí? E eu com isso?” E mostram mais preocupação com o fechamento de CNPJ’s que com a morte de CPF’s, quero dizer, de cidadãos concretos?
Diante da imensa tarefa de anunciar a Boa Notícia de um Deus misericordioso e mostra sua presença através de ações libertadoras, Jesus se vê pequeno. “A colheita é grande e os trabalhadores são poucos...” Jesus sublinham a disparidade entre a grandeza da tarefa e a pequenez do seu grupo, e nos estimula a pedir mais colaboradores. Mas oração dirigida ao Pai deve ser o ponto final de um empenho profundo e pessoal para identificar, despertar, motivar e formar homens e mulheres generosos/as e engajados/as na sua missão.  Ele divide com seus discípulos capazes de compaixão a responsabilidade de curar enfermidades e dissipar espíritos que escravizam as pessoas.
A partir desse modo de ver a realidade, Jesus prossegue estabelecendo uma prioridade aos seus escolhidos: “Vão primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel”. Trata-se de priorizar o povo de Israel, abandonado pelos próprios pastores: doentes, cegos, coxos, loucos, estrangeiros, mulheres, crianças, pecadores. E é por causa dessa prioridade histórica que ele recomenda não entrar na casa dos pagãos e nas cidades dos samaritanos. Os/as discípulos/as não poderiam fazer tudo ao mesmo tempo! Mas, depois dessa prioridade cronológica, virão outros grupos sociais e religiosos necessitados.
Vivemos hoje numa sociedade de comunicação globalizada, e temos clara consciência de que os apelos que solicitam nossa alma missionária são múltiplos e globais. E são desafios maduros, como campos prontos para a colheita, que correm o risco de se perderem. Responder honradamente a estes desafios não é responsabilidade que pode ser assumida apenas por esta ou aquela congregação religiosa, por uma ou outra Igreja cristã. Esta é uma missão que convoca e compromete todos os cristãos, e todos os homens e mulheres de boa vontade, aqueles/as que sentem uma devoradora fome e sede de justiça.
Jesus de Nazaré, peregrino no santuário das nossas dores e esperanças, irmão primogênito das Mulheres e Homens Novos! Cumprindo a decisão do coração do teu e nosso Pai, não levas em conta nossos limites e os méritos que não temos, e nos tornas amigos de Deus, criaturas novas e reconciliadas. Que prova de amor essa de dar tua vida por nós, sem levar em conta nossos débitos! Ensina-nos a compaixão que comoveu teu coração, abriu teus olhos, afinou teus ouvidos, moveu teus passos, iluminou tua inteligência e fortaleceu tua vontade. E ajuda-nos a permanecer neste caminho, identificando e despertando pessoas de boa vontade que se encantem e se consumam na tarefa de levar adiante tua missão. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Livro do Êxodo 19,1-6 | Salmo 99 (100)
Carta de Paulo aos Romanos 5,6-11 | Evangelho de São Mateus 9,36-10,8

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